07 – Conselhos

bob

 

Pouco tempo atrás eu estava participando (muito contra a minha vontade, pra variar…) de uma reunião social onde eu estava conhecendo as pessoas ali presentes pela primeira vez. Tirando alguns familiares, poucos mesmo, perto das outras pessoas, eu estava completamente em ambiente desconhecido o que, para mim, não é algo fácil de se lidar.
Por mais que eu deteste esses encontros, eu sempre tento ser simpática (ou o menos antipática possível, depende do ângulo que você olhar), pois eu acho que ninguém tem nada a ver com o meu mau humor natural ou com a minha incapacidade de manter uma relação social como se fosse a coisa mais legal e divertida do mundo. Bem, eu juro que eu tento. Se eu consigo, já é outra história…
Nesse encontro, as pessoas começaram puxar assunto comigo ao ver que eu estava quieta, só escutando minhas músicas no celular e desejando que aquele dia acabasse logo. Novamente, eu quis ser legal, abri um sorriso falso e, mesmo com palavras curtas e breves, tentei manter a conversa pra ver se aquele dia se tornava um pouco menos desagradável. E então começaram as perguntas! Eu juro, eu não tenho nada contra as pessoas perguntarem qual a minha idade, o que eu faço, se eu estudo, o que eu quero ser… O problema é que, geralmente, em qualquer encontro social que eu tenha, todas as respostas que eu dou, se tornam como pretextos para pessoas começarem a dar conselhos.

Exemplos:
“- Você estuda?
– Sim, faço Psicologia.

(Ps: já desisti de dizer que eu quero e vou ser escritora para ser poupada daquele papo de que eu vou morrer de fome debaixo da ponte e que isso nem é um emprego de verdade)

– Ah, que legal! Tem muita oportunidade em empresas, você pode trabalhar com RH, fazer isso, fazer aquilo…
– Não, não, eu não curto muito empresas, sabe? Eu sou apaixonada por autistas desde quando era mais jovem, entrei na faculdade pra estudar mais sobre o assunto e pretendo trabalhar com isso de alguma forma no futuro.
– Mas você tem que pensar em ganhar dinheiro com isso também! Escuta o que eu to falando, empresas são o melhor caminho! Você pode fazer um concurso público, ter uma vaga cativa num lugar seguro, ganhar o suficiente para ter uma boa vida e garantir uma boa aposentadoria, blá, blá, blá, blá….”

Eu juro que eu tenho que calar a minha boca e sorrir da forma mais amarela possível, pois se alguma coisa sair de mim depois de escutar isso, o clima no local não irá ficar agradável e não ficará bem para os meus familiares.
Outra que eu escutei nesse mesmo dia, de uma pessoa diferente, foi:

– Você sai, se diverte, sai com as amigas?
– Mais ou menos… Até porque a maioria das minhas amigas são de internet. Mas eu…
– Ah, mas você tem que ter amigas normais, não de internet!

Sério, o que dizer depois dessa?
E detalhe: Se você perguntar a uma dessas pessoas qual é o meu nome, elas não vão saber, pois nem se deram ao trabalho de perguntar!

Eu não quero parecer arrogante ou debochada, onde só eu sei o que é certo pra mim e ninguém pode dar opinião na minha vida. Não é isso. Ainda que eu realmente não goste muito de ser contrariada, eu sempre peço conselhos. Acho que minhas amigas sabem o quanto eu chego a se irritante, porque eu vivo perguntando o que eu devo fazer, como eu devo prosseguir, o que elas acham, pra onde eu vou etc. Mas é isso, são AMIGAS, pessoas que me conhecem há cinco, seis anos ou até mesmo parente mais próximos, que já sabem e conhecem a minha personalidade, minha forma de pensar e que realmente vão poder me dar uma direção, opinar sobre o que é melhor pra mim. O meu problema com conselhos é que eles geralmente são dados por pessoas que, como estas, nem sabem o seu nome, te encontram pela primeira vez e começam a dissertar sobre como você deve levar a sua vida para ser feliz.
Eu sei que elas fazem isso com a melhor das intenções, eu não acho que ninguém diz isso pra me irritar, muito pelo contrário! Mas é fato que essas atitudes são equivocadas e, pior ainda, são feitas pela maioria das pessoas.
Isso não foi só nesse encontro. Ouço conselhos a minha vida toda de pessoas que mal sabem meu nome, mal sabem o que eu faço, mal sabem o que eu quero, o que desejo pra minha vida. E o engraçado é que, quem realmente poderia opinar sobre mim, como minhas amigas “anormais” da internet ou parentes próximos, só o fazem quando eu peço. Eu juro que eu realmente queria entender o que passa pela cabeça de alguém que fica fazendo um monólogo sobre como você deveria seguir sua vida para ser eternamente feliz, realizada e com dinheiro.
Talvez o mundo fosse mais fraterno e acolhedor se as pessoas começassem a entender umas às outras ou procurassem apenas a começar. Não seria melhor se tivessem me perguntado o meu nome primeiro? O que EU quero fazer da vida e como EU quero? Aí sim poderíamos começar uma conversa, uma troca, por mais que a pessoa comentasse que trabalhar numa empresa não é tão ruim assim ou que é complicado ter amigas tão longe. Então eu explicaria que empresas são boas sim, mas para quem foi feito para esse tipo de trabalho, o que realmente não é o meu caso. E explicaria também que eu sei que amizades de internet, apesar de serem bem normais, porque não vieram de Marte e sim do próprio Brasil (eu ainda estou no lucro, porque conheço pessoas que tem amigos ou até mesmo namoram gente do Japão, então acho que Rio Grande do Sul não é tão longe assim), são complicadas sim, que é difícil manter, cuidar etc., mas isso não quer dizer que não valham a pena e que eu não tenho mais ninguém ao meu redor aqui no Rio de Janeiro! Se esse interesse real realmente existisse, de conhecer o outro por ele mesmo, não apenas como um passatempo de um encontro social, talvez mais amizades “normais” pudessem existir e tais encontros não seriam tão sufocantes e irritantes como são para mim e, creio eu, para muitas pessoas também.

