Instapost #008 – Eu Não Nasci Pra Ser Influencer. Mas Nasci Para Contar Histórias.

“A vida de artista é uma vida de risco, incerteza e quase sempre se pobreza. Mas não a escolhemos, ao contrário, é ela quem escolhe você.” – Marina, Carlos Ruiz Zafón.

Tirei as 2 últimas semanas off para refletir bastante sobre os rumos da minha vida e por que faço o que faço. Está sendo bem difícil para mim postar na frequência que as redes sociais pedem para que meu conteúdo tenha um mínimo de entrega, enquanto ainda tenho uma loja também online para cuidar e outros trabalhos paralelos que faço e projetos que ainda pretendo divulgar. Percebi que estava fazendo mil coisas ao mesmo tempo e achando todas horríveis, porque não conseguia focar ou me preparar para fazer um bom trabalho. A ansiedade começou a voltar, a gastrite – mesmo com remédio – continuou incomodando e precisei largar tudo e olhar para o que estava fazendo e como conseguir administrar o meu trabalho com a minha saúde física e mental.
Honestamente, pensei muito “por que ainda estou insistindo nisso?”, em relação a minha escrita e a “carreira” de escritora. Com certeza é o trabalho que me dá menos rendimento e audiência, por assim dizer. É tanta conta pra pagar, tanta coisa pra administrar e me perguntei se o mundo em que vivemos ainda nos dá espaço e tempo para realizarmos nossos sonhos. Estou escrevendo cada vez menos e focando naquilo que realmente me paga algum dinheiro e acabou que isso aqui ficou largado, o que acaba de vez com todo o trabalho de formiga que tento fazer pra chamar alguma atenção do algoritmo e, como consequência, de vocês também. E sinceramente, estou muito, muito cansada de redes sociais e essa loucura de tentar perseguir sozinha uma atenção que este lugar nunca vai me dar, pois realmente não nasci pra ser influencer de nada e tampouco consigo ter algum foco para produzir postagens diárias, que chamem alguma atenção nessa tsunami de informações com as quais somos bombardeados todos os dias.
Esse texto é pra dizer que vou fechar tudo, desistir e seguir uma vida normal? Queria eu que fosse rs mas não consigo. Mesmo. Não consigo fingir que não sou escritora 24 horas por dia e que a escrita é tudo o que sou, que é minha própria identidade.

Após essas duas semanas, eu tive ainda mais certeza de que escritora é o que sou, independente de outros trabalhos que possa a vir fazer, e mais do que querer, eu simplesmente não consigo parar de ser. Sou escritora enquanto estou no ônibus buscando em minha cabeças rimas para um poema perfeito, sou escritora quando ouço uma música e imediatamente imagino um conto com início meio e fim pra ela, sou escritora quando não consigo dormir a noite porque diálogos começam a surgir do nada em minha cabeça e eu preciso levantar, pegar um caderno e escrever senão essas vozes não me deixem em paz (talvez eu tenha alguma esquizofrenia não diagnosticada, mas aí é com a minha terapeuta). Estou num momento em que não tenho certeza de quase nada da minha vida, tudo o que  dei um dia como certo hoje em dia não faz mais sentido, meu maior sonho deu errado e eu me vi sem chão, não sei pra onde ir, não sei como seguir e eu vou fazer 32 anos sem saber qual passo eu darei amanhã. Mas se tem uma certeza, uma única certeza que eu possuo nesta areia movediça que eu chamo de vida é que eu NASCI para contar histórias. E não há qualquer possibilidade de eu viver de outra maneira que não seja escrevendo.

Talvez eu nunca consiga a audiência com a qual sonho, talvez eu vá morrer sem ter meu nome reconhecido, talvez eu não ganhe um centavo com isso e seja obrigada a focar em outros trabalhos na minha vida, mas eu sempre vou estar escrevendo, vou sempre estar contando histórias para quem quiser ouvi-las. Porque entendi que não faço isso pelos outros, não faço isso pra ser famosa, não faço isso por ninguém. Eu ainda faço isso, eu ainda insisto nisso por mim. E eu não vou desistir de mim. Nunca.

