Há Um Garoto Que Conheço.

boy I know

Há um garoto que conheço.
Ali vem ele, indo e vindo à minha frente.
Aqui vem ele, indo e vindo em minha mente.
Num dia ele usa preto; noutro, usa branco.
Num dia ele usa branco; noutro, usa preto.
No começo era apenas uma vez.
E agora já são três.
Há um garoto que conheço.
Mas eu não conheço de verdade.
Nunca pude vislumbrar seus lábios abertos em um sorriso.
Nunca pude observar sua alma através de seus olhos.
Porque está sempre de cara fechada, expressando extrema seriedade e uma pitada de arrogância em seu caminhar.
Ou, quem sabe, apenas uma timidez enclausurada e mascarada por um orgulho vulgar.
Se ele não sorrir, se nunca sorrir… Não vou saber de verdade.
Há um garoto que conheço.
Mas não conheço nada. Nada de nada.
Não sei onde trabalha, que idade tem, qual é o tom de sua voz ou se fala decentemente o português.
Não faço idéia de quais sãos seus sonhos, se ele sequer tem sonhos ou se está perdido na entediante e medíocre realidade que a maioria dos humanos se vêem presos.
Não sei se tem irmãos, se tem amigos, namorada ou até inimigos.
Há um garoto que conheço… Mas não conheço nem seu nome.
Seria simples como Guilherme, Ricardo e Felipe?
Ou composto como João Marcos, Bruno Paulo e Marcelo Henrique?
Não faço ideia para qual time vibra ou se é de Sagitário, Aquário ou Libra.
Não sei, não. Não sei de nada.
Porque ele está sempre assim: passando rápido demais, de forma imperceptível se eu não presto atenção, três vezes ao dia, usando ou preto ou branco.
Há um garoto que conheço…
Apenas um garoto eu conheço…Que realmente gostaria de conhecer.

Não Foi Melhor Assim?

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Nós brigamos silenciosamente.
Eu vi seu sorriso se transformar em uma máscara dura e fria, com os olhos castanhos e penetrantes em minha direção.
Não foram necessárias palavras brutas ou sequer gritos estridentes. Não foram necessários xingamentos, ofensas ou dedos apontados.
Pra quê?
Por quê?
Conosco, não.
Oh, não… Nunca foi necessário!
Bastou o silêncio.
Apenas aquela irritante ausência de sons e palavras que sempre foram constantes em nossa relação.
Bastou o silêncio e o eco tenebroso de uma discussão feita com o olhar.
Você se irritou com meu jeito insistente, exagerado e compulsivo, enquanto eu achei um absurdo seu pouco caso, sua eminente falta de interesse e o blasé que sempre imperou em seu tom de voz.
Pra quê brigar?
Por que discutir?
Não é melhor assim?
Não é melhor?
Você sempre aí e eu sempre aqui.
Você desaparecendo do nada e eu permanecendo no nada.
Você realmente não se importando, enquanto eu finjo que nunca me importei.
Você se misturando em seu mar de pessoas inúteis e medíocres quanto eu sigo feliz em minha solidão intelectual.
Não foi melhor assim?
Não foi melhor?
Sem palavras desperdiçadas, sem letras que formem frases ridículas e desnecessárias.
Sem lágrimas enervantes que molham um rosto maquiado ou que destruam um poderoso e precioso orgulho.
Sem a necessidade deplorável de dizer um adeus pungente que só iria gastar nossas melhores energias.
Não foi melhor assim?
Não foi melhor?
Afinal, você sempre amou o silêncio.
Enquanto eu… Eu apenas sigo tentando a conviver com ele.

Meu Erro.

