Nós temos tanto o que falar…

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Nós temos tanto o que falar e falamos sobre o tempo.
Poderíamos estar falando do quanto sentiu minha falta e eu estaria declarando meu amor por sua camisa xadrez vermelha, que tanto adoro. Já disse o quanto você fica bem nela? Imagino que sim.
Nós temos tanto o que falar e falamos sobre o tempo.
Talvez seja apenas para quebrar o gelo, para fugirmos deste silêncio constrangedor que caiu sobre nossas cabeças desde que nossos olhos se cruzaram. Ou talvez seja apenas porque não há mais nada para se falar.
Será?
Eu e você?
Como?
Como foi acontecer?
Sempre tivemos as melhores conversas. Sempre soubemos achar um assunto para nossas vozes se cruzassem até transformarem-se em um som único e singular.  E quando não havia um assunto… Ah! Nós inventávamos! Qualquer motivo era motivo o bastante para falarmos e falarmos sem parar.
Mas aqui estamos nós.
Cara a cara, olho no olho.
Aqui estamos nós e comentamos sobre o sol. Comentamos o calor atípico de uma tarde de inverno e você conta coisas banais, sobre a alta temperatura e mais.
Nós temos tanto o que falar… Oh! Como temos! Mas ao invés disso, falamos sobre o tempo.
Eu quero perguntar se você está bem. Quero perguntar sobre sua família, sobre sua vida, sobre seus sentimentos.
Quero perguntar sobre sua carreira, sobre seus estudos, sobre seus sonhos.
Tenho muitas, muitas perguntas.
Sou curiosa, você sabe.
Quero saber, quero saber de tudo.
Principalmente quando envolve você.
Mas nós ainda seguimos falando sobre o tempo.
Você comenta que seu picolé derreteu em poucos segundos, lambuzando-lhe as mãos, e eu apenas sorrio ao imaginar a cena.
Enquanto isso, enquanto os minutos passam e os ponteiros do relógio giram, as perguntas seguem entaladas em minha garganta, mas não consigo colocá-las para fora.
Você está apaixonado por um outro alguém?
Você me esqueceu?
Será que poderíamos tentar mais uma vez?
Mas a conversa sobre o tempo continua e eu vou perdendo a coragem pouco a pouco.
As palavras vão morrendo, a coragem desvanecendo e tudo o que eu consigo fazer é continuar sorrindo e assentindo sobre um picolé derretido.
Nós temos tanto o que falar e falamos sobre o tempo.
Eu ainda estou apaixonada por você.
Você ainda está apaixonado por mim?
Nós temos tanto o que falar… Tanto, tanto o que falar…
Mas tudo o que fazemos é falar sobre o tempo.

Rosa e Eucalipto.

parte 1

— Você me cura. – ela sussurrou num quarto escuro, enquanto sua mão deslizava delicadamente pela bochecha do rapaz. – Sempre que me sinto doente, sempre que acho que vou perecer ante o olhar que tanto me faz mal, você chega e me segura. Você chega e me cura. E eu te amo por isso.
— Não da forma como o ama. Não da forma como eu te amo. – respondeu com certa amargura, deixando que as garras do ciúme penetrassem em seu puro coração. – Eu não consigo fazer sua cabeça girar. Eu não faço você sentir tonturas ou chorar de agonia. Eu não tenho o mesmo efeito sobre você que ele tem. Eu não te faço passar mal de amor, não faço sua pele queimar dolorosamente. Como ousa dizer me amar? Eu não sou ele. E jamais poderei ser.
— Você é melhor. – respondeu com meiguice, bloqueando as palavras enegrecidas que saíam dos lábios de alguém tão especial. – Será que você não sabe? Esse é o melhor tipo de amor. O amor que acalma ao invés de rasgar o coração. O amor que canta suavemente lindas melodias ao invés daquele que berra em seus ouvidos, ao ponto de deixar-lhe louco. O amor que faz você sentir estar no lugar certo. O amor que parece uma bênção, como gotas cristalizadas de chuva após um longo período de sol escaldante. O amor que acende uma alma, não aquele que a martiriza com pensamentos enlouquecedores e suicidas. – ela pegou com cuidado a mão rija sobre o lençol branco e depositou um singelo beijo sobre sua palma. O beijo lhe causou uma sensação extasiante, fazendo um caminho fresco por sua pele, que sabia a uma mistura de rosa com eucalipto. – Será que não vê? O melhor amor é o que faz viver, não o que mata. E o seu amor me faz querer viver mil encarnações ao seu lado, não importa quantas vezes o mundo queira cair ao meu redor.
— Ainda assim… – insistiu, mesmo tendo de lutar contra o efeito anestésico de seu beijo. – Você sempre irá amá-lo também.
— Isso não significa que eu não tenha feito uma escolha. E eu escolho você. Eu sempre vou escolher você.