Então talvez eu não poste todos os dias, não tenha muita coisa pra contar no período de uma semana, com certeza serei ignorada pelos algoritmos das redes sociais e terei duas curtidas em cada post. Mas quando vocês quiserem, quando desejarem ouvir ou ler uma boa história, eu estarei aqui para contá-las, eu estarei aqui escrevendo ou narrando personagens que não são nada além de um reflexo de nós mesmos. E quem sabe, assim como eu, vocês também não conseguem encontrar o caminho de volta para casa através deles?

Esse texto é pra dizer que às vezes eu vou precisar estar ausente, mas que eu nunca fui embora, eu nunca vou embora. Eu estou aqui e eu vou ficar. E agradeço muito, muito mesmo, quem desejar ficar comigo também! <3

#7 – Uma História Sobre Fantasmas em III Atos [Youtube]

Essa não é uma história de terror. Ou talvez seja. Depende de como você a entende. “Uma História Sobre Fantasmas em III Atos” é um conto poético que estará presente num livro que irei lançar em breve. Um livro que fala sobre (muitos) fantasmas, uma caixa de madeira pintada em lilás e uma caçadora do invisível.

Se está gostando do canal, não deixe de se inscrever, curtir o vídeo e comentar! Sua opinião é muito importante para a continuidade do meu trabalho! ❤

InstaPost #007 – Síndrome de Hermione Granger

Sofro de um “transtorno” que costumo chamar de “Síndrome de Hermione Granger”. Eu tenho, creio que desde nova, a mania de querer ser boa em tudo, saber de todos os assuntos, fazer bem todas as coisas e tenho a obsessão de ser reconhecida como inteligente. Só que de uns tempos pra cá eu tenho percebido o quanto isso é nocivo e o quanto também mascara uma profunda sensação de insuficiência dentro de mim. A gente sempre escuta aquela máxima de que perfeição não existe, mas vamos combinar que o mundo não é muito gentil com quem costuma demonstrar seus defeitos.
Eu escrevo desde os meus quinze anos, mas sempre adiei colocar minhas palavras do mundo, além do nicho que criei pra mim no Orkut, pois precisa estar “pronta” para fazê-lo. Precisava ser boa o bastante para estar nesse meio literário de gente tão incrível e não podia ficar pra trás. Como consequência, quinze anos se passaram e tirando uns textos e poemas que publicava mensalmente no Sonhos de Letras, me vi com 30 anos e sem publicar nada de fato. Só que o Universo sempre tem aquele seu jeitinho doce como o coice de um cavalo de colocar a gente no devido lugar e acabei me vendo praticamente obrigada a lançar minhas coisas por motivos de 1) atingi o pré-sal do desespero financeiro e 2) os cabelos brancos começaram a me avisar que eu não estava ficando mais jovem, muito pelo contrário.
O tempo passa e passa rápido demais, mesmo quando à nossa frente nada parece estar se movendo. A gente só tem uma vida (e olha que acredito em reencarnação, but still) e se não realizarmos nossos sonhos agora, quando iremos fazê-lo?
Este ano estou trabalhando 100% em divulgar minhas coisas e criando projetos que nunca pensei ser capaz. Fala pra Evelyn de 2019 que um dia ela vai ter um canal no YouTube e com certeza ela irá rir na sua cara e te mandar pro psiquiatra. Mas é isso, 2023 chegou e eu tenho um canal no YouTube, apesar do medo do fracasso, apesar de fazer tudo sozinha e com minha experiência autodidata de edição de vídeos, eu tenho um canal no YouTube. E sinceramente? Acho isso incrível!
Não pelo meu trabalho ser excepcional – minha síndrome jamais me permite achar qualquer coisa minha excepcional – mas por estar desafiando meu perfeccionismo e estar colocando meu trabalho no mundo, mesmo ele sendo bem imperfeito. Olhar pra isso me permite ver que é melhor estar fazendo alguma coisa, ainda que com tropeços e cheio de defeitos, do que passar quinze anos em busca de uma perfeição que nunca vai chegar.
Quem tem boas condições financeiras pode ter o privilégio de criar uma equipe de especialistas que irão ajudar a aparar as arestas de um determinado trabalho e pode ser que esse trabalho chegue perto da perfeição. Mas como esse não é o meu caso e tudo o que vocês veem tanto no Instagram, como no Sonhos de Letras, como no YouTube é 100% feito por mim, é impossível não deixar passar alguns (muitos!) erros e, apesar de sentir uma faca girar em meu estômago cada vez que encontro algum tipo de equívoco no meu trabalho (e eu encontro toda hora!), preciso lembrar que não sou Hermione Granger e que até mesmo ela tinha suas imperfeições. Fazendo tanta coisa ao mesmo tempo é impossível não deixar passar nada. E só me resta aceitar e seguir caminhando com o trabalho que eu acredito que tenho para mostrar ao mundo e que espero, do fundo do meu coração, que um dia faça a diferença na vida de alguém.
Obrigada ao guerreiro que leu esse texto até aqui num mundo onde um parágrafo virou textão, mas eu só funciono assim. E sigo aqui, tentando trazer o melhor de mim para vocês, mesmo sabendo que esse melhor podia ser beeeeem melhor.
(Ainda bem que amanhã tenho terapia rs!)

