A mesma cena se repetia diariamente: uma menina sentada no banco da praça.
Sem ninguém.
Sem alguém.
Sem a si própria.
Uma menina sentada, com as mãos sobre o colo e um olhar perdido no nada.
Faça chuva ou faça sol.
Todos os dias.
Na mesma hora.
No mesmo lugar.
Uma menina de cabelos bagunçados e de alma apagada.
E ninguém que parasse para ajudar.
— Olhe quem está ali outra vez! – uma velhinha cutucou a outra enquanto passavam, como todos os dias, frente àquela praça.
— Quem? – a segunda velhinha ajeitou os pequenos óculos sobre os olhos para poder enxergar melhor. – Ah! De novo ela ali?
— Não é triste? – a primeira sussurrou no ouvido da outra, sem tirar os olhos da melancólica menina sentada no banco. – Tão jovem! Ela deve ter quase 21 anos e, ainda assim, não sente qualquer apelo pela vida. Olhe nos olhos dela! É visível, é visível pra quem quiser ver. Ela se comporta como se tudo tivesse terminado quando apenas começou a viver! É tão, tão triste!
— Sim, é mesmo triste… Mas o que podemos fazer, não é verdade?
— O que ela está esperando? – a primeira velhinha ignorou a amiga e continuou analisando a pobre menina solitária. – Faz dias que está ali, imóvel, como se fosse uma estátua de pedra congelada pela vida. – observou com a voz triste e recheada de piedade.
— Quem sabe? – a segunda velhinha soltou um suspiro, pensando no assunto. – Talvez esteja esperando um ônibus que irá levá-la para longe ou alguém capaz de curar seu coração. Ou talvez esteja apenas esperando que alguém lhe estenda a mão e lhe dê atenção. Vai saber! Esses adolescentes de hoje em dia!
— Ela não é mais adolescente, Martha! Ela já tem quase 21!
— Como se isso fosse atestado de maturidade! Ora, essa! – falou com certo desprezo a segunda senhora. – Aliás, por que você está se importando tanto? Ela não é nenhum parente, nenhuma vizinha, você só a conhece por ficar sentada todo santo dia no banco desta praça!
— Pra falar a verdade, nem eu sei… – respondeu, mordendo sutilmente os lábios. – Talvez ela precise de ajuda. Talvez ela precise de alguma cura. Acha que devemos ir até lá?
— E fazer o quê?
— Não sei… Falar algo, fazer algo. Convidá-la para um café, talvez. Ou… cupcakes! Todo mundo ama cupcakes!
— Não, melhor não. Ela só deve estar querendo atenção, você sabe, a carência da idade. Afinal, que dores verdadeiras pode possuir uma garota que tem tudo na vida e apenas quase 21? Oh, não, deixemos pra lá! Deixemos pra lá e vamos embora, pois o chá das cinco está para começar!
Calando-se finalmente, a primeira velhinha apenas concordou.
Ambas abriram a sombrinha e, juntas, seguiram seu caminho, deixando, como todos, todos os dias, a menina melancólica de quase 21 anos, de alma apagada, sentada no banco da praça, sem qualquer apelo pela vida e com o olhar perdido no nada.