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Meu erro foi ter começado.
Meu erro foi ter olhado fundo em seus olhos cor de mel pela primeira vez e ter desejado me perder para sempre neles. Porque agora não sei mais como encontrar o caminho de volta.
Foi ter notado e ter me apaixonado por seu sorriso encantador. Porque agora não sei mais viver sem ele.
Meu erro foi ter acreditado.
Foi ter criado um mundo ilusório com base na ideia de nós dois. Foi ter arquitetado mil e um planos que poderíamos executar juntos. Porque agora não sei mais como viver na dura e fria realidade. A realidade onde sua presença se faz tão ausente. A realidade onde sua falta me mata lentamente.
Meu erro foi ter esperado.
Esperado que um dia nossos caminhos pudessem voltar a se cruzar. Foi ter esperado esbarrar com você em uma rua qualquer, em uma estrada qualquer. Porque agora não posso mais andar em paz. Não posso mais caminhar sem que meu coração dê um salto  no peito ao ver alguém semelhante a você. Não posso mais caminhar sem sentir a frustração gélida no estômago por não ter te encontrado após tanto procurar.
Meu erro foi ter deixado.
Foi ter deixado você penetrar em minha pele como uma leve brisa de outono.
Foi ter deixado seu perfume impregnar minhas narinas e enlouquecer meu cérebro como o doce cheiro de uma flor primaveril.
Foi ter deixado seus braços cálidos protegerem-me de um congelado inverno.
Foi ter deixado seus lábios iniciarem um fugaz romance de verão.
Meu erro foi ter te encontrado, ter te achado pela primeira vez no lugar mais inesperado. Foi ter acreditado que sua alma faria o encaixe perfeito com a minha. Foi ter acreditado que poderíamos formar um todo. Mas me deixastes como a metade vazia de um nada.
Meu erro foi ter calado.
Foi nunca ter confessado com todas as letras que eras meu amado.
Foi ter guardado dentro da caixa de meu orgulho o grande amor que sentia por você.
Meu erro foi ter me apaixonado. E ter temido isso.
Porque agora estou aqui sozinha, aborrecida, abandonada, largada num mar de palavras que já não fazem mais sentido. Num oceano de saudades inquietantes que me fazem querer gritar até o último suspiro.
Meu erro… Ah, meu erro!
Meu erro foi sempre, sempre ter começado.
Porque se eu tivesse tido a coragem de dar-te as costas naquela estrelada noite de verão, se tivesse suportado o desejo eminente de beijar diariamente seus olhos cor de mel… Ah, tudo seria diferente! Seria muito, muito diferente.
Meu erro foi, sim, ter começado.
Do contrário… Do contrário, todo este sofrimento poderia ser evitado.

Rosa e Eucalipto, parte 2.

parte 2

Meus olhos correm pela multidão à sua procura.
Caço seu par de olhos castanhos, seu sorriso sublime, sua presença adorável.
Procuro, caço, perscruto, mas você não está lá.
Olho o relógio pela milésima vez, observando que você está atrasado. Muito atrasado.
Meu coração palpita no peito em uma ansiedade irritante que não consigo arrancar daqui.
Ele bate, bate, bate; e cada batida é uma letra do seu nome que está tatuado bem dentro de mim.
Ele está gritando por você.
Será que não está ouvindo? Onde quer que esteja, não o está ouvindo? Não está me ouvindo?
Ele grita alto (com uma grande ajuda dos pulmões), esperando que você finalmente o escute e venha mais depressa.
Oh, como se atreve?
Como se atreve a apontar-me o dedo e dizer, com todas as letras, que não te amo?
Como se atreve me olhar nos olhos e duvidar do sabor mais doce que já provei nesta vida?
Estamos apenas algumas horas apartados e a falta do seu sorriso já começa a me enlouquecer.  Apenas horas, espaços medíocres de sessenta minutos, que parecem sessenta anos.
Minhas pernas tremem, batem contra o chão, contando os microssegundos que ainda restam para eu poder visualizar seu rosto outra vez.
Por que demoras tanto?
É algum tipo de castigo? É uma punição por ainda dividir meu coração?
O que você está fazendo comigo?
Não seja como o outro.
Não me faça entrar em desespero. Não comece a provocar espasmos espinhentos por todo o meu corpo que me fazem sangrar absurdamente.
Você é a única cura para o meu vício mortal e impiedoso.
Você é sanidade para a minha loucura, a luz para a minha enorme escuridão.
E, cima de tudo e de todas as coisas, você é aquela explosiva vontade de viver, quando desejo mais do que nunca desaparecer deste mundo.
Oh, como se atreve?
Como se atreve a dizer que não te amo o bastante?
Ainda estou aqui, esperando, roendo o último que sobrou de minhas unhas e com um coração latente que continua a berrar seu nome sem cessar.
As pessoas falam comigo, puxam assuntos banais e tudo o que eu consigo fazer é presenteá-las com um sorriso amarelo e sem graça.
Eu não quero estar com elas.
Não quero conversar com elas, não quero ouvi-las ou ter de fingir uma tranqüilidade que estou longe de sentir.
Eu quero estar com você.
Viver você, respirar você, amar você.
Eu quero estar por cima de você, por baixo de você, dentro de você.
Eu quero você e todo o seu amor que corre por entre minhas veias, deixando o rastro hipnotizante de  Rosa com Eucalipto.
E a sensação de frescor e doçura arrebata-me por inteiro quando vejo sua silhueta ao longe. Você é apenas mais um ponto na multidão, quase como um fantasma do próprio corpo, mas é o bastante.
Oh, Deus, como é o bastante!
Seu andar, seu jeito, todo você.
Suas mãos, seu olhar, seu sorriso, todo você.
Seu cabelo perfeito, a cor de sua pele, todo você.
Oh, como se atreve?
Como se atreve a duvidar de toda essa carga que me atinge com tão só vê-lo?
Se isso não é amor, o que é, então?
Explique-me, diga-me… O que é?
Se eu tivesse de escolher uma cor para este sentimento, escolheria o azul.
Isso mesmo…  azul.
Porque o que sinto nada se assemelha ao rosa melado dos amores juvenis ou ao vermelho sangue da paixão carnal dos adultos.
É azul. Azul celeste, como o céu claro que vive sobre nossas cabeças.
É azul perfeito como a cor dos oceanos. É azul reluzente como uma flor exótica, raramente encontrada em lugares simplórios.
É o azul da morada dos anjos. A mesma morada onde possui uma piscina de rosas por toda a água límpida. Uma piscina de rosas e com cheiro de eucalipto.
Azul da morada para onde iremos após partirmos deste mundo. Juntos.
O fantasma de você se transforma em sua forma de carne e osso conforme vai se aproximando.
Olho para as minhas mãos e percebo que estou tremendo. Fecho os dedos, respiro fundo, tento manter o controle, mas é impossível. Meu corpo inteiro está reagindo ante à presença eminente do seu. Meus dedos tremem tanto que mal consigo pegar a alça da minha bolsa e colocá-la sobre o ombro.
Já estou de pé; já estou com os braços ansiosos para abraçar sua figura como se não houvesse amanhã.
Seu sorriso cai como uma cachoeira sobre meu corpo, como gotas cristalizadas de chuva após um longo período de sol escaldante.
Oh, como se atreve?
Como se atreve dizer que não é amor?