InstaPost #006 – Os Caminhos do Livro, Os Caminhos da Poesia

Esta semana terminei de ler um livro de poesias de uma escritora italiana chamada Martina Vivian. Nunca tinha ouvido falar nela e nem pretendia ler nada nesse idioma por agora, mas, como sempre digo que são as melhores leituras, apenas “aconteceu”.
Encontrei o livro por puro acidente em um sebo de rua, naquelas promoções maravilhosas de “leve 3 por 10”. Ele estava embaixo de um outro livro aleatório e, quando o vi, fiquei surpresa de encontrar uma coletânea de poesias em italiano, o que não é muito comum por aqui. E fiquei ainda mais surpresa quando percebi que ele estava em perfeito estado, como novo, como se nunca tivesse sido lido. Como estou praticando o idioma, pensei “por que não?”. E acabei levando o livro pra casa.
As poesias de Martina Vivian são muito pessoais, como se tivessem saído de seu diário particular. Acredito que ela tenha escrito após uma forte decepção amorosa – o que, vamos combinar, acaba gerando as melhores obras – e colocou no papel todo o seu processo de luto sobre o fim da relação e o caminho para a superação. Gostei, gostei muito. E fiquei satisfeita ao perceber que estou bem familiarizada com a língua, pois acho que entendi 90% do livro.
Ler Martina Vivian me faz pensar como nossas palavras podem viajar pelo mundo sem que tenhamos ideia. Acredito que, neste momento, a moça italiana nem imagina que tem alguém no Brasil fazendo uma análise do livro dela, alguém que se identificou com muito dos poemas e que ficou pensando como queria conversar com ela sobre a vida, pois sua visão de mundo parece um pouco com a minha. Mesmo escrevendo há tanto tempo e ter tido a sorte de ser lida por muita gente na época do Orkut, ainda fico fascinada como histórias podem atravessar fronteiras e mudar a vida de pessoas que nem conhecemos. Como estamos conectados mesmo sem ter ideia de quem somos, como diria Delta Goodrem.
Escolher o caminho da escrita, da literatura e da poesia, envolve muita coragem e determinação, pois não é fácil atrair a atenção das pessoas nesse mundo que gera milhões de conteúdos todos os dias, não é fácil ter que abrir mão de uma vida mais tradicional, por assim dizer, para se dedicar a esse tipo de trabalho onde você fala sozinho a maior parte do tempo. Não sei se o livro de Martina fez algum sucesso na Itália, pois não encontrei maiores informações sobre ele ou sobre a autora, e não sei se ela ficou ou não frustrada por seu livro não ter tido um alcance maior. De qualquer forma, de uma maneira que eu jamais vou saber ao certo, o seu livro cruzou o Atlântico, foi parar num sebo de rua, chegou até mim e me tocou profundamente. Como não ver beleza nisso? Como não achar que, no fim, por mais que pensemos que estamos falando sozinhos, tem sempre alguém em algum canto do mundo ouvindo com atenção tudo o que temos para dizer?
E é por isso que sigo fazendo o que faço: a poesia e a literatura têm uma força que foge à nossa compreensão… e acho isso tudo bonito demais! Acho que me arrependeria para sempre se escolhesse outro caminho para mim e decidisse não fazer parte disso.
Enquanto sigo meu trabalho de formiguinha, enquanto sigo gritando em um mundo onde todo mundo parece conseguir gritar mais forte que eu, só posso desejar que um dia minhas palavras também atravessem fronteiras e façam alguma diferença na vida de alguém, assim como as palavras de Martina fizeram na minha.