Os braços carinhosos envolveram seu pescoço, calando-o de uma vez.
O silêncio pesou sobre o quarto escuro enquanto aquela sensação refrescante ainda tomava-o por inteiro, como um feitiço mágico que o impedia de ir embora.
Que o impedia de sair para procurar um coração que pudesse vir a ser inteiramente dele.
Porque ele não conseguia, ele não podia largar a rosa e o eucalipto que sempre navegavam por suas veias cada vez que ambos se roçavam.
Mas quando ela o tocava assim, quando o fazia sentir-se especial, despido de todos os pesadelos, em sua máxima vulnerabilidade, ele entendia o que era a calmaria de um amor puro e sincero do qual ela falava.
Entendia perfeitamente o que era o refresco de gotas cristalizadas de chuva após um longo período de sol escaldante.
Sentia a alma acendida, viva, desejando viver mil encarnações ao lado dela, não importava quantas vezes o mundo desejasse cair ao seu redor.
Porque – ainda que dividido – o amor dela o curava.
E – infelizmente ou não – era disso, somente disso que ele precisava para continuar respirando neste mundo.

É um dia chuvoso.

dia chuvoso

É um dia chuvoso e eu ainda estou esperando por você.
É um dia chuvoso e eu ainda não consigo desistir de você.
Aqui, nessa sala branca e iluminada, abraço meu próprio corpo, a fim de me proteger dos pingos de chuva que são tolhidos pela larga parede de vidro.
Aqui, nessa sala branca e iluminada, escuto o alto barulho do silêncio que parece arrebentar meus tímpanos.
Que me afoga em seu mar de vozes silenciosas.
É um dia chuvoso e tudo está vazio.
É um dia chuvoso e você não está aqui.
Primavera, verão, outono, inverno.
As estações passaram.
Tudo passou.
Você passou.
Mas eu fiquei.
Fiquei com um lápis barato em minha mão dolorida e um bando de cartas que eu jamais entregarei.
Um bando de cartas que em poucos momentos rasgarei.
É um dia chuvoso e eu estou completamente sozinha.
É um dia chuvoso e eu ainda não consigo seguir em frente.
Parece fácil. É só colocar um pé na frente do outro; primeiro o direito, depois o esquerdo.  Parece fácil. Mas não é.
Porque meus pés não se locomovem.
Meus pés estão petrificados, grudados no chão. Este mesmo chão que por tanto tempo pisaste.
Eles não se mexem, temendo apagar os rastros das pegadas que você deixou.
Aqui, nessa sala branca e vazia, eu vejo nós dois.
Aqui, nessa sala branca e vazia, estamos dançando uma valsa vienense.
Anos atrás. Séculos atrás. Eras atrás.
Aqui, nessa sala branca e vazia, tudo o que restou foram fantasmas que agora bailam destemidamente ante meus olhos.
Fantasmas do que fomos.
Fantasmas do que seríamos.
Fantasmas do que nunca seremos.
É um dia chuvoso e eu te perdi.
É um dia chuvoso e eu me perdi.
Uma sala branca e iluminada…
É um dia chuvoso…
É apenas um dia chuvoso…

Estranhos.

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Há um garoto e uma garota em uma biblioteca.
Por semanas ele tem olhado para ela.
Por ela semanas ela tem olhado para ele.
Por semanas ele tem fingido que não olha.
Por semanas ela tem fingido que não olha.
Ele é muito tímido.
Ela é muito tímida.
Ele acha que não é bom o bastante para ela.
Ela acha que não é boa o bastante para ele.
Ele acha que levará um fora caso se aproxime e finalmente diga um simples “oi”.
Ela acha que ele pensará que é uma oferecida caso se aproxime e finalmente diga um simples “oi”.
Ele se esconde atrás dos seus livros.
Ela se esconde atrás de seus cadernos.
Ele sabe que ela morde a tampa da caneta quando está pensando.
Ela sabe que ele esconde as mãos nos bolsos quando está nervoso.
Ele desejava poder ser mais alto, mais bonito, mais extrovertido.
Ela desejava poder ser mais magra, mais inteligente, boa o bastante.
Ele acha que ela nunca irá entender e aceitar alguém como ele.
Ela acha que ele nunca irá entender e aceitar alguém como ela.
Ele é realmente estranho.
Ela é realmente estranha.
Ele é a alma gêmea dela.
Ela é a alma gêmea dele.
Mas esta história jamais terá um final feliz ou sequer um final.
Porque ele se recusa a dar o primeiro passo.
Porque ela recusa a dar o primeiro passo.
Ninguém anda, ninguém fala, ninguém faz absolutamente nada para mudar isso.
Eles são agora apenas um garoto e uma garota sentados em uma biblioteca.
E, talvez, é apenas isso que serão pelo resto de suas vidas.