— Desculpe o atraso. – você diz baixinho, com sua voz carinhosa e arrependida, antes de beijar meus lábios, pondo um fim em toda esta agonia.
— Não tem problema. – repliquei ao mesmo tempo que passei o braço esquerdo ao redor de sua cintura. – O que importa é que está aqui agora. Desde que sempre esteja, desde que sempre chegue… Não tem problema.
— Vamos para casa? – perguntou enquanto começávamos a caminhar por toda a multidão de pessoas como se estivéssemos completamente sozinhos.
— Será que não vê? Será que não entende? – encarei seus olhos confusos antes de terminar a sentença e sorri. – Eu já estou em casa.

Nós temos tanto o que falar…

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Nós temos tanto o que falar e falamos sobre o tempo.
Poderíamos estar falando do quanto sentiu minha falta e eu estaria declarando meu amor por sua camisa xadrez vermelha, que tanto adoro. Já disse o quanto você fica bem nela? Imagino que sim.
Nós temos tanto o que falar e falamos sobre o tempo.
Talvez seja apenas para quebrar o gelo, para fugirmos deste silêncio constrangedor que caiu sobre nossas cabeças desde que nossos olhos se cruzaram. Ou talvez seja apenas porque não há mais nada para se falar.
Será?
Eu e você?
Como?
Como foi acontecer?
Sempre tivemos as melhores conversas. Sempre soubemos achar um assunto para nossas vozes se cruzassem até transformarem-se em um som único e singular.  E quando não havia um assunto… Ah! Nós inventávamos! Qualquer motivo era motivo o bastante para falarmos e falarmos sem parar.
Mas aqui estamos nós.
Cara a cara, olho no olho.
Aqui estamos nós e comentamos sobre o sol. Comentamos o calor atípico de uma tarde de inverno e você conta coisas banais, sobre a alta temperatura e mais.
Nós temos tanto o que falar… Oh! Como temos! Mas ao invés disso, falamos sobre o tempo.
Eu quero perguntar se você está bem. Quero perguntar sobre sua família, sobre sua vida, sobre seus sentimentos.
Quero perguntar sobre sua carreira, sobre seus estudos, sobre seus sonhos.
Tenho muitas, muitas perguntas.
Sou curiosa, você sabe.
Quero saber, quero saber de tudo.
Principalmente quando envolve você.
Mas nós ainda seguimos falando sobre o tempo.
Você comenta que seu picolé derreteu em poucos segundos, lambuzando-lhe as mãos, e eu apenas sorrio ao imaginar a cena.
Enquanto isso, enquanto os minutos passam e os ponteiros do relógio giram, as perguntas seguem entaladas em minha garganta, mas não consigo colocá-las para fora.
Você está apaixonado por um outro alguém?
Você me esqueceu?
Será que poderíamos tentar mais uma vez?
Mas a conversa sobre o tempo continua e eu vou perdendo a coragem pouco a pouco.
As palavras vão morrendo, a coragem desvanecendo e tudo o que eu consigo fazer é continuar sorrindo e assentindo sobre um picolé derretido.
Nós temos tanto o que falar e falamos sobre o tempo.
Eu ainda estou apaixonada por você.
Você ainda está apaixonado por mim?
Nós temos tanto o que falar… Tanto, tanto o que falar…
Mas tudo o que fazemos é falar sobre o tempo.

