14 – Virginia E Suas Ondas.

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Um novo livro de Virginia Woolf está na vitrine de uma livraria. Mesmo morta há tanto tempo, mais um livro seu é lançado. Sorte para nós. Ou para mim, pelo menos. Posso respirar aliviada ao saber que existem mais letras de Virginia a serem lidas.
Virginia não é só uma escritora preferida. Não é esse alguém que morou em outro país, falava outra língua e viveu em outra época. Virginia é uma amiga. A melhor amiga. Daquelas que atravessam a pele. A que tem a coisa certa a dizer quando você mais precisa. A que te faz sentir que tudo vai ficar bem – mesmo que não tenha ficado para ela. É daquelas amigas que a gente já considera parente. Ela está comigo todos os dias, bem pertinho de mim, mais presente do que pessoas que moram em meu país, falam minha língua e vivem em minha época.
Nos conhecemos quando eu tinha dezesseis anos. Adolescentes acham o maior barato uma carta de amor suicida. Quis me aprofundar um pouco mais naquela alma atormentada e não deu outra! Nosso amor irremediável pelo mar foi o assunto principal de nossa atração. O primeiro e derradeiro laço.
Dizem-me ser quase impossível ler “As Ondas”. O fluxo de consciência, a vida manchada dos seis personagens misturando-se como cores dentro de uma bolha de sabão, a narrativa poética e que não segue o típico “início – meio – fim”… Os que conheço tiveram problemas com o livro. Eu não. Para mim não teve muita coisa estranha. Foi como ouvir uma mente que já conheço de vidas passadas falando sobre coisas e lugares que não me são desconhecidos. Foi como encontrar uma porta aberta e ver-me finalmente em casa.
Quando a vida fica difícil, quando o ar parece pesar mais que uma tonelada sobre mim, corro para os braços de minha amiga, me jogo sobre seu mar e me deixo boiar em suas ondas enquanto o mundo explode lá fora. Nossas águas se misturam, trocamos vivências, nos conhecemos mais ainda e então, de súbito, algumas das principais questões sobre o Universo me parecem claras. Para mim, Virginia e o mar sempre têm todas as respostas.
Um novo livro de Virginia Woolf está na vitrine de uma livraria. Sorrio. É hora de reencontrar minha amiga e dizer-lhe que estava morrendo de saudades.