Instapost 004 – Hi, Barbie!

Fui essa semana ao cinema ver o filme que está dando o que falar e, sinceramente, foi muito melhor do que eu esperava!
Não sou uma fã de comédias, geralmente não é um gênero que me agrada muito, mas fiquei curiosa para ver o que a Greta iria fazer com esse enredo em mãos. E o resultado foi uma sátira inteligentíssima, sensível e nostálgica que retrata perfeitamente o que é ser uma mulher num mundo governado por homens que juram saber o que é melhor para nós (inclusive, acho que toda essa gritaria masculina em torno do filme é tudo macho com o ego ferido que se identificou com a babaquice dos Kens e não conseguiram suportar a mediocridade refletida na tela. Só isso explica).
Margot Robbie parece ter nascido para fazer esse papel, não apenas por sua figura belíssima, muito semelhante às clássicas Barbies, mas pela interpretação segura e na medida correta, conseguindo equilibrar com igual brilhantismo a comédia com o drama. Sinceramente, não consigo imaginar outra atriz na atual geração que pudesse ter feito igual ou melhor do que ela.
Uma das cenas mais bonitas do filme, que vi pouca gente comentando, é quando a Barbie, após uma crise de choro por se encontrar num mundo real que está muito longe de ser perfeito, se depara com uma senhorinha simpática sentada no banco ao seu lado, olha para ela e diz: “você é linda”, ao que a senhora responde: “eu sei”. Essa cena me fez refletir que muitas vezes nós somos capazes de enxergar a beleza em outras pessoas, mas raramente a enxergamos em nós mesmos.
A interpretação de Ryan Gosling como Ken também me pareceu impecável, principalmente porque costumo acompanhar o trabalho do ator e eu adoro como ele consegue fazer personagens completamente diferentes e passar uma verdade ao espectador que poucos atores da geração dele conseguem. Se já era uma admiradora antes desse filme, agora já estou indo providenciar minha carteirinha do fã-clube.
Li algumas críticas sobre o filme onde foi dito que a obra de Greta Gerwig não traz nenhuma novidade ou não aprofunda as questões sobre o patriarcado, mas acho que em nenhum momento a roteirista e diretora teve essa intenção. Nem todo filme vai (ou deve!) revelar todas as respostas às grandes questões da humanidade. Para mim, o que me agrada em uma produção, seja essa de qualquer gênero, é sua capacidade de se conectar com o espectador, de tocar alguém de uma forma que aquela obra nunca mais saia da memória e do coração de quem a viu. E foi exatamente isso que eu senti vendo Barbie, um filme marcante, necessário e que nos deixa com aquele gostinho de quero mais.

Essas Mulheres – Ebook

Mulheres fortes e ao mesmo tempo vulneráveis; mulheres que sonham voar mesmo se escondendo atrás de grades; pequenas mulheres que desejam ser grande; grandes mulheres que por dentro ainda são pequenas; mulheres que foram apagadas, mulheres que foram demonizadas; mulheres que lutam contra a própria mente, mulheres que sentem tudo intensamente; mulheres que buscam encontrar um amor, não apenas nos outros, mas principalmente dentro de si.

“Essas Mulheres” traz 14 pequenos contos sobre diversos tipos de mulheres que moram dentro de você, que moram dentro de todas nós, mulheres que desejam ter sua história contada e validada em um mundo controlado para não ouvir a voz de uma mulher.

Compre o ebook na Amazon clicando AQUI.

Sobre “Mulheres Que Correm Com Os Lobos” E Um Relato Pessoal

Sempre acreditei que os livros carregam uma espécie de magia. Eles têm o poder de te transportar para outros mundos, de mudar toda a sua vida em apenas algumas centenas de páginas e também de aparecer no seu caminho na hora certa, quando você mais estava precisando ler o que ele precisava lhe dizer. Penso que nem sempre escolhemos os livros… às vezes, sem que possamos perceber, são eles que escolhem a gente.
O livro “Mulheres Que Correm Com Os Lobos”, da psicóloga e escritora Clarissa Pinkola Estés, há três anos mora na minha estante e, apesar de ter uma vontade enorme de lê-lo, sempre acabava deixando pra depois e depois e depois até que ele passou todo esse tempo lá, intocado.
Desde a virada do ano eu tenho passado por uma profunda transformação emocional. A vida me obrigou a encarar meus piores medos, meus piores traumas para que pudesse sair do meu lugar de vítima e agarrar em minhas mãos minha verdadeira identidade, a me olhar no espelho e entender a mulher que sou e principalmente a mulher que quero ser. Nesse processo de profunda dor e autodescoberta, eu achei lá em janeiro um trecho em um site desse livro que definia perfeitamente o momento pelo qual eu estava passando e entendi que já estava mais do que na hora de encarar essa beleza de quase 600 páginas.
Nunca acreditei em coincidências e vejo o mundo como uma grande conexão, onde nos ligamos a certas pessoas e a certas coisas na hora certa. Mas a minha relação com esse livro foi além de qualquer explicação possível.
Nessa minha fase de “destruir para reconstruir” eu tive esse livro como guia, como se ele tivesse mesmo falando comigo. Ficava chocada como a cada trauma revivido, a cada monstro dentro de mim que eu precisava enfrentar, eu encontrava as respostas a cada capítulo lido. Pude ver todo o meu passado, todo o meu presente e prever o meu futuro a cada página virada. Em 4 meses eu adquiri uma sabedoria e uma compreensão de mim mesma como ser humano e, acima de tudo, como mulher, que não me foi possível em meus 28 anos vividos.
A leitura foi finalizada e eu ainda sigo no processo. Ainda tem muita dor pra curar, muito trauma pra entender e trabalhar, muita coisa pra evoluir. Mas sigo muito mais consciente do que eu quero, do que eu mereço e também amando muito mais o que sou e o que minha dor é capaz de produzir através da arte, da minha arte, essa arte que negligenciei por tanto tempo, mas agora não mais.
Desejo que toda mulher tenha contato com esse livro pelo menos uma vez na vida. Mas que chegue no momento certo, na hora em que você esteja mais precisando, para que ele possa ser apreciado e compreendido como deve ser. Para que ele dialogue com seus dilemas e suas dores. Para que ele ofereça respostas quando nada mais ao seu redor fizer sentido, nem você mesma. Para que ele também seja um caminho para a sua cura.
E como saber qual é o momento certo, quando você estará pronta para desfrutar dessa magia transmutada em palavras? Apenas deixe que ele chegue até você.
Os melhores livros sabem o caminho. Eles sempre sabem.

