InstaPost #005 – Setembro Amarelo

Iniciado em 2015, o Setembro Amarelo é uma campanha brasileira que busca a prevenção do suicídio e também estimular pessoas que estejam passando por um momento difícil a pedirem ajuda.

Saúde mental é um tema que me toca pessoalmente, uma vez que luto contra a depressão e ansiedade crônica já há 15 anos. E se tem uma coisa que aprendi durante todo esse tempo é que a única maneira de manter nossa mente equilibrada é estar aberto a falar sobre o assunto.

Em uma era onde as pessoas nas redes sociais só expõem a parte feliz (e às vezes mentirosa) da vida, é muito fácil cairmos na ilusão de que tá todo mundo feliz e prosperando, enquanto somos os únicos seres fracassados do mundo que não conseguimos estar bem como os outros. E esse é um pensamento perigoso, principalmente se a pessoa não tem uma base familiar sólida para se apoiar ou amigos de confiança a quem recorrer. E essa sensação de solidão profunda pode levar a medidas extremas e desesperadas.

Tanto meu livro de contos “Essas Mulheres” como o meu romance “Need” falam explicitamente sobre depressão e suicídio, mas falam principalmente sobre pessoas que estão lutando para seguir em frente mesmo em meio a tantos traumas e dores. Mas neste Setembro Amarelo eu quero trazer também mais postes sobre o assunto para que isso deixe de ser tabu e a discussão possa ser cada vez mais naturalizada em nossa sociedade.

Para aqueles que estão lendo esse texto e sentem que precisam de ajuda, não deixem de ligar para o número 188. É gratuito e funciona 24 horas por dia. Você também pode seguir o @cvvoficial ou entrar no site www.cvv.org.br para mais informações.

Não se esqueçam que pedir ajuda jamais será fraqueza, muito pelo contrário… é um ato de coragem! Sua vida importa e muito! ❤️

Laila e a Primavera

É dito que a primavera vem vindo e Laila sai correndo pela grama.
Pequena moça de cabelos cacheados, loiros, até a cintura, Laila sorri para o vento fresco trajando um vestido branco, tão branco quanto os lírios que idolatra.
É dito que a primavera vem vindo e Laila acredita. Não tem noção de muita coisa, mas reconhece quando a brisa toca a sua pele de forma diferente, quando o ar gélido já não lhe oprime os pulmões e quando a esperança torna a brilhar em seus olhos castanhos.
“É primavera!” – grita a menina com a voz jovem de seus dezoito anos de idade. – “É primavera, olhem! A felicidade está voltando!”
Laila é seguida por suas cuidadoras, por moças dez anos mais velhas que ela e que sempre estão ao seu lado. Até hoje não sabe, não entende por que estão ali, por que cismam em lhe seguir, mas não importa, não importa nem um pouco!
“É primavera!”, segue gritando, enquanto rodopia com as borboletas multicoloridas ao seu redor.
É dito que a primavera vem vindo e que ele está voltando!
Laila senta-se sobre a grama, descansa de seus rodopios e olha o delicado relógio em seu pulso. Falta muito para o meio-dia e ela nem sabe ao certo porque está esperando o meio-dia. Ele não disse hora, não precisou muita coisa, só fez promessas, disse que pediria ao seu pai sua mão em casamento, como toda dama de boa família merecia, e Laila acreditava que pontualmente ali ele estaria.
É verdade, ele viria, com seu terno marrom, o cabelo engomado, com um porte de lorde inglês, coluna ereta e voz grave. Laila nunca havia visto um lorde inglês, raramente saía de casa depois de seus quinze anos completos, mas imaginava que ele parecesse um.
É dito que a primavera vem vindo e Laila gargalha de felicidade junto ao canto dos pássaros que vieram cantar com a menina uma canção de alegria e amor. Primavera significa muitas coisas, significa botões dando flor, o fim de um inverno gelado, o renascimento do sol por detrás da colina, o regresso dele, o pedido de casamento e seu final feliz!
É dito que a primavera vem vindo e ali estava ele, finalmente!
“Olhem, olhem, ele voltou!” – berrava a menina aos saltos, apontando para a imagem que via atrás dos portões de ferro que protegiam o terreno da enorme propriedade de seu pai. – “Ali está, não estão vendo? Ali vem ele, meu amor, meu amor voltou!”. Não era ainda meio-dia, pensou Laila, nem sabia que horas eram, não tinha noção das coisas, nunca teve e isso nunca importou.
A felicidade fez flores brotarem em seu peito, flores brancas, lírios, os mais belos lírios que os olhos de Laila haviam visto!
“Vamos, abram os portões! Abram os portões, ele chegou! Ele chegou!”
A menina continuava a rir com os pássaros, a rodopiar com as borboletas e a colher lírios de seu peito. Ele lhe sorria por detrás do portão e acenava, estava ali e era chegado o momento! Pediria a sua mão e Laila, a pequena e sonhadora Laila, teria seu tão esperado final feliz!


**


É dito que a primavera vem vindo, mas ela não chega, ela nunca chega para o mundo fora de Laila.
Suas cuidadoras se entreolham, tristes, esperando que o pico de euforia acabe, que um dia esse pesadelo termine, em algum momento dos anos, em algum espaço do tempo, como que por um milagre.
Suas cuidadoras esperam, como sempre esperam todos os dias, há três anos, o despertar do sonho, esperam os lírios destroçados caírem do peito de Laila para então se levantarem, colherem suas pétalas e regressarem com a menina catatônica à casa, num ciclo que não termina e não tem previsão de terminar.
Laila sonha e sorri, canta e se declara para o vento, apenas para o vento, que passa e passa invisível do outro lado do portão.

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Mulheres fortes e ao mesmo tempo vulneráveis; mulheres que sonham voar mesmo se escondendo atrás de grades; pequenas mulheres que desejam ser grande; grandes mulheres que por dentro ainda são pequenas; mulheres que foram apagadas, mulheres que foram demonizadas; mulheres que lutam contra a própria mente, mulheres que sentem tudo intensamente; mulheres que buscam encontrar um amor, não apenas nos outros, mas principalmente dentro de si.

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