Não Foi Melhor Assim?

sepa

Nós brigamos silenciosamente.
Eu vi seu sorriso se transformar em uma máscara dura e fria, com os olhos castanhos e penetrantes em minha direção.
Não foram necessárias palavras brutas ou sequer gritos estridentes. Não foram necessários xingamentos, ofensas ou dedos apontados.
Pra quê?
Por quê?
Conosco, não.
Oh, não… Nunca foi necessário!
Bastou o silêncio.
Apenas aquela irritante ausência de sons e palavras que sempre foram constantes em nossa relação.
Bastou o silêncio e o eco tenebroso de uma discussão feita com o olhar.
Você se irritou com meu jeito insistente, exagerado e compulsivo, enquanto eu achei um absurdo seu pouco caso, sua eminente falta de interesse e o blasé que sempre imperou em seu tom de voz.
Pra quê brigar?
Por que discutir?
Não é melhor assim?
Não é melhor?
Você sempre aí e eu sempre aqui.
Você desaparecendo do nada e eu permanecendo no nada.
Você realmente não se importando, enquanto eu finjo que nunca me importei.
Você se misturando em seu mar de pessoas inúteis e medíocres quanto eu sigo feliz em minha solidão intelectual.
Não foi melhor assim?
Não foi melhor?
Sem palavras desperdiçadas, sem letras que formem frases ridículas e desnecessárias.
Sem lágrimas enervantes que molham um rosto maquiado ou que destruam um poderoso e precioso orgulho.
Sem a necessidade deplorável de dizer um adeus pungente que só iria gastar nossas melhores energias.
Não foi melhor assim?
Não foi melhor?
Afinal, você sempre amou o silêncio.
Enquanto eu… Eu apenas sigo tentando a conviver com ele.

Evelyn Marques
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6 comments / Add your comment below

  1. “Afinal, você sempre amou o silêncio.
    Enquanto eu… Eu apenas sigo tentando a conviver com ele.”
    – Liiiindo!! Liiindo!! Como sempre né Cuuuera!! *-*

  2. Ai que dor… Ai que dor… Do pior tipo, toda em silêncio. Que dor, que dor! Engraçado é ela repetir tanto “Não foi melhor assim?” em sinal de que não tem certeza, que preferia uns bons gritos e pontos finais de verdade, porque o silêncio tanto a machuca. Como doeu, Du. Doeu demais. Dessa vez doeu mais aos meus ouvidos esse silêncio do que um grito. Porque o silêncio sibila medo aos ouvidos dela e aos meus. Que dor… Que dor fininha e quieta.

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