Reflexos.

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Me tiraram tudo o que eu tinha de mais bonito. E, agora, não sei lidar com o feio.
Odeio chorar na claridade. Me envergonha. Ver minha própria miséria me incomoda. Sim… me incomoda. Sinto vergonha. Sinto-me fraca. A claridade, a claridade!
Por favor, dê-me um pouco de noite, de lágrimas derramadas debaixo do edredon. Eu simplesmente… não posso me olhar no espelho agora…

(Need, Capítulo 6)

Bússola Quebrada.

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Norte. Sul. Leste. Oeste.
Os caminhos estão aí, ao meu alcance, à minha frente, esperando que eu dê os primeiros passos para trilhá-los. Mas sigo aqui com a dúvida, sigo com o medo, sigo com a insegurança.
Qualquer passo que der pode indicar o fim.
Qualquer passo que der pode indicar o começo.
Há vários caminhos, porém todos sem respostas corretas e exatas. A verdade é que somos a flecha do próprio destino, onde ditamos por onde começar a caminhada. Há que seguir o rumo sem que ninguém interfira em nossas escolhas. Ainda que a bússola esteja quebrada, a mente confusa e a alma apagada, nosso destino ainda pertence apenas a nós mesmos. E a mais ninguém.
Assim como um relógio quebrado em algum momento irá marcara a hora correta, uma bússola quebrada pode mostrar o caminho certo pelo menos uma vez também. E mesmo que percamos a direção, é nosso dever recomeçar, fazendo tudo de novo outra vez.
Não é seguro. Não é fácil. É arriscado. Mas talvez… valha a pena no final.
Pelo menos eu acho.

Números e Palavras.

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Era uma vez, o zero. O inútil, o esquerdo, o atrapalhado não multiplicável. O sozinho.
Então, o 1 chegou e lhe estendeu a mão. Fez promessas, o ergueu do chão e tirou da solidão. Em seguida, foi embora, sem qualquer explicação.
Veio o 2. Estendeu-lhe a mão. Fez promessas também. O zero acreditou. E foi tirado da solidão. Em seguida, o 2 foi embora, sem qualquer explicação.
Veio o 3. Estendeu-lhe a mão. Disse que ficaria. O ergueu do chão. Disse que o amava. O tirou da solidão. Em seguida, foi embora, sem qualquer explicação.
Depois, vieram o 4, o 5 e o 6 ; todos ao mesmo tempo. Todos erguendo-lhe a mão. Todos tirando-o da solidão. O zero os amou. Mas não acreditou dessa vez. Não mais.
Por que o 4, 5 e o 6 ficariam, quando o 1, 2 e o 3 não aguentaram? O que teria de diferente agora? O zero não mudou. Continuou o mesmo. A mesma mediocridade à esquerda, o mesmo número não multiplicável… O mesmo que atrapalha todas as equações longas.
Como se pode confiar em números quando eles não sabem lidar com as palavras? Quando não sabem manter uma promessa?
O tempo passou. Eles permaneceram. O zero se assustou. Não esperava. O zero, agora, “confiou”. E essa foi a pior parte. Porque o zero passou a se sentir em um campo minado, onde qualquer passo em falso culminaria em uma explosão. Onde qualquer passo em falso pudesse causar uma destruição.
Problemas acontecem em todos os relacionamentos. Mas o amor envolvido nestes sempre resolve tudo. Era o que o 4, o 5 e o 6 falavam. Era no que eles tentavam fazer o zero acreditar. Mas quando há mentiras antes, quando há um passado doloroso e traumatizante, a crença nos números é subtraída e os medos são somados. O amor não pode ser multiplicado e as confidências divididas. E o zero cai de novo. Ele volta para o seu lugar, na frente de todos os números, o que vem antes do primeiro, este, o mais brilhante de todos, ofuscando qualquer brilho que o zero possa ter.
O zero continua ali, sempre esquecido, sempre não-multiplicável e sempre complicado, sentindo que atrapalha todos os números perfeitos à sua frente.
O 4, o 5 e o 6 ainda estão presentes. Milagrosamente não foram embora. E o zero os ama cada dia mais. Parece que os números conseguem manter a palavra, no fim das contas.
Mas a pergunta que ainda perturba o pobre zero, dia após dia, é… Até quando?