InstaPost #005 – Setembro Amarelo

Iniciado em 2015, o Setembro Amarelo é uma campanha brasileira que busca a prevenção do suicídio e também estimular pessoas que estejam passando por um momento difícil a pedirem ajuda.

Saúde mental é um tema que me toca pessoalmente, uma vez que luto contra a depressão e ansiedade crônica já há 15 anos. E se tem uma coisa que aprendi durante todo esse tempo é que a única maneira de manter nossa mente equilibrada é estar aberto a falar sobre o assunto.

Em uma era onde as pessoas nas redes sociais só expõem a parte feliz (e às vezes mentirosa) da vida, é muito fácil cairmos na ilusão de que tá todo mundo feliz e prosperando, enquanto somos os únicos seres fracassados do mundo que não conseguimos estar bem como os outros. E esse é um pensamento perigoso, principalmente se a pessoa não tem uma base familiar sólida para se apoiar ou amigos de confiança a quem recorrer. E essa sensação de solidão profunda pode levar a medidas extremas e desesperadas.

Tanto meu livro de contos “Essas Mulheres” como o meu romance “Need” falam explicitamente sobre depressão e suicídio, mas falam principalmente sobre pessoas que estão lutando para seguir em frente mesmo em meio a tantos traumas e dores. Mas neste Setembro Amarelo eu quero trazer também mais postes sobre o assunto para que isso deixe de ser tabu e a discussão possa ser cada vez mais naturalizada em nossa sociedade.

Para aqueles que estão lendo esse texto e sentem que precisam de ajuda, não deixem de ligar para o número 188. É gratuito e funciona 24 horas por dia. Você também pode seguir o @cvvoficial ou entrar no site www.cvv.org.br para mais informações.

Não se esqueçam que pedir ajuda jamais será fraqueza, muito pelo contrário… é um ato de coragem! Sua vida importa e muito! ❤️

Instapost 004 – Hi, Barbie!

