Afogando em Silêncio.

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Hoje eu sentei sob o piso de concreto, debaixo da chuva, e chorei.
Chorei por ser tão estúpida a ponto de não conseguir esquecer certas coisas. A ponto de odiar amar alguém.
Sentei debaixo da chuva e chorei. Deixei que as lágrimas geladas corressem de meus olhos, se misturando com as gotas que caíam das nuvens. Chorei pela falta de valores. Chorei pela falta de caráter. Chorei pela importância que é dada ao dinheiro e a fama.
Sentei debaixo da chuva e chorei. Chorei por ter que ficar calada. Chorei por ter que ficar remoendo meus pensamentos. Mastigando-os, engolindo-os. Porque não posso colocá-los para fora.
Chorei pela falta de amor, pela grande ambição, pela mais bela ilusão. Ilusão que se transformou em minha perdição.
Chorei por não aguentar mais segurar tudo. Chorei por, mais uma vez, ter que ficar quieta.
Chorei por ter que ser sempre cautelosa antes de machucar os outros. Chorei porque ninguém nunca é cauteloso antes de me machucar.
Chorei pela cegueira humana, pela surdez dos teimosos e pela minha mudez. Porque a vida segue e eu sigo de boca fechada (contra minha vontade).
A chuva continua caindo fortemente, lavando minha alma, purificando minha pele. Mas, ainda assim, ela não consegue tirar a dor daqui. Porque eu continuo chorando.
Chorando pela mágoa, pelo ódio, pela raiva que eu sinto. Chorando por me ver sendo correta, num mundo onde só os falsos têm vez.
Onde a hipocrisia reina em absoluto e vence quem mente melhor.
Onde o diabo se esconde atrás da beleza, mas ninguém se importa. Porque é belo. Porque é agradável, porque é popular. E isso é o bastante.
Chorando porque estou a ponto de desistir do que eu mais amo. Porque eu não aguento mais. Porque eu não posso mais. Eu não consigo mais olhar e ficar quieta. Eu tenho que sair. Eu tenho que desistir.
Só queria poder falar. Só queria poder gritar, deixar que minhas palavras corressem pelo asfalto, assim como as gotas da chuva, que caem livremente. Que caem sem pedir permissão, que caem sem julgamento.
Como seria se sentir como a chuva? Como seria se sentir livre? Como seria poder dizer o que eu penso?
Mas eu não sou a chuva. Eu não sou livre. Eu sou muda.
E sigo aqui mais uma vez… Deixando que as lágrimas corram sem parar, sem cessar.
E me afogo. Afogo em mim mesma de novo. E de novo… E de novo…

Baile de Máscaras.

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Barulho elevado, sorriso forçado e psicológico alterado. O medo tem voltado, a ansiedade aumentado e o desespero incomodado.
Meus lábios abrem com dificuldade, mostrando uma falsa felicidade que está muito longe da realidade. A vida virou um baile de máscaras, todos fingem, todos atuam, todos manipulam. A máscara de alegria tem que estar bem fixa em seu rosto, quase irremovível. Há que entrar na dança, bailar a valsa dos hipócritas e manipuladores, conduzindo seus pés aos passos da música conduzida e orquestrada pelos que estão supostamente acima. Há que manter a imagem, a aparência sempre tem que estar a frente dos sentimentos.
É hora do passarinho fechar mais uma vez suas asas e ficar preso em uma gaiola, fazendo graças e peripécias para que os tolos humanos satisfaçam seu prazer egoísta, enquanto aquelas asas dia após dia vão se atrofiando, até  para o pequeno animal a realização de planar pela céu azul se torne uma completa utopia.