Little Dreamer.

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Hello, como você está?
Eu sinto sua falta. Faz tempo que não te vejo. Você nunca mais veio me visitar em sonhos. Sinto falta de olhar em seus olhos. Nem que seja por poucos segundos.
Mas me diga, como está? O mar é mesmo tão azul como dizem? As flores possuem mesmo cores vibrantes? Me diga… Me diga como é se sentir leve. Você carregava um peso tão grande aqui… Espero que agora possa flutuar como o vento.
Hoje não é nenhum dia especial. Hoje não é seu aniversário e nem o dia ou o mês que você se foi. Mas eu não preciso de motivos para pensar em você. Eu faço isso todos os dias. Todo o tempo. Porque você está aqui dentro.
Sinto falta de tudo em você. Da sua risada peculiar, que às vezes me pego imitando. Do seu cabelo lindo e perfeito, que eu tanto admirava. Você sabia o quanto eu o amava, certo?
Sinto falta das conversas sobre música boa, sobre o que são verdadeiramente. Seus comentários azedos me divertiam. Você era (é) tão inteligente. Sinto falta até de quando me xingava. Nunca pensei que fosse sentir falta disso. Mas eu sinto.
Hey, me diga… Você conseguiu nosso Johnny Bravo? Guarde um pra mim. Um dia estarei aí. Guarde um lugar pra mim também, logo atrás de você. Exatamente como era todos os dias. Quando eu chegar aí, quero mexer nos seus cabelos de novo. E ver aquele sorriso lindo em seu rosto. Você ficava mais linda ainda quando sorria. E desejo que faça muito isso hoje em dia.
Quando você nos deixou, eu me culpei. Nossos últimos dias não foram os melhores. Eu tive dúvidas. Pra falar a verdade, até hoje tenho. Mas isso não importa agora. Não mais. Porque eu sei e tenho plena certeza do que eu sinto. E, por enquanto, isso é o bastante.
Espero que escute minhas palavras diárias. Espero que escute meus pensamentos diários, onde eu digo tudo o que eu, por um motivo ou outro, não pude dizer aqui. Espero que esteja me vendo. Espero que, sempre quando estiver livre, esteja por perto.
Eu sei que você deve estar fazendo um trabalho fantástico. Eu sei que está. Esse sempre foi seu objetivo. E você é brilhante em tudo o que faz.
Saiba que eu te amo e sempre te amei, apesar de tudo. E um dia eu estarei atrás de você outra vez. Como nos velhos tempos.
Nunca se esqueça de mim.
Te vejo na outra vida ♥

So long my little dreamer, I’ll miss your face… We’ll always stay connected through time and space…

Metamorfose Ambulante.

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“Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”

(Raul Seixas)

Não sou a mesma que fui ontem. O mundo gira sem parar, assim como minhas opiniões acerca dele. As coisas mudam, as pessoas também. E eu… eu me transformo a cada hora.
Meus olhos observam o mundo ao redor na mesma velocidade que o tic-tac do relógio. Eu penso o tempo todo, mudo todo o tempo. Mas nunca sem coerência.
Falta de personalidade é defender uma ideia hoje somente porque a defendeu ontem. Defenda o que quiser, mas defenda sabendo que tudo pode mudar amanhã. Eu falo o que me parece correto naquela hora, ainda que saiba que passo longe da verdade absoluta. Mas defendo porque acredito no que defendo. É a minha verdade. Errada ou não.
Pra isso que o mundo gira. Pra me mostrar o quanto estou certa. Pra me mostrar o quanto estava estupidamente errada.
Peço perdão pelos meus erros e aprendi a me perdoar por eles. Porque não fiz por mal. Porque defendia uma ideia equivocada. Mas o dia chega e eu mudo. Graças a Deus.
Então ame a metamorfose ambulante de ontem, hoje e amanhã. Não me entenda, não se esforce tanto. Porque amanhã talvez mude novamente. Talvez erre. Talvez seja a minha vez de perdoar.
Talvez tudo irá mudar. Sim… tudo irá mudar.