Fui essa semana ao cinema ver o filme que está dando o que falar e, sinceramente, foi muito melhor do que eu esperava!
Não sou uma fã de comédias, geralmente não é um gênero que me agrada muito, mas fiquei curiosa para ver o que a Greta iria fazer com esse enredo em mãos. E o resultado foi uma sátira inteligentíssima, sensível e nostálgica que retrata perfeitamente o que é ser uma mulher num mundo governado por homens que juram saber o que é melhor para nós (inclusive, acho que toda essa gritaria masculina em torno do filme é tudo macho com o ego ferido que se identificou com a babaquice dos Kens e não conseguiram suportar a mediocridade refletida na tela. Só isso explica).
Margot Robbie parece ter nascido para fazer esse papel, não apenas por sua figura belíssima, muito semelhante às clássicas Barbies, mas pela interpretação segura e na medida correta, conseguindo equilibrar com igual brilhantismo a comédia com o drama. Sinceramente, não consigo imaginar outra atriz na atual geração que pudesse ter feito igual ou melhor do que ela.
Uma das cenas mais bonitas do filme, que vi pouca gente comentando, é quando a Barbie, após uma crise de choro por se encontrar num mundo real que está muito longe de ser perfeito, se depara com uma senhorinha simpática sentada no banco ao seu lado, olha para ela e diz: “você é linda”, ao que a senhora responde: “eu sei”. Essa cena me fez refletir que muitas vezes nós somos capazes de enxergar a beleza em outras pessoas, mas raramente a enxergamos em nós mesmos.
A interpretação de Ryan Gosling como Ken também me pareceu impecável, principalmente porque costumo acompanhar o trabalho do ator e eu adoro como ele consegue fazer personagens completamente diferentes e passar uma verdade ao espectador que poucos atores da geração dele conseguem. Se já era uma admiradora antes desse filme, agora já estou indo providenciar minha carteirinha do fã-clube.
Li algumas críticas sobre o filme onde foi dito que a obra de Greta Gerwig não traz nenhuma novidade ou não aprofunda as questões sobre o patriarcado, mas acho que em nenhum momento a roteirista e diretora teve essa intenção. Nem todo filme vai (ou deve!) revelar todas as respostas às grandes questões da humanidade. Para mim, o que me agrada em uma produção, seja essa de qualquer gênero, é sua capacidade de se conectar com o espectador, de tocar alguém de uma forma que aquela obra nunca mais saia da memória e do coração de quem a viu. E foi exatamente isso que eu senti vendo Barbie, um filme marcante, necessário e que nos deixa com aquele gostinho de quero mais.

Instapost 003 – Em Branco

Foto autoral ©

Costumo dizer que o pior pavor do escritor é uma página em branco. Por mais que a gente já tenha uma determinada ideia na cabeça, as cenas, os personagens, tudo planejado, quando abrimos um caderno ou algum documento no computador, bate aquele medo de não saber qual a melhor maneira de começar. E às vezes esse medo é tão grande que, mesmo sabendo o que é preciso escrever, a gente fecha tudo e decide que talvez seja melhor começar no dia seguinte, quando as circunstâncias estiverem mais propícias ou estivermos mais inspirados. Só que o dia seguinte vem, a página em branco segue ali, o medo bate de novo e o ciclo se repete. Quando percebemos, passou uma semana e a página segue lá, lisinha, intocada, sem nenhuma história gravada nela, sem nenhum roteiro básico sequer. O quanto acabamos perdendo por medo de perder, não é verdade?
Olhando para uma página em branco essa semana, foi inevitável fazer uma comparação com a vida “real”. Para mim, nossas vidas são como livros onde todos os dias escrevemos a nossa história e essa história será o legado que deixaremos por aqui quando chegar o momento de partirmos. Só que às vezes – mais vezes do que gostaríamos – o caderno número X de nossa trajetória se acaba e então precisamos pegar um novo e recomeçar tudo desde o início. Na maioria das vezes essa não é uma escolha nossa, a gente não queria que aquele caderno acabasse, tudo estava tão perfeito, tão completo, tão bem escrito! Mas a última folha sempre vem e somos obrigados pela vida a começar uma nova história, em um novo caderno, mesmo que não tenhamos ideia de como iniciar a primeira frase. Para os ansiosos como eu, isso é um verdadeiro inferno, olhar para um caderno cheio de folhas em branco, sem saber como preencher aquilo tudo, temendo aonde aquela nova ideia vai dar, como vai ser, e se eu odiar tudo e querer queimar o caderno já na metade, e se eu amar tanto que vou ter que enfrentar o fim algum dia, e se ficar ruim demais e me causar vergonha, e se ficar bom demais e eu precisar deixar ir de novo, e se e se e se?
No meio de tantos questionamentos, em pânico, todos os dias eu fecho o caderno da minha própria vida, achando que é melhor começar de novo no dia seguinte, quando eu estiver menos ansiosa, quando o ambiente estiver mais propício, quando estiver com menos medo, quando tudo estiver perfeito para começar. Só que o ambiente nunca está propício e eu nunca estou menos ansiosa, o que acaba virando um círculo vicioso de frustração e ansiedade, enquanto a página em branco da vida segue lá parada, esperando um ato de coragem para finalmente começar a ser escrita. Foi então que pensei: “Talvez seja só começar. Não precisa ser perfeito, não precisa ser a frase ideal, não precisa me dar orgulho no primeiro parágrafo, só precisa ser alguma coisa. Qualquer coisa. Para uma história começar, é preciso de uma primeira linha. Para a vida andar, é preciso um primeiro passo.”
As melhores histórias que eu criei, aquelas que eu tenho o maior orgulho, comecei sem ter ideia de onde estava indo. Ou talvez fizesse sim alguma ideia, mas com o passar do tempo, tudo acabou mudando e terminou melhor do que eu poderia imaginar. A Need, por exemplo, quando eu criei ela lá em 2000 e bolinha, era pra ser só uma novela de 60 páginas. E acabou virando um romance de mais de 600 páginas, um romance que quando eu tinha 18 anos eu jamais pensei ser capaz de escrever. Eu só comecei a escrever e pronto. E acabou sendo uma das melhores coisas que eu já fiz na vida.
Como sempre, escrevo esses pensamentos aqui para mim, para me lembrar de que às vezes as coisas são mais simples do que minha mente ansiosa e paranóica me faz crer, mas compartilho esses pensamentos doidos também pois, quem sabe, assim como eu, alguém esteja apenas precisando dar um primeiro passo para começar uma nova história.
A folha em branco é muito, muito assustadora, mas sem uma primeira frase, nenhuma história começa. Sem o primeiro passo, nenhuma trajetória recomeça. Então, comecemos.
Quem sabe esta nova história não será a melhor história que escreveremos em nossas vidas?

