#7 – Uma História Sobre Fantasmas em III Atos [Youtube]

Essa não é uma história de terror. Ou talvez seja. Depende de como você a entende. “Uma História Sobre Fantasmas em III Atos” é um conto poético que estará presente num livro que irei lançar em breve. Um livro que fala sobre (muitos) fantasmas, uma caixa de madeira pintada em lilás e uma caçadora do invisível.

#7 – Uma História Sobre Fantasmas em III Atos [Youtube]

Essa não é uma história de terror. Ou talvez seja. Depende de como você a entende. “Uma História Sobre Fantasmas em III Atos” é um conto poético que estará presente num livro que irei lançar em breve. Um livro que fala sobre (muitos) fantasmas, uma caixa de madeira pintada em lilás e uma caçadora do invisível.

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Uma História Sobre Fantasmas em III Atos.

I.

Graças a você não tenho mais medo de fantasmas.
Quando era criança, fantasmas apareciam em meus sonhos e continuavam ao meu lado mesmo depois de acordada.
Costumava chamar minha mãe no meio da noite em busca de proteção, mas ela dizia para que eu fechasse os olhos e esperasse os fantasmas desaparecerem.
Mas eles nunca desapareciam.
Eles continuavam vindo e vindo até o dia em que decidi não dormir mais à noite.
Fantasmas têm medo da luz. E eu só encontrava a paz quando o sol despontava no horizonte.
As pessoas me julgaram dizendo que eu estava arruinando meu corpo. Mal sabiam elas que apenas estava tentando salvar minha mente.

II.

No primeiro dia em que nos conhecemos, você me pediu que caminhasse em sua direção e eu me vi incapaz de dizer não. Subi uma montanha até você, sem imaginar que aceitar a este pedido custaria toda a minha alma.
Eu subi uma montanha e, quando cheguei ao topo, decidi construir uma casa dentro de seus olhos. Eles me eram familiares e eu não entendia por quê.
(Até hoje não entendo o porquê)
Você me deu boas vindas e eu me senti bem-vinda.
Eu construí uma casa dentro de seus olhos e por um mísero segundo pensei que havia encontrado o lar que sempre procurei.
Mas não demorou para que eu começasse a ver, começasse a ver fantasmas em seus olhos, dentro da casa que eu construí com tanto cuidado.
Foi então que percebi que não era a única que lutava contra fantasmas.
Decidi que poderia salvar você, porque eu, apenas eu sabia muito bem como lutar contra fantasmas ou escapar deles. Eu o avisei, eu abri meus braços e meu coração para que o menino que chora dentro do seu peito pudesse encontrar a saída e construir uma casa dentro de meus olhos.
Dentro de mim você estaria seguro. Tinha certeza disso.
Busquei seu olhar, abri a porta para que escapássemos juntos, entrelacei meus dedos com os seus, mas você não se moveu.
Você não queria achar a saída.
Ao contrário de mim, você nunca teve problemas para dormir.
Ao contrário de mim, o menino que você um dia foi (para mim, o menino que você ainda é) fez amizade com seus fantasmas e prometeu nunca deixá-los.
(Você de fato é um homem fiel)
Foi preciso me partir em mil pedaços para entender que você não queria uma saída, que não precisava de salvação.
Que você não precisava e nem mesmo queria uma casa dentro de meus olhos.
Foi então que percebi que fugi de fantasmas a vida inteira para acabar me apaixonando por um.

III.

No último dia em que nos vimos, você fechou seus olhos para mim. Você fechou para sempre a porta da casa que eu construí com tanto cuidado e negou que um dia tivesse me dado as boas-vindas.
Negou que um dia eu pude viver dentro de seus olhos.
Negou tudo.
Eu tenho dormido à noite desde então.
Graças a você não tenho mais medo de fantasmas.
Não tenho mais medo de nada.
Eu ainda vejo fantasmas em sonhos, ainda os sinto quando acordo. Mas eles não me assustam.
Porque desde o último dia em que nos vimos, nada me assusta mais do que a ideia de ter para sempre o seu fantasma dentro de mim.