Rosa e Eucalipto.

parte 1

— Você me cura. – ela sussurrou num quarto escuro, enquanto sua mão deslizava delicadamente pela bochecha do rapaz. – Sempre que me sinto doente, sempre que acho que vou perecer ante o olhar que tanto me faz mal, você chega e me segura. Você chega e me cura. E eu te amo por isso.
— Não da forma como o ama. Não da forma como eu te amo. – respondeu com certa amargura, deixando que as garras do ciúme penetrassem em seu puro coração. – Eu não consigo fazer sua cabeça girar. Eu não faço você sentir tonturas ou chorar de agonia. Eu não tenho o mesmo efeito sobre você que ele tem. Eu não te faço passar mal de amor, não faço sua pele queimar dolorosamente. Como ousa dizer me amar? Eu não sou ele. E jamais poderei ser.
— Você é melhor. – respondeu com meiguice, bloqueando as palavras enegrecidas que saíam dos lábios de alguém tão especial. – Será que você não sabe? Esse é o melhor tipo de amor. O amor que acalma ao invés de rasgar o coração. O amor que canta suavemente lindas melodias ao invés daquele que berra em seus ouvidos, ao ponto de deixar-lhe louco. O amor que faz você sentir estar no lugar certo. O amor que parece uma bênção, como gotas cristalizadas de chuva após um longo período de sol escaldante. O amor que acende uma alma, não aquele que a martiriza com pensamentos enlouquecedores e suicidas. – ela pegou com cuidado a mão rija sobre o lençol branco e depositou um singelo beijo sobre sua palma. O beijo lhe causou uma sensação extasiante, fazendo um caminho fresco por sua pele, que sabia a uma mistura de rosa com eucalipto. – Será que não vê? O melhor amor é o que faz viver, não o que mata. E o seu amor me faz querer viver mil encarnações ao seu lado, não importa quantas vezes o mundo queira cair ao meu redor.
— Ainda assim… – insistiu, mesmo tendo de lutar contra o efeito anestésico de seu beijo. – Você sempre irá amá-lo também.
— Isso não significa que eu não tenha feito uma escolha. E eu escolho você. Eu sempre vou escolher você.

Os braços carinhosos envolveram seu pescoço, calando-o de uma vez.
O silêncio pesou sobre o quarto escuro enquanto aquela sensação refrescante ainda tomava-o por inteiro, como um feitiço mágico que o impedia de ir embora.
Que o impedia de sair para procurar um coração que pudesse vir a ser inteiramente dele.
Porque ele não conseguia, ele não podia largar a rosa e o eucalipto que sempre navegavam por suas veias cada vez que ambos se roçavam.
Mas quando ela o tocava assim, quando o fazia sentir-se especial, despido de todos os pesadelos, em sua máxima vulnerabilidade, ele entendia o que era a calmaria de um amor puro e sincero do qual ela falava.
Entendia perfeitamente o que era o refresco de gotas cristalizadas de chuva após um longo período de sol escaldante.
Sentia a alma acendida, viva, desejando viver mil encarnações ao lado dela, não importava quantas vezes o mundo desejasse cair ao seu redor.
Porque – ainda que dividido – o amor dela o curava.
E – infelizmente ou não – era disso, somente disso que ele precisava para continuar respirando neste mundo.