Laila e a Primavera

É dito que a primavera vem vindo e Laila sai correndo pela grama.
Pequena moça de cabelos cacheados, loiros, até a cintura, Laila sorri para o vento fresco trajando um vestido branco, tão branco quanto os lírios que idolatra.
É dito que a primavera vem vindo e Laila acredita. Não tem noção de muita coisa, mas reconhece quando a brisa toca a sua pele de forma diferente, quando o ar gélido já não lhe oprime os pulmões e quando a esperança torna a brilhar em seus olhos castanhos.
“É primavera!” – grita a menina com a voz jovem de seus dezoito anos de idade. – “É primavera, olhem! A felicidade está voltando!”
Laila é seguida por suas cuidadoras, por moças dez anos mais velhas que ela e que sempre estão ao seu lado. Até hoje não sabe, não entende por que estão ali, por que cismam em lhe seguir, mas não importa, não importa nem um pouco!
“É primavera!”, segue gritando, enquanto rodopia com as borboletas multicoloridas ao seu redor.
É dito que a primavera vem vindo e que ele está voltando!
Laila senta-se sobre a grama, descansa de seus rodopios e olha o delicado relógio em seu pulso. Falta muito para o meio-dia e ela nem sabe ao certo porque está esperando o meio-dia. Ele não disse hora, não precisou muita coisa, só fez promessas, disse que pediria ao seu pai sua mão em casamento, como toda dama de boa família merecia, e Laila acreditava que pontualmente ali ele estaria.
É verdade, ele viria, com seu terno marrom, o cabelo engomado, com um porte de lorde inglês, coluna ereta e voz grave. Laila nunca havia visto um lorde inglês, raramente saía de casa depois de seus quinze anos completos, mas imaginava que ele parecesse um.
É dito que a primavera vem vindo e Laila gargalha de felicidade junto ao canto dos pássaros que vieram cantar com a menina uma canção de alegria e amor. Primavera significa muitas coisas, significa botões dando flor, o fim de um inverno gelado, o renascimento do sol por detrás da colina, o regresso dele, o pedido de casamento e seu final feliz!
É dito que a primavera vem vindo e ali estava ele, finalmente!
“Olhem, olhem, ele voltou!” – berrava a menina aos saltos, apontando para a imagem que via atrás dos portões de ferro que protegiam o terreno da enorme propriedade de seu pai. – “Ali está, não estão vendo? Ali vem ele, meu amor, meu amor voltou!”. Não era ainda meio-dia, pensou Laila, nem sabia que horas eram, não tinha noção das coisas, nunca teve e isso nunca importou.
A felicidade fez flores brotarem em seu peito, flores brancas, lírios, os mais belos lírios que os olhos de Laila haviam visto!
“Vamos, abram os portões! Abram os portões, ele chegou! Ele chegou!”
A menina continuava a rir com os pássaros, a rodopiar com as borboletas e a colher lírios de seu peito. Ele lhe sorria por detrás do portão e acenava, estava ali e era chegado o momento! Pediria a sua mão e Laila, a pequena e sonhadora Laila, teria seu tão esperado final feliz!