Sejamos Todos Feministas – O Livro Que Toda Pessoa Deveria Ler

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“A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura.”

“Sejamos Todos Feministas”, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, é um ensaio derivado de uma palestra que a escritora ofereceu em uma conferência Ted em dezembro de 2012. Chimamanda foi aplaudida de pé e a palestra fez tanto sucesso que a autora reescreveu alguns trechos e lançou uma nova versão em livro.
No ensaio, a autora aborda o tema da desigualdade de gêneros e nos mostra alguns exemplos que ela, amigas e conhecidas (com as quais todas as mulheres seguramente vão se identificar!) sofreram por causa do machismo que povoa quase todas as culturas desde o início dos tempos. Chimamanda também conta casos de amigos homens que, apesar de serem boas pessoas, também mantinham atitudes e pensamentos machistas e excludentes, devido a uma educação que ensina, tanto aos meninos quanto às meninas, que os homens devem escolher e mandar e as mulheres apenas obedecer. Esse tipo de educação não pode mais ser perpetuada nos dias de hoje.
“Precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente”, diz a autora em um dos trechos do livro. Não podemos querer que o conceito de uma sociedade mude se continuamos a educar as nossas crianças da mesma forma com que nossos pais nos criaram. Se ninguém diz a uma menina que ela não deve se sentir inferior por causa de seu gênero ou se ninguém explica a um menino que uma garota tem os mesmos direitos e poderes que ele, não podemos esperar que eles se tornem adultos bem resolvidos e realizados.
“Sejamos Todos Feministas” é uma introdução do que é realmente o pensamento feminista. É um livro que pode e deve ser livro por qualquer pessoa, de qualquer idade, quer você se sinta homem ou se sinta mulher, quer você seja quem seja. O livro possui apenas 63 páginas de linguagem fácil e clara, seus olhos não irão ficar cansados e seu cérebro irá agradecer por poder absorver grandiosas informações.
O livro é apenas um ensaio pequeno e por isso não entra em questões mais profundas, que devemos procurar futuramente para nos inteirarmos mais sobre o assunto. Mas é uma enriquecedora introdução, principalmente para aqueles que ainda possuem ideias tão tortas e desinformadas sobre o que é o feminismo.
O feminismo não é o contrário do machismo, não é pregar uma troca de papéis onde as mulheres devem mandar e controlar o mundo enquanto os homens apenas precisam obedecer. Feminismo é libertar-se da ideia de que somos um gênero mais fraco, menor e incapaz de fazer e realizar as mesmas coisas. É ouvir o outro lado, é se interessar e admirar as diferenças entre os sexos e respeitar-nos acima de tudo como iguais. Somos todos seres humanos e queremos um mundo melhor para nossos descendentes. Comecemos por dar o exemplo.
O livro físico não custa mais do que quinze reais e a cópia digital grátis pode ser encontrada na Amazon.
Leia o livro, absorva as palavras, reflita e então permita que este pequeno livro chegue às mãos do maior número de pessoas possível. Espalhar palavras e ideias que abram a cabeça das pessoas é nosso dever como individuo em uma sociedade. Se queremos mesmo um mundo melhor, façamos por onde.
Parafraseando Mário Quintana, livros são capazes de mudar pessoas e pessoas são capazes de mudar o mundo. Acredito que “Sejamos Todos Feministas” seja um destes livros.

Resenha: Um Teto Todo Seu, De Virginia Woolf.

