Instapost #008 – Eu Não Nasci Pra Ser Influencer. Mas Nasci Para Contar Histórias.

“A vida de artista é uma vida de risco, incerteza e quase sempre se pobreza. Mas não a escolhemos, ao contrário, é ela quem escolhe você.” – Marina, Carlos Ruiz Zafón.

Tirei as 2 últimas semanas off para refletir bastante sobre os rumos da minha vida e por que faço o que faço. Está sendo bem difícil para mim postar na frequência que as redes sociais pedem para que meu conteúdo tenha um mínimo de entrega, enquanto ainda tenho uma loja também online para cuidar e outros trabalhos paralelos que faço e projetos que ainda pretendo divulgar. Percebi que estava fazendo mil coisas ao mesmo tempo e achando todas horríveis, porque não conseguia focar ou me preparar para fazer um bom trabalho. A ansiedade começou a voltar, a gastrite – mesmo com remédio – continuou incomodando e precisei largar tudo e olhar para o que estava fazendo e como conseguir administrar o meu trabalho com a minha saúde física e mental.
Honestamente, pensei muito “por que ainda estou insistindo nisso?”, em relação a minha escrita e a “carreira” de escritora. Com certeza é o trabalho que me dá menos rendimento e audiência, por assim dizer. É tanta conta pra pagar, tanta coisa pra administrar e me perguntei se o mundo em que vivemos ainda nos dá espaço e tempo para realizarmos nossos sonhos. Estou escrevendo cada vez menos e focando naquilo que realmente me paga algum dinheiro e acabou que isso aqui ficou largado, o que acaba de vez com todo o trabalho de formiga que tento fazer pra chamar alguma atenção do algoritmo e, como consequência, de vocês também. E sinceramente, estou muito, muito cansada de redes sociais e essa loucura de tentar perseguir sozinha uma atenção que este lugar nunca vai me dar, pois realmente não nasci pra ser influencer de nada e tampouco consigo ter algum foco para produzir postagens diárias, que chamem alguma atenção nessa tsunami de informações com as quais somos bombardeados todos os dias.
Esse texto é pra dizer que vou fechar tudo, desistir e seguir uma vida normal? Queria eu que fosse rs mas não consigo. Mesmo. Não consigo fingir que não sou escritora 24 horas por dia e que a escrita é tudo o que sou, que é minha própria identidade.

Após essas duas semanas, eu tive ainda mais certeza de que escritora é o que sou, independente de outros trabalhos que possa a vir fazer, e mais do que querer, eu simplesmente não consigo parar de ser. Sou escritora enquanto estou no ônibus buscando em minha cabeças rimas para um poema perfeito, sou escritora quando ouço uma música e imediatamente imagino um conto com início meio e fim pra ela, sou escritora quando não consigo dormir a noite porque diálogos começam a surgir do nada em minha cabeça e eu preciso levantar, pegar um caderno e escrever senão essas vozes não me deixem em paz (talvez eu tenha alguma esquizofrenia não diagnosticada, mas aí é com a minha terapeuta). Estou num momento em que não tenho certeza de quase nada da minha vida, tudo o que  dei um dia como certo hoje em dia não faz mais sentido, meu maior sonho deu errado e eu me vi sem chão, não sei pra onde ir, não sei como seguir e eu vou fazer 32 anos sem saber qual passo eu darei amanhã. Mas se tem uma certeza, uma única certeza que eu possuo nesta areia movediça que eu chamo de vida é que eu NASCI para contar histórias. E não há qualquer possibilidade de eu viver de outra maneira que não seja escrevendo.

Talvez eu nunca consiga a audiência com a qual sonho, talvez eu vá morrer sem ter meu nome reconhecido, talvez eu não ganhe um centavo com isso e seja obrigada a focar em outros trabalhos na minha vida, mas eu sempre vou estar escrevendo, vou sempre estar contando histórias para quem quiser ouvi-las. Porque entendi que não faço isso pelos outros, não faço isso pra ser famosa, não faço isso por ninguém. Eu ainda faço isso, eu ainda insisto nisso por mim. E eu não vou desistir de mim. Nunca.

Então talvez eu não poste todos os dias, não tenha muita coisa pra contar no período de uma semana, com certeza serei ignorada pelos algoritmos das redes sociais e terei duas curtidas em cada post. Mas quando vocês quiserem, quando desejarem ouvir ou ler uma boa história, eu estarei aqui para contá-las, eu estarei aqui escrevendo ou narrando personagens que não são nada além de um reflexo de nós mesmos. E quem sabe, assim como eu, vocês também não conseguem encontrar o caminho de volta para casa através deles?