**


É dito que a primavera vem vindo, mas ela não chega, ela nunca chega para o mundo fora de Laila.
Suas cuidadoras se entreolham, tristes, esperando que o pico de euforia acabe, que um dia esse pesadelo termine, em algum momento dos anos, em algum espaço do tempo, como que por um milagre.
Suas cuidadoras esperam, como sempre esperam todos os dias, há três anos, o despertar do sonho, esperam os lírios destroçados caírem do peito de Laila para então se levantarem, colherem suas pétalas e regressarem com a menina catatônica à casa, num ciclo que não termina e não tem previsão de terminar.
Laila sonha e sorri, canta e se declara para o vento, apenas para o vento, que passa e passa invisível do outro lado do portão.

InstaPost 002 – Tempo

Tenho pensado muito sobre o tempo esses dias. Sobre como o mundo em geral parece estar andando em uma velocidade impossível de alcançar, enquanto eu fico aqui meio que assustada, olhando ao redor e tentando entender onde me encaixo nessa pressa toda. Acho que as redes sociais potencializaram esse passar urgente do tempo, onde todo dia precisamos postar, trazer conteúdo, produzir e criar como se fossemos robôs prontos para executar essa tarefa a qualquer momento e sem ter o direito de errar ou não fazer direito, porque, além da pressa, é preciso ser perfeito também dentro de toda essa velocidade. Não sei pra vocês, mas pra mim isso é impossível.
Durante muito tempo eu fui dessas que fazia tudo na empolgação, jogava qualquer coisa na internet achando que era uma ótima ideia e acabava desistindo e largando o projeto porque enjoava ou ele não tinha a recepção que eu esperava. Agora eu quero ir devagar, eu quero entender qual a minha posição aqui nesse lugar, o que eu de fato quero entregar para as pessoas. Tempo é mesmo dinheiro, mas acima de tudo eu quero produzir algo que tenha significado. Um dia as minhas palavras fizeram a diferença na vida das pessoas e eu entendi, naquele momento, que tinha encontrado minha missão de vida. Quero poder sentir isso de novo.
Costumo brincar que sou como o coelhinho branco de Alice No País das Maravilhas, pois sinto que estou sempre atrasada. Tudo o que a maioria das pessoas fez enquanto jovem eu consegui fazer apenas tarde demais, pois na minha juventude eu estava apenas tentando me manter viva. E ainda que se manter viva seja algo muito importante (rs) eu às vezes penso que isso me atrasou para muitas outras coisas. E assim vejo minha vida até hoje: todos estão correndo, enquanto ainda engatinho. Mas esse é o meu tempo de fazer as coisas. Esse é o meu tempo de olhar ao redor e entender o que eu quero de verdade para mim.

