Quando criança, tinha sonhos de espuma.
Sua pequena mente criava grandes coisas.
O algodão doce era uma nuvem que se podia tocar.
As borboletas eram flores renascidas que aprenderam a voar.
Árvores eram as avós que morriam e se recusavam a abandonar seus netos.
E uma moeda de chocolate era privilégio de quem tinha fortuna.
Quando criança, o mundo era o seu lugar.
Cantava com os pássaros na primeira hora da manhã.
E um dia até casou um sapo com uma rã!
Folhas caídas do outono eram presentes do vento
Que largavam qualquer ventania para vê-la desfilar.
Quando era criança acreditava ser dona do mar.
Acreditava ser dona de tudo, até a mocidade chegar.
Então eles entraram.
Chamaram-na de boba, estúpida, imatura, cheia de muitos sonhos, sem noção de espaço e tempo.
Afinal, como pessoas poderiam falar com o vento?
Teve que aprender com os grandes a conviver, a grudar os pés no chão, a estourar as mais belas bolhas de sabão, a abrir tantos buracos em si até só sobrar espaço para a solidão.
Deram-lhe a receita de como matar-se para renascer, mas nenhuma asa de borboleta em suas costas esboçou crescer.
Quando criança, tinha grandes sonhos de espuma.
Agora era apenas adulta.
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