Esse texto é pra dizer que às vezes eu vou precisar estar ausente, mas que eu nunca fui embora, eu nunca vou embora. Eu estou aqui e eu vou ficar. E agradeço muito, muito mesmo, quem desejar ficar comigo também! <3

InstaPost #006 – Os Caminhos do Livro, Os Caminhos da Poesia

Esta semana terminei de ler um livro de poesias de uma escritora italiana chamada Martina Vivian. Nunca tinha ouvido falar nela e nem pretendia ler nada nesse idioma por agora, mas, como sempre digo que são as melhores leituras, apenas “aconteceu”.
Encontrei o livro por puro acidente em um sebo de rua, naquelas promoções maravilhosas de “leve 3 por 10”. Ele estava embaixo de um outro livro aleatório e, quando o vi, fiquei surpresa de encontrar uma coletânea de poesias em italiano, o que não é muito comum por aqui. E fiquei ainda mais surpresa quando percebi que ele estava em perfeito estado, como novo, como se nunca tivesse sido lido. Como estou praticando o idioma, pensei “por que não?”. E acabei levando o livro pra casa.
As poesias de Martina Vivian são muito pessoais, como se tivessem saído de seu diário particular. Acredito que ela tenha escrito após uma forte decepção amorosa – o que, vamos combinar, acaba gerando as melhores obras – e colocou no papel todo o seu processo de luto sobre o fim da relação e o caminho para a superação. Gostei, gostei muito. E fiquei satisfeita ao perceber que estou bem familiarizada com a língua, pois acho que entendi 90% do livro.
Ler Martina Vivian me faz pensar como nossas palavras podem viajar pelo mundo sem que tenhamos ideia. Acredito que, neste momento, a moça italiana nem imagina que tem alguém no Brasil fazendo uma análise do livro dela, alguém que se identificou com muito dos poemas e que ficou pensando como queria conversar com ela sobre a vida, pois sua visão de mundo parece um pouco com a minha. Mesmo escrevendo há tanto tempo e ter tido a sorte de ser lida por muita gente na época do Orkut, ainda fico fascinada como histórias podem atravessar fronteiras e mudar a vida de pessoas que nem conhecemos. Como estamos conectados mesmo sem ter ideia de quem somos, como diria Delta Goodrem.
Escolher o caminho da escrita, da literatura e da poesia, envolve muita coragem e determinação, pois não é fácil atrair a atenção das pessoas nesse mundo que gera milhões de conteúdos todos os dias, não é fácil ter que abrir mão de uma vida mais tradicional, por assim dizer, para se dedicar a esse tipo de trabalho onde você fala sozinho a maior parte do tempo. Não sei se o livro de Martina fez algum sucesso na Itália, pois não encontrei maiores informações sobre ele ou sobre a autora, e não sei se ela ficou ou não frustrada por seu livro não ter tido um alcance maior. De qualquer forma, de uma maneira que eu jamais vou saber ao certo, o seu livro cruzou o Atlântico, foi parar num sebo de rua, chegou até mim e me tocou profundamente. Como não ver beleza nisso? Como não achar que, no fim, por mais que pensemos que estamos falando sozinhos, tem sempre alguém em algum canto do mundo ouvindo com atenção tudo o que temos para dizer?
E é por isso que sigo fazendo o que faço: a poesia e a literatura têm uma força que foge à nossa compreensão… e acho isso tudo bonito demais! Acho que me arrependeria para sempre se escolhesse outro caminho para mim e decidisse não fazer parte disso.
Enquanto sigo meu trabalho de formiguinha, enquanto sigo gritando em um mundo onde todo mundo parece conseguir gritar mais forte que eu, só posso desejar que um dia minhas palavras também atravessem fronteiras e façam alguma diferença na vida de alguém, assim como as palavras de Martina fizeram na minha.

Instapost 004 – Hi, Barbie!

Fui essa semana ao cinema ver o filme que está dando o que falar e, sinceramente, foi muito melhor do que eu esperava!
Não sou uma fã de comédias, geralmente não é um gênero que me agrada muito, mas fiquei curiosa para ver o que a Greta iria fazer com esse enredo em mãos. E o resultado foi uma sátira inteligentíssima, sensível e nostálgica que retrata perfeitamente o que é ser uma mulher num mundo governado por homens que juram saber o que é melhor para nós (inclusive, acho que toda essa gritaria masculina em torno do filme é tudo macho com o ego ferido que se identificou com a babaquice dos Kens e não conseguiram suportar a mediocridade refletida na tela. Só isso explica).
Margot Robbie parece ter nascido para fazer esse papel, não apenas por sua figura belíssima, muito semelhante às clássicas Barbies, mas pela interpretação segura e na medida correta, conseguindo equilibrar com igual brilhantismo a comédia com o drama. Sinceramente, não consigo imaginar outra atriz na atual geração que pudesse ter feito igual ou melhor do que ela.
Uma das cenas mais bonitas do filme, que vi pouca gente comentando, é quando a Barbie, após uma crise de choro por se encontrar num mundo real que está muito longe de ser perfeito, se depara com uma senhorinha simpática sentada no banco ao seu lado, olha para ela e diz: “você é linda”, ao que a senhora responde: “eu sei”. Essa cena me fez refletir que muitas vezes nós somos capazes de enxergar a beleza em outras pessoas, mas raramente a enxergamos em nós mesmos.
A interpretação de Ryan Gosling como Ken também me pareceu impecável, principalmente porque costumo acompanhar o trabalho do ator e eu adoro como ele consegue fazer personagens completamente diferentes e passar uma verdade ao espectador que poucos atores da geração dele conseguem. Se já era uma admiradora antes desse filme, agora já estou indo providenciar minha carteirinha do fã-clube.
Li algumas críticas sobre o filme onde foi dito que a obra de Greta Gerwig não traz nenhuma novidade ou não aprofunda as questões sobre o patriarcado, mas acho que em nenhum momento a roteirista e diretora teve essa intenção. Nem todo filme vai (ou deve!) revelar todas as respostas às grandes questões da humanidade. Para mim, o que me agrada em uma produção, seja essa de qualquer gênero, é sua capacidade de se conectar com o espectador, de tocar alguém de uma forma que aquela obra nunca mais saia da memória e do coração de quem a viu. E foi exatamente isso que eu senti vendo Barbie, um filme marcante, necessário e que nos deixa com aquele gostinho de quero mais.