É um dia chuvoso.

dia chuvoso

É um dia chuvoso e eu ainda estou esperando por você.
É um dia chuvoso e eu ainda não consigo desistir de você.
Aqui, nessa sala branca e iluminada, abraço meu próprio corpo, a fim de me proteger dos pingos de chuva que são tolhidos pela larga parede de vidro.
Aqui, nessa sala branca e iluminada, escuto o alto barulho do silêncio que parece arrebentar meus tímpanos.
Que me afoga em seu mar de vozes silenciosas.
É um dia chuvoso e tudo está vazio.
É um dia chuvoso e você não está aqui.
Primavera, verão, outono, inverno.
As estações passaram.
Tudo passou.
Você passou.
Mas eu fiquei.
Fiquei com um lápis barato em minha mão dolorida e um bando de cartas que eu jamais entregarei.
Um bando de cartas que em poucos momentos rasgarei.
É um dia chuvoso e eu estou completamente sozinha.
É um dia chuvoso e eu ainda não consigo seguir em frente.
Parece fácil. É só colocar um pé na frente do outro; primeiro o direito, depois o esquerdo.  Parece fácil. Mas não é.
Porque meus pés não se locomovem.
Meus pés estão petrificados, grudados no chão. Este mesmo chão que por tanto tempo pisaste.
Eles não se mexem, temendo apagar os rastros das pegadas que você deixou.
Aqui, nessa sala branca e vazia, eu vejo nós dois.
Aqui, nessa sala branca e vazia, estamos dançando uma valsa vienense.
Anos atrás. Séculos atrás. Eras atrás.
Aqui, nessa sala branca e vazia, tudo o que restou foram fantasmas que agora bailam destemidamente ante meus olhos.
Fantasmas do que fomos.
Fantasmas do que seríamos.
Fantasmas do que nunca seremos.
É um dia chuvoso e eu te perdi.
É um dia chuvoso e eu me perdi.
Uma sala branca e iluminada…
É um dia chuvoso…
É apenas um dia chuvoso…

Estranhos.

estranhos 2

Há um garoto e uma garota em uma biblioteca.
Por semanas ele tem olhado para ela.
Por ela semanas ela tem olhado para ele.
Por semanas ele tem fingido que não olha.
Por semanas ela tem fingido que não olha.
Ele é muito tímido.
Ela é muito tímida.
Ele acha que não é bom o bastante para ela.
Ela acha que não é boa o bastante para ele.
Ele acha que levará um fora caso se aproxime e finalmente diga um simples “oi”.
Ela acha que ele pensará que é uma oferecida caso se aproxime e finalmente diga um simples “oi”.
Ele se esconde atrás dos seus livros.
Ela se esconde atrás de seus cadernos.
Ele sabe que ela morde a tampa da caneta quando está pensando.
Ela sabe que ele esconde as mãos nos bolsos quando está nervoso.
Ele desejava poder ser mais alto, mais bonito, mais extrovertido.
Ela desejava poder ser mais magra, mais inteligente, boa o bastante.
Ele acha que ela nunca irá entender e aceitar alguém como ele.
Ela acha que ele nunca irá entender e aceitar alguém como ela.
Ele é realmente estranho.
Ela é realmente estranha.
Ele é a alma gêmea dela.
Ela é a alma gêmea dele.
Mas esta história jamais terá um final feliz ou sequer um final.
Porque ele se recusa a dar o primeiro passo.
Porque ela recusa a dar o primeiro passo.
Ninguém anda, ninguém fala, ninguém faz absolutamente nada para mudar isso.
Eles são agora apenas um garoto e uma garota sentados em uma biblioteca.
E, talvez, é apenas isso que serão pelo resto de suas vidas.

Bússola Quebrada.

compass

Norte. Sul. Leste. Oeste.
Os caminhos estão aí, ao meu alcance, à minha frente, esperando que eu dê os primeiros passos para trilhá-los. Mas sigo aqui com a dúvida, sigo com o medo, sigo com a insegurança.
Qualquer passo que der pode indicar o fim.
Qualquer passo que der pode indicar o começo.
Há vários caminhos, porém todos sem respostas corretas e exatas. A verdade é que somos a flecha do próprio destino, onde ditamos por onde começar a caminhada. Há que seguir o rumo sem que ninguém interfira em nossas escolhas. Ainda que a bússola esteja quebrada, a mente confusa e a alma apagada, nosso destino ainda pertence apenas a nós mesmos. E a mais ninguém.
Assim como um relógio quebrado em algum momento irá marcara a hora correta, uma bússola quebrada pode mostrar o caminho certo pelo menos uma vez também. E mesmo que percamos a direção, é nosso dever recomeçar, fazendo tudo de novo outra vez.
Não é seguro. Não é fácil. É arriscado. Mas talvez… valha a pena no final.
Pelo menos eu acho.