Resenha: Select Poems of Emily Dickinson.

“My life closed twice before its close;
It yet remains to see
If immortality unveil
A third event to me,

So huge, so hopless to conceive,
As these that twice befell.
Parting is all we know of heaven,
And all we need of hell.”

“Selected Poems of Emily Dickinson” foi o único livro que consegui ler no mês de junho (a vida anda corrida demais se concentrar parece cada vez mais difícil…) e foi uma leitura ao mesmo tempo enriquecedora e desafiadora.
A poesia de Emily Dickinson se torna ainda mais especial quando você conhece um pouco da história da poetisa e consegue enxergar perfeitamente o caráter dela em sua obra. No geral, eu não gosto de poesia muito arquitetada, como se tivesse sido feita para impressionar mais do que para tocar o leitor. Poesia para mim tem um sentido muito maior, é quase como um caminho de cura quando tudo dói aqui dentro. Poesia não tem que ser pensada, tem que ser sentida profundamente, tem que ser um espelho onde outros vão se olhar e encontrar o próprio reflexo. E é exatamente isso o que sinto quando leio a poesia de Emily, eu consigo ver um pouco de mim nela, eu consigo enxergar um pouco da minha própria vida em suas palavras, mesmo que estejamos separadas por mais de um século de distância.
Foi a primeira vez que me arrisquei em ler Emily Dickinson no idioma original em inglês e essa foi a parte mais desafiadora. Confesso que penei bastante para entender o sentido de alguns poemas em função do inglês antigo e a forma com que Emily emprega as palavras na estrutura dos versos. Creio que consegui compreender 80% dos poemas dessa coletânea, então vou considerar isso uma vitória.
Para aqueles que não conhecem a obra de Emily, recomendo que procurem saber mais sobre sua biografia, pois acho essencial para ter uma visão mais abrangente de sua obra. Para mim, ela é uma das maiores poetisas da história e a forma como descreve o mundo em versos é uma inspiração para mim como escritora.
Ressalto também a edição belíssima da Barnes&Noble que fez um trabalho de encher os olhos na produção do livro e tornou a minha experiência de leitura ainda mais bonita. Um bom livro + um belo trabalho gráfico é o sonho de qualquer leitor e essa edição é extremamente satisfatória, tanto do ponto de vista literário, quanto estético.

Título: Selected Poemas Of Emily Dickinson
Autor: Emily Dickinson
Editora: Barnes&Noble
Número de Páginas: 116

Resenha: A Casa Das Estrelas.

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“A distância é alguém que se vai de alguém.” – Juan Camilo Osório, 8 anos.

“A eternidade é esperar uma pessoa.” – Weimar Grisales, 9 anos.

O lugar é um pequeno colégio, no estado de Antioquia, na Colômbia. O professor Javier Naranjo, num despretensioso desafio, pede que seus alunos do curso primário definam a palavra “criança”. O que é criança para uma criança? Para Luis Gabriel Mesa, de 7 anos, uma criança é “um amigo, que tem o cabelo curtinho, joga bola, pode brincar e ir ao circo”. Para Johanna Villa, de 8 anos, uma criança é “algo que não é cachorro, é um humano que todos temos que apreciar bem”. A partir dessas definições curiosas, o professor – abismado, impressionado com a descrição curiosa de pessoas tão pequeninas – passou a propor esse desafio em todas suas aulas, onde seus alunos descreviam a sua visão do mundo através de uma única palavra proposta.
O livro “A Casa das Estrelas” é uma reunião de todas essas interpretações únicas, resultado de anos de trabalho. Javier Naranjo colheu o que de melhor foi descrito e nos proporciona uma visão totalmente nova desse mundo em que um dia vivemos tão intensamente e que hoje, no mundo dos adultos, parecemos ter esquecido com extrema facilidade.
Acredito que subestimamos as mentes das crianças. Nos chamamos de “adultos”, somos estudados, vividos e desenvolvidos (em tese), e queremos ter sempre todas as respostas.  Mas o mundo não funciona dessa forma. Se tivermos dispostos a descer de nosso pedestal de arrogância, poderemos enxergar nossa existência de outra forma. E muitas vezes essa lição pode vir da mente de uma criança.
“A Casa das Estrelas” é um livro simples, pequeno, entretanto, bastante enriquecedor. Nos faz refletir um pouco mais sobre a inteligência das crianças e todo o seu enorme poder de observação. É um livro bem leve, cheio de gravuras apaixonantes, e pode ser lido em um único dia.
Indicação imprescindível para todos os educadores e para aquela criança adormecida que ainda vive dentro de nós.

Nome: A Casa Das Estrelas – O Universo Contado Pelas Crianças
Autor/Seleção: Javier Naranjo
Editora: Foz Editora
Número de Páginas: 125

Resenha: Um Teto Todo Seu, De Virginia Woolf.

