Você.

tumblr_lxey9nzC7M1qi6ga2o1_500

Acordar.
Tomar café.
Você.
Caminhada matinal.
30 minutos.
Volta pra casa.
Você.
Tomo um banho, pego o carro.
Ligo as notícias, dirijo com cuidado.
Respiro fundo antes de pisar no trabalho.
Você.
Dia tranqüilo.
Tarefas a fazer.
Tarefas feitas.
Hora do almoço.
Cenouras.
Você gostava de cenouras.
Você.
Você.
Você.
Ignoro as cenouras.
Não gosto mais.
Elas têm seu gosto.
Você.
Retorno ao escritório.
Trabalho.
Trabalho.
Trabalho.
Você.
Fim do expediente.
Eu tento, tento esquecer.
Juro.
Parece mentira.
Mas não é.
Penso no que tenho que fazer.
Comprar o presente de aniversário da Marcela.
Churrasco na casa do Robson no domingo.
Afazeres.
Compromissos.
E hoje?
O que tem pra hoje?
Você!
Não!
Não mais.
Não mais você.
O que tem pra hoje?
Basquete no fim da tarde na quadra com os amigos.
Troco de roupa, cumprimento os parceiros de jogo.
Sua voz.
Sua voz dizendo que me ama.
Sua voz dizendo que não me ama mais.
Cesta!
Você.
Conversa com os amigos após o jogo.
Assuntos banais, gargalhadas casuais.
Você.
Você.
Despedida.
Promessa de um próximo jogo na semana seguinte.
Trânsito.
Trânsito de São Paulo.
Você.
Que inferno!
Buzinas intermináveis.
Paciência se esgotando.
Ligo o rádio.
Essa rádio não presta.
Mudo.
Nossa música está tocando.
Merda!
Você.
Você.
Você.
Você.
Você.
Desligo o rádio.
Desisto.
O que mais eu tenho a fazer?
Barzinho no fim da noite.
Futebol na tv.
Você.
Menina bonita dos olhos claros.
Sorrio encarando-a.
Ela sorri de volta.
Me aproximo.
Ofereço-lhe uma bebida.
A conversa flui. Passam-se 2 horas.
O clima aparece e o beijo acontece.
Eu gosto. Ah, eu gosto!
Mas não é você.
Você.
Você.
Você.
Você.
Não a levo para casa.
A deixo no bar, com a promessa de um outro encontro.
De um encontro que eu não sei se vai se repetir.
Porque estou acompanhado.
Em minha mente doentia, estou acompanhado.
Volto pra casa com você.
Tomo banho com você.
Escovo os dentes com você.
Deito com você.
Durmo.
Durmo e sonho.
Sonho com você.
O que mais eu tenho a fazer?

Então escrevo-lhe esta carta pedindo, rogando por uma cura, por uma resposta.
Se me enfeitiçou, quero o antídoto!
Bruxa!
Me dê este antídoto!
Pago o que quiser, dou-lhe o que desejar!
Mas me dê o antídoto que me liberará de minha miséria.
Que me livrará de você.
Que me livrará do que sou quando penso em você.
Que te arrancará do meu organismo, do meu espírito.
Você, você e você.
Apenas você.
Todos os dias.
Todos os dias de minha vida.
Todos os dias de minha vida desde que você foi.
Você.

 

Trecho do livro “Cartas de Gaveta”. Para comprar o ebook, clique aqui!

Evelyn Marques

Deixe um comentário