Instapost 003 – Em Branco

Foto autoral ©

Costumo dizer que o pior pavor do escritor é uma página em branco. Por mais que a gente já tenha uma determinada ideia na cabeça, as cenas, os personagens, tudo planejado, quando abrimos um caderno ou algum documento no computador, bate aquele medo de não saber qual a melhor maneira de começar. E às vezes esse medo é tão grande que, mesmo sabendo o que é preciso escrever, a gente fecha tudo e decide que talvez seja melhor começar no dia seguinte, quando as circunstâncias estiverem mais propícias ou estivermos mais inspirados. Só que o dia seguinte vem, a página em branco segue ali, o medo bate de novo e o ciclo se repete. Quando percebemos, passou uma semana e a página segue lá, lisinha, intocada, sem nenhuma história gravada nela, sem nenhum roteiro básico sequer. O quanto acabamos perdendo por medo de perder, não é verdade?
Olhando para uma página em branco essa semana, foi inevitável fazer uma comparação com a vida “real”. Para mim, nossas vidas são como livros onde todos os dias escrevemos a nossa história e essa história será o legado que deixaremos por aqui quando chegar o momento de partirmos. Só que às vezes – mais vezes do que gostaríamos – o caderno número X de nossa trajetória se acaba e então precisamos pegar um novo e recomeçar tudo desde o início. Na maioria das vezes essa não é uma escolha nossa, a gente não queria que aquele caderno acabasse, tudo estava tão perfeito, tão completo, tão bem escrito! Mas a última folha sempre vem e somos obrigados pela vida a começar uma nova história, em um novo caderno, mesmo que não tenhamos ideia de como iniciar a primeira frase. Para os ansiosos como eu, isso é um verdadeiro inferno, olhar para um caderno cheio de folhas em branco, sem saber como preencher aquilo tudo, temendo aonde aquela nova ideia vai dar, como vai ser, e se eu odiar tudo e querer queimar o caderno já na metade, e se eu amar tanto que vou ter que enfrentar o fim algum dia, e se ficar ruim demais e me causar vergonha, e se ficar bom demais e eu precisar deixar ir de novo, e se e se e se?
No meio de tantos questionamentos, em pânico, todos os dias eu fecho o caderno da minha própria vida, achando que é melhor começar de novo no dia seguinte, quando eu estiver menos ansiosa, quando o ambiente estiver mais propício, quando estiver com menos medo, quando tudo estiver perfeito para começar. Só que o ambiente nunca está propício e eu nunca estou menos ansiosa, o que acaba virando um círculo vicioso de frustração e ansiedade, enquanto a página em branco da vida segue lá parada, esperando um ato de coragem para finalmente começar a ser escrita. Foi então que pensei: “Talvez seja só começar. Não precisa ser perfeito, não precisa ser a frase ideal, não precisa me dar orgulho no primeiro parágrafo, só precisa ser alguma coisa. Qualquer coisa. Para uma história começar, é preciso de uma primeira linha. Para a vida andar, é preciso um primeiro passo.”
As melhores histórias que eu criei, aquelas que eu tenho o maior orgulho, comecei sem ter ideia de onde estava indo. Ou talvez fizesse sim alguma ideia, mas com o passar do tempo, tudo acabou mudando e terminou melhor do que eu poderia imaginar. A Need, por exemplo, quando eu criei ela lá em 2000 e bolinha, era pra ser só uma novela de 60 páginas. E acabou virando um romance de mais de 600 páginas, um romance que quando eu tinha 18 anos eu jamais pensei ser capaz de escrever. Eu só comecei a escrever e pronto. E acabou sendo uma das melhores coisas que eu já fiz na vida.
Como sempre, escrevo esses pensamentos aqui para mim, para me lembrar de que às vezes as coisas são mais simples do que minha mente ansiosa e paranóica me faz crer, mas compartilho esses pensamentos doidos também pois, quem sabe, assim como eu, alguém esteja apenas precisando dar um primeiro passo para começar uma nova história.
A folha em branco é muito, muito assustadora, mas sem uma primeira frase, nenhuma história começa. Sem o primeiro passo, nenhuma trajetória recomeça. Então, comecemos.
Quem sabe esta nova história não será a melhor história que escreveremos em nossas vidas?