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“Uma mulher precisa de um teto todo seu e 500 libras por ano se deseja escrever ficção”

“ As mulheres têm servido há séculos como espelhos, com poderes mágicos e deliciosos de refletir a figura do homem com o dobro do tamanho natural (…). É por isso que tanto Napoleão quanto Mussolini insistiam tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois, se elas não fossem inferiores, eles deixariam de crescer. Isso explica, em parte, a necessidade que as mulheres representam para os homens. E serve para explicar o quanto eles ficam incomodados com as críticas delas (…) Pois se ela resolver falar a verdade, a figura refletida no espelho encolherá; sua disposição para a vida diminuirá. Como ele continuará a fazer julgamentos, civilizar nativos, criar leis, escrever livros, vestir-se bem e discursar banquetes, a menos que consiga ver a si mesmo no café da manhã e no jantar com pelo menos o dobro do tamanho que realmente tem?”

O livro “Um Teto Todo Seu”, da escritora inglesa Virginia Woolf, marcou-a como um influente símbolo feminista. O ensaio – que foi escrito para uma palestra que Virginia daria para mulheres na Universidade de Cambridge – é escrito com um toque de ficção, onde Virginia discorre sobre suas ideias sob o pseudônimo de Mary Seaton (ou Benton, ou Hamilton ou Charmichael – referindo-se a uma balada antiga sobre as damas de companhia da rainha Mary Stuart, da Escócia) e faz uma narração sobre a busca dessa personagem pela resposta ao desafio que lhe foi proposto: falar sobre mulheres e ficção.
Já no começo do livro, a autora demonstra a submissão da mulher na sociedade da época através de simples detalhes – o fato de não poderem entrar na biblioteca dos homens (apenas acompanhadas de outro estudante ou com alguma carta de recomendação), de comer uma comida diferente, mais insossa, ali na própria faculdade, enquanto os homens têm a possibilidade de desfrutar de pratos mais requintados.
Partindo da questão de que não havia muitas mulheres escrevendo ficção na época – argumento que supostamente provava que o sexo masculino era intelectualmente superior ao masculino – Virginia revisita sua própria biblioteca à procura da história da mulher, desde a Idade Média, até os dias atuais (Virginia trabalhou no livro por volta do ano de 1928). Até pouco tempo atrás as mulheres recebiam pouca ou nenhuma educação, o que as impossibilitava de criar uma obra literária de destaque. Como produzir um livro de grande teor intelectual quando desde os primórdios a mulher foi criada para cuidar da casa, parir quantos filhos o marido quisesse e viver em função deste? Como conseguir sentar, pensar, escrever, dedicar-se a uma obra sem qualquer base educacional, em um ambiente cheio de crianças e, geralmente, com tão poucos recursos? É de se admirar que Charlote Brontë e Jane Austen tenham produzido obras clássicas como Jane Eyre e Orgulho e Preconceito, respectivamente, numa sociedade onde a mulher mal vivia para si mesma.
Para exemplificar seus argumentos, Woolf faz seguinte pergunta: E se Shakespeare tivesse uma irmã com o mesmo talento e base educacional que ele? Ela teria a oportunidade de explorar este talento e ser reconhecida mundialmente através dos séculos? Virginia então começa a narrar uma fictícia história sobre essa irmã que, obviamente, encontra bastante dificuldade – principalmente pelo preconceito – de evoluir e compartilhar seu talento.
Além do mais, como diz a frase clássica do livro, para uma mulher se dedicar à ficção, ela precisa de um teto todo seu e dinheiro suficiente para se sustentar. O que, na época, era privilégio para poucas.
Apesar de ter sido chamada para falar sobre a relação direta da mulher com a ficção, Virginia não dos dá uma ideia pronta sobre o assunto. Ela convida às mulheres a arregaçarem as mangas, molhar a pena no tinteiro e escrever, verdadeiramente, sobre o que se pensa, sobre o que se sente, sempre tentando enxergar além.
O livro finaliza com uma leve previsão sobre o futuro, onde ela imagina as mulheres tendo mais liberdade profissional, social e intelectual. O que, de fato, aconteceu. Contudo, estamos em 2014 e ainda existem homens ganhando o dobro do salário do que as mulheres, mesmo ambos exercendo a mesma função. Ainda somos julgadas sobre como nos vestimos, sobre o que pensamos e se decidimos ou não ter um parceiro até o fim de nossas vidas. Ainda há muito, muito a ser feito e conquistado.
“Um Teto Todo Seu” é um livro atemporal. É indicado para qualquer mulher que queira conhecer um pouco mais sobre a história de seu sexo, não só na área da Literatura, mas também em relação à sociedade patriarcal moralista e opressora. É para qualquer menina que esteja se transformando em mulher. É para qualquer senhora idosa que sobreviveu os anos ainda sob o pensamento machista da sociedade. E é também para os homens que querem ou precisam entender, nem que seja só um pouquinho, o passado injusto e cruel entre ambos os sexos, e enxergar a mulher como um outro ser humano, com as mesmas capacidades e talentos para alcançar o que quer que seja neste mundo.

Título: Um Teto Todo Seu
Autor: Virginia Woolf
Editora: Tordesilhas
Número de Páginas: 189