Evelyn Marques

7 comments / Add your comment below

  1. Como diz o ditado popular: se conselho fosse bom, não se dava e sim vendia. HAHAHAHHAA Realmente é terrível esse tipo de coisa.

  2. Pois é! O problema é esse, que veem de pessoas que não sabem 1% da sua vida e saem atirando na sua cara como você deve viver até completar 80 anos e morrer, tipo (???)

    O que a gente deve fazer é não ligar, por mais que seja irritante, porque não dá pra ficar escutando esse tipo de gente, né? Se você quer ser professora, se você gosta de estudar, de ficar em casa, continue assim, pois só você pode saber o que é melhor pra sua vida… 😉

  3. Claro que foi uma boa escolha, além de gostar, você tem muito talento pra isso!
    As pessoas gostam de dar conselhos que servem só pra elas e ninguém percebe isso, você fica até constrangida de falar do que quer fazer, por isso que sempre fico quieta, sempre que abro a boca sou obrigada a escutar essas coisas…

  4. Isso vive acontecendo comigo. As pessoas nem me conhecem e já querem vir falar, dar palpite na minha vida, eu não gosto disso a pessoa nem me conhece. O que eu mais escuto:

    “Você tá muito magra, tem que engordar”

    “Professora? Não tem futuro, não dá dinheiro.”

    “Você não sai? Só fica em casa”

    “Você vai ficar louca de tanto estudar”

    Esse pensamento ai também é pra mim. 😉

  5. Acredite ou não! Chocante, até! hahah

    Eu penso que não conseguiria fazer outra coisa. Acho que ser publicitária foi uma boa escolha. Se eu queria ganhar mais, eu queria, claro. Mas hoje eu acho que o meu trabalho é recompensado não só com o dinheiro na minha conta a cada 5º dia útil, mas também com uma sensação de que os 04 anos que eu estudei não foram completamente em vão. Sim, algumas coisas foram inúteis, outras que eu adorei estudar eu não vou usar, mas isso acontece com todo mundo.

    O bom é dar um tapa na cara mental nesse povo que não sabe de nada e acha que sabe de tudo.

  6. Nossa, te mandaram largar a faculdade? Esse conselho conseguiu ser pior dos que eu já recebi hahahaha Pois é Lulu, eu não me conformo com isso! Claro que dinheiro é importante, ninguém quer morrer de fome ou viver cheio de privações, mas poxa, eu não acho que vale a pena ser milionário e querer morrer diariamente por estar preso a uma vida que detesta! Acho que quando a gente faz o que a gente gosta, mesmo que existam privações, o nosso trabalho ainda é um consolo e é isso que eu quero pra minha vida! Mas as pessoas perguntam isso? NÃO! Nem meu nome perguntam… Parece que só querem aparentar o quanto estão bem na vida, que tem casa aqui e ali, que podem viajar pra onde quiserem e quando quiserem porque escolheu um trabalho por dinheiro… É como tu disse, é calar a boca pra não ser grossa, porque se a gente for responder…

  7. Tem mesmo uma galera louca no mundo… Sério, que tristeza que é ouvir que o que você escolheu fazer da vida, aquilo que você gosta, é aquilo que não vai te trazer retorno nenhum. É o que eu escuto! O que eu mais escuto, inclusive… O conselho mais absurdo foi: larga essa faculdade e faz um concurso, nem que seja pra trabalhar em banco. NA BOA, largar a faculdade? Sério??? Vontade de dar um tiiiro! hahaha

    Existem outras riquezas no mundo além de dinheiro. Ele é necessário, é. A gente trabalha para ganhar, sim. Mas também é muito mais satisfatório trabalhar naquilo que você gosta de fazer. O dinheiro, seja qual for a quantidade, vem pelo seu esforço. Se vem pelo seu trabalho no lugar que você gosta, na área que você gosta, é ainda mais satisfatório!
    Eu tenho vontade de socar os infelizes que acham que sabem das nossas vidas melhores que a gente. Mas né… Fomos educados para não fazer isso e apenas escutar e tentar não ser muito grosso nas respostas…

    E pelo amor, eu sou uma amiga normal, caramba!!! 😀

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