Prosa E Verso: O Fim Do Caderno Literário Do Jornal “O Globo”.

large

No último sábado, o caderno Prosa e Verso, do jornal carioca O Globo, foi encerrado de forma repentina e melancólica. O que era antes um espaço para divulgar e falar sobre Literatura, foi incorporado ao Segundo Caderno, uma outra seção do jornal, com uma “honrosa” folha frente e verso. O principal colunista do carinhosamente chamado Prosa, José Castello, anunciou sua despedida em seu blog do mesmo jornal, criticando severamente a decisão do fechamento de um espaço que podia não ser mais o popular – e, sejamos francos, a literatura não é o assunto mais popular em nenhum setor deste país -, mas que tinha seus leitores e aprendizes fiéis (leia o seu desabafo e despedida aqui).
Eu era uma dessas aprendizes. Assinava (e ainda assino, porém não sei por quanto tempo mais) O Globo aos fins de semana apenas para ler o caderno, que sempre me ajudou muito na evolução como escritora e como leitora também. Através do Prosa conheci diversos autores e pensadores, que mudaram a minha forma de escrever e pensar o mundo.
A cada sábado o caderno trazia um novo jeito de ver a política, a filosofia, a religião, o feminismo, os direitos das classes mais pobres e todos os assuntos realmente importantes, através de entrevistas inteligentes, matérias e resenhas muito bem trabalhadas, além de anunciar concursos e cursos no âmbito da psicologia, literatura e filosofia. Porém, a partir de agora, nada mais desse conteúdo riquíssimo voltará a ser o mesmo.
Uma folha frente e verso num dos jornais mais populares do país para falar de literatura de um jeito crítico e como forma de evolução de pensamento não é o bastante. Uma folha frente e verso para formar leitores num país onde se lê em média de 1 a 2 livros por ano, não é o bastante. E o fechamento do caderno só demonstra o quanto os livros e a literatura no Brasil estão cada vez mais sendo desprezados e apequenados. É uma vergonha. Mais uma pra coleção da nossa estimada pátria.
Quem não tem amor ou não entende da importância do assunto pode pensar que num momento de crise como a qual estamos vivendo é muito mais importante falar sobre Dilma, sobre Operação Lava-Jato, Cunha, ou o declínio cada vez mais vertiginoso da economia, mas a literatura e a educação deveriam ter tanta importância quanto. Uma olhada na História mundial basta para saber que a identidade e o valor de uma nação não é feita somente de política e economia, mas sim de sua cultura e de suas criações que devem crescer e propagar-se continuamente. E a nossa anda cada dia mais desprezada.
Que o fechamento do caderno Prosa e Verso seja apenas um incentivo para que nós – leitores, escritores, amantes da literatura etc. – continuemos lutando para que nossa cultura e literatura não se perca. Que mesmo através de simples blogs e sites como este aqui a nossa parte seja feita, por menor que seja, para continuar divulgando e espalhando por todos os cantos, não só a literatura em si, como também o seu enorme valor em um país que ainda não entendeu o livro e o pensamento crítico como forma de evolução primordial para uma sociedade.
Se as letras e o pensamento crítico desaparecerem do nosso cotidiano, o que será de todos nós?
Eu não quero nem imaginar a resposta.

Evelyn Marques