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“Uma mulher precisa de um teto todo seu e 500 libras por ano se deseja escrever ficção”

“ As mulheres têm servido há séculos como espelhos, com poderes mágicos e deliciosos de refletir a figura do homem com o dobro do tamanho natural (…). É por isso que tanto Napoleão quanto Mussolini insistiam tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois, se elas não fossem inferiores, eles deixariam de crescer. Isso explica, em parte, a necessidade que as mulheres representam para os homens. E serve para explicar o quanto eles ficam incomodados com as críticas delas (…) Pois se ela resolver falar a verdade, a figura refletida no espelho encolherá; sua disposição para a vida diminuirá. Como ele continuará a fazer julgamentos, civilizar nativos, criar leis, escrever livros, vestir-se bem e discursar banquetes, a menos que consiga ver a si mesmo no café da manhã e no jantar com pelo menos o dobro do tamanho que realmente tem?”

O livro “Um Teto Todo Seu”, da escritora inglesa Virginia Woolf, marcou-a como um influente símbolo feminista. O ensaio – que foi escrito para uma palestra que Virginia daria para mulheres na Universidade de Cambridge – é escrito com um toque de ficção, onde Virginia discorre sobre suas ideias sob o pseudônimo de Mary Seaton (ou Benton, ou Hamilton ou Charmichael – referindo-se a uma balada antiga sobre as damas de companhia da rainha Mary Stuart, da Escócia) e faz uma narração sobre a busca dessa personagem pela resposta ao desafio que lhe foi proposto: falar sobre mulheres e ficção.
Já no começo do livro, a autora demonstra a submissão da mulher na sociedade da época através de simples detalhes – o fato de não poderem entrar na biblioteca dos homens (apenas acompanhadas de outro estudante ou com alguma carta de recomendação), de comer uma comida diferente, mais insossa, ali na própria faculdade, enquanto os homens têm a possibilidade de desfrutar de pratos mais requintados.
Partindo da questão de que não havia muitas mulheres escrevendo ficção na época – argumento que supostamente provava que o sexo masculino era intelectualmente superior ao masculino – Virginia revisita sua própria biblioteca à procura da história da mulher, desde a Idade Média, até os dias atuais (Virginia trabalhou no livro por volta do ano de 1928). Até pouco tempo atrás as mulheres recebiam pouca ou nenhuma educação, o que as impossibilitava de criar uma obra literária de destaque. Como produzir um livro de grande teor intelectual quando desde os primórdios a mulher foi criada para cuidar da casa, parir quantos filhos o marido quisesse e viver em função deste? Como conseguir sentar, pensar, escrever, dedicar-se a uma obra sem qualquer base educacional, em um ambiente cheio de crianças e, geralmente, com tão poucos recursos? É de se admirar que Charlote Brontë e Jane Austen tenham produzido obras clássicas como Jane Eyre e Orgulho e Preconceito, respectivamente, numa sociedade onde a mulher mal vivia para si mesma.
Para exemplificar seus argumentos, Woolf faz seguinte pergunta: E se Shakespeare tivesse uma irmã com o mesmo talento e base educacional que ele? Ela teria a oportunidade de explorar este talento e ser reconhecida mundialmente através dos séculos? Virginia então começa a narrar uma fictícia história sobre essa irmã que, obviamente, encontra bastante dificuldade – principalmente pelo preconceito – de evoluir e compartilhar seu talento.
Além do mais, como diz a frase clássica do livro, para uma mulher se dedicar à ficção, ela precisa de um teto todo seu e dinheiro suficiente para se sustentar. O que, na época, era privilégio para poucas.
Apesar de ter sido chamada para falar sobre a relação direta da mulher com a ficção, Virginia não dos dá uma ideia pronta sobre o assunto. Ela convida às mulheres a arregaçarem as mangas, molhar a pena no tinteiro e escrever, verdadeiramente, sobre o que se pensa, sobre o que se sente, sempre tentando enxergar além.
O livro finaliza com uma leve previsão sobre o futuro, onde ela imagina as mulheres tendo mais liberdade profissional, social e intelectual. O que, de fato, aconteceu. Contudo, estamos em 2014 e ainda existem homens ganhando o dobro do salário do que as mulheres, mesmo ambos exercendo a mesma função. Ainda somos julgadas sobre como nos vestimos, sobre o que pensamos e se decidimos ou não ter um parceiro até o fim de nossas vidas. Ainda há muito, muito a ser feito e conquistado.
“Um Teto Todo Seu” é um livro atemporal. É indicado para qualquer mulher que queira conhecer um pouco mais sobre a história de seu sexo, não só na área da Literatura, mas também em relação à sociedade patriarcal moralista e opressora. É para qualquer menina que esteja se transformando em mulher. É para qualquer senhora idosa que sobreviveu os anos ainda sob o pensamento machista da sociedade. E é também para os homens que querem ou precisam entender, nem que seja só um pouquinho, o passado injusto e cruel entre ambos os sexos, e enxergar a mulher como um outro ser humano, com as mesmas capacidades e talentos para alcançar o que quer que seja neste mundo.

Título: Um Teto Todo Seu
Autor: Virginia Woolf
Editora: Tordesilhas
Número de Páginas: 189