Now you only bring me black roses
And they crumble in the dust when they’re held
Now you only bring me black roses
Under your spell
Você me pede por palavras, mas eu não tenho nada a dizer. Tento enterrar suas ações em um caixão três metros abaixo da terra, mas você sempre chega com uma pá e joga tudo pra cima outra vez. Me encontro suja e cega, sem saber como tirar tanto peso sobre mim.
Você diz que me ama, que me ama, que me ama demais. Mas quando as luzes se apagam e a plateia se vai, só o que você faz, só o que você faz, só o que você faz é me deixar para trás.
Você diz que é o meu tudo, mas sob o seu feitiço sempre me encontro vazia, com nada. Por sua causa vivi toda uma vida frustrada e desperdiçada.
Você sempre diz que o mundo está contra você, mas eu sempre estive ao seu lado, erguendo-o, carregando-o sobre minhas costas, empurrando-o para frente. Mas você só sabe dar meia voltar e retornar, retornar e retornar para aquele mesmo bar. A bebida já destruiu seus olhos, aniquilou seu coração e transformou o seu sangue em uma espuma amarelada. “É para os momentos tristes”, você diz em uma segunda. “É para os momentos felizes”, você diz numa sexta. Em seu humor bipolar, só existem os extremos, só existem as segundas e as sextas. E toda a minha vida ao seu lado é resumida em segundas e sextas.
Por muito tempo me senti culpada por cada palavra dita, por cada chamada não atendida. Em uma frase bonita ou em uma rara e única ação bem sucedida, eu me cortava por dentro e me perguntava se todas as memórias, se todas as histórias presentes em minha cabeça que aparecem cada vez que o meu olhar cruza com o seu não eram invenções de uma criança abandonada, que tenta preencher com bonecos e rabiscos os vazios deixados pelos passos de outras pessoas. Sempre fui boa em contar histórias e diariamente me pergunto se não fiz de suas ações uma ficção que justificasse as lacunas dentro de mim. Mas então você liga, briga, religa e desliga toda a esperança de uma ficção. Você é mesmo real e toda a minha ilusão se esvai.
(Why’d you only call me when you’re high?)
Você me chama de astuta, de manipuladora cruel. Mas porque sou eu quem me sinto com cordas de nylon sobre meus braços, em minhas pernas, dentro de minha mente, cada vez que as lágrimas em seus olhos se fazem presente? Por que você insiste que sua dor é assim tão permanente?
Eu o perdoei até nas vezes em que eu fui obrigada a pedir perdão pelos seus erros. Você nunca foi fã de espelhos e nunca, nunca, nunca conseguiu ver o reflexo das pedras que deixa para trás. Mais um dia passa, mais um dia eu tento, ponho a mesa, jogo as cartas, tento fazê-lo discernir o bem do mal, o rei de ouro do rei de paus, mas você cisma em dizer que é tudo igual e joga a mesa para cima, deixando sobre mim uma bagunça abissal.
Agora a porta está fechada, a janela está cerrada e você continua apontando o dedo, dizendo que por sua dor sou culpada. Já se passaram duas décadas e continuamos decaindo, medindo nossas ações através de frias réguas, e nem por dois dias sequer dura nossa trégua.
Você diz que é a personificação da paciência, mas quando o lembro de todos os momentos de violência, seu olhar desaba sobre mim com desdém e seus lábios respondem um “você mereceu.” Eu mereci? Mereci o quê? Mereci por quê? Por sempre tentar salvar você?
Tudo o que eu sempre quis foi apenas um pedido de desculpas, um reconhecimento sincero e duradouro de suas falhas. Sua voz me pediu por palavras, mas quem precisa dizê-las é você. Será que um dia irá acontecer?
O mundo gira, os dias passam e de repente o telefone toca, toca, e toca sem parar. Seu nome aparece, mordo os lábios, olho a data no calendário e nem penso em atender.
É sexta feira.
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