Quando a gente passa dos 30 é preciso calar as vozes das pessoas que dizem a todo o momento o que você precisa fazer, pra onde precisa ir, qual o melhor caminho tomar. Essa resposta só existe dentro da gente mesmo. E ainda que muita gente que conheço parece ter a vida encaminhada depois dos 30 e isso me deixe um pouco apreensiva e culpada por ainda estar tropeçando tanto, sinto que agora é agora de decidir o que quero pra mim. Fazer escolhas baseada na minha intuição e encontrar as respostas em meu próprio silêncio. Afinal, a vida é minha. Só eu posso vivê-la por mim.

Esse texto poderia estar indo para o meu diário pessoal, mas compartilho aqui pois sempre tenho aquele pingo de esperança de que alguém pode ler, se identificar e, quem sabe, ajudar de alguma forma. Sei que é difícil parar hoje em dia para ler um texto desse tamanho, mas eu nunca soube fazer diferente, quem me conhece sabe. E sinceramente, nem quero ser diferente. Então sigo aqui, produzindo conteúdo para vocês a passos de tartaruga e esperando que, por mais que seja aos pouquinhos, bem aos pouquinhos, minha arte importe (hello Peyton Sawyer). Porque é melhor fazer algo bom bem lentamente do que fazer qualquer coisa correndo e se arrepender depois. A Need, por exemplo, levou 10 anos para ficar pronta, mas eu tenho muito, muito orgulho dela. Se tivesse terminado antes, com pressa, ela não seria nem metade do que é.

Para quem tomou um tempo pra ler esse texto aqui, muito obrigada, eu sei o quanto isso é raro nos dias de hoje! Espero que para você, que gosta do que eu escrevo, mesmo que seja esse textão improvisado e melodramático, minhas palavras tenham ressoado de alguma forma. Sigo aqui tentando entregar o meu melhor ainda que bem, beeem devagar… ❤️

InstaPost 001 – Palavras

Foto autoral ©

Tenho medo quando as palavras somem. Quando o papel prontamente fica em branco, sei que algo está errado. Quando as palavras somem eu me perco, finjo uma outra identidade, finjo que estou bem sem isso, que estou bem fingindo ser quem não sou.
Uma vez me disseram que eu tenho mãos de fada, que eu tenho o poder de colocar cores no mundo quando escrevo e revelo todo o universo que há aqui dentro. Quando as palavras somem, tudo fica preto e branco. Então silencio, me retraio, me escondo do mundo, difícil explicar o que está acontecendo quando nem você sabe o que está acontecendo de verdade.
Quando as palavras somem eu desapareço junto com elas. Os amigos perguntam o que aconteceu, os parentes desconfiam que é indolência de alguém que não se importa muito com nada (imagina se eles soubessem que estou assim porque me importo tanto tanto com tudo!) e eu me retraio e escondo mais ainda, porque não há o que explicar, porque não quero explicar. Essa semana me disseram que eu não preciso aguentar todo esse peso sozinha, mas até pra pedir ajuda é necessário usar palavras. E quando elas somem, como a gente pede? Eu não sei. Acho que nunca aprendi direito a fazer isso. Talvez porque eu sei que as palavras sempre voltam, elas sempre aparecem para me resgatar de mim mesma. Nenhum silêncio é eterno, ainda mais os meus silêncios, que fazem muito mais barulho do que as palavras. Então eu só sento, espero, tento me fazer surda aos julgamentos do mundo (mas eles doem, ah, como doem!) e aguardo o retorno do comichão na mão, as vozes (boas) na cabeça, o ritmo da poesia, as falas dos personagens, o enredo de um mundo que só eu sei contar. E quando a folha em branco volta a ser desenhada pelas minhas letras, respiro fundo e sorrio, sabendo que acabou, que posso voltar a caminhar, que posso me olhar no espelho e tornar a me comunicar. Quando as palavras voltam, eu também volto pra mim. E desejo, me ajoelho e faço uma oração, do fundo do meu tão sensível coração, que eu nunca, nunca mais desapareça junto com elas.