Esta semana terminei de ler um livro de poesias de uma escritora italiana chamada Martina Vivian. Nunca tinha ouvido falar nela e nem pretendia ler nada nesse idioma por agora, mas, como sempre digo que são as melhores leituras, apenas “aconteceu”.
Encontrei o livro por puro acidente em um sebo de rua, naquelas promoções maravilhosas de “leve 3 por 10”. Ele estava embaixo de um outro livro aleatório e, quando o vi, fiquei surpresa de encontrar uma coletânea de poesias em italiano, o que não é muito comum por aqui. E fiquei ainda mais surpresa quando percebi que ele estava em perfeito estado, como novo, como se nunca tivesse sido lido. Como estou praticando o idioma, pensei “por que não?”. E acabei levando o livro pra casa.
As poesias de Martina Vivian são muito pessoais, como se tivessem saído de seu diário particular. Acredito que ela tenha escrito após uma forte decepção amorosa – o que, vamos combinar, acaba gerando as melhores obras – e colocou no papel todo o seu processo de luto sobre o fim da relação e o caminho para a superação. Gostei, gostei muito. E fiquei satisfeita ao perceber que estou bem familiarizada com a língua, pois acho que entendi 90% do livro.
Ler Martina Vivian me faz pensar como nossas palavras podem viajar pelo mundo sem que tenhamos ideia. Acredito que, neste momento, a moça italiana nem imagina que tem alguém no Brasil fazendo uma análise do livro dela, alguém que se identificou com muito dos poemas e que ficou pensando como queria conversar com ela sobre a vida, pois sua visão de mundo parece um pouco com a minha. Mesmo escrevendo há tanto tempo e ter tido a sorte de ser lida por muita gente na época do Orkut, ainda fico fascinada como histórias podem atravessar fronteiras e mudar a vida de pessoas que nem conhecemos. Como estamos conectados mesmo sem ter ideia de quem somos, como diria Delta Goodrem.
Escolher o caminho da escrita, da literatura e da poesia, envolve muita coragem e determinação, pois não é fácil atrair a atenção das pessoas nesse mundo que gera milhões de conteúdos todos os dias, não é fácil ter que abrir mão de uma vida mais tradicional, por assim dizer, para se dedicar a esse tipo de trabalho onde você fala sozinho a maior parte do tempo. Não sei se o livro de Martina fez algum sucesso na Itália, pois não encontrei maiores informações sobre ele ou sobre a autora, e não sei se ela ficou ou não frustrada por seu livro não ter tido um alcance maior. De qualquer forma, de uma maneira que eu jamais vou saber ao certo, o seu livro cruzou o Atlântico, foi parar num sebo de rua, chegou até mim e me tocou profundamente. Como não ver beleza nisso? Como não achar que, no fim, por mais que pensemos que estamos falando sozinhos, tem sempre alguém em algum canto do mundo ouvindo com atenção tudo o que temos para dizer?
E é por isso que sigo fazendo o que faço: a poesia e a literatura têm uma força que foge à nossa compreensão… e acho isso tudo bonito demais! Acho que me arrependeria para sempre se escolhesse outro caminho para mim e decidisse não fazer parte disso.
Enquanto sigo meu trabalho de formiguinha, enquanto sigo gritando em um mundo onde todo mundo parece conseguir gritar mais forte que eu, só posso desejar que um dia minhas palavras também atravessem fronteiras e façam alguma diferença na vida de alguém, assim como as palavras de Martina fizeram na minha.
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Sejamos Todos Feministas – O Livro Que Toda Pessoa Deveria Ler
“A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura.”
“Sejamos Todos Feministas”, da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, é um ensaio derivado de uma palestra que a escritora ofereceu em uma conferência Ted em dezembro de 2012. Chimamanda foi aplaudida de pé e a palestra fez tanto sucesso que a autora reescreveu alguns trechos e lançou uma nova versão em livro.
No ensaio, a autora aborda o tema da desigualdade de gêneros e nos mostra alguns exemplos que ela, amigas e conhecidas (com as quais todas as mulheres seguramente vão se identificar!) sofreram por causa do machismo que povoa quase todas as culturas desde o início dos tempos. Chimamanda também conta casos de amigos homens que, apesar de serem boas pessoas, também mantinham atitudes e pensamentos machistas e excludentes, devido a uma educação que ensina, tanto aos meninos quanto às meninas, que os homens devem escolher e mandar e as mulheres apenas obedecer. Esse tipo de educação não pode mais ser perpetuada nos dias de hoje.
“Precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente”, diz a autora em um dos trechos do livro. Não podemos querer que o conceito de uma sociedade mude se continuamos a educar as nossas crianças da mesma forma com que nossos pais nos criaram. Se ninguém diz a uma menina que ela não deve se sentir inferior por causa de seu gênero ou se ninguém explica a um menino que uma garota tem os mesmos direitos e poderes que ele, não podemos esperar que eles se tornem adultos bem resolvidos e realizados.
“Sejamos Todos Feministas” é uma introdução do que é realmente o pensamento feminista. É um livro que pode e deve ser livro por qualquer pessoa, de qualquer idade, quer você se sinta homem ou se sinta mulher, quer você seja quem seja. O livro possui apenas 63 páginas de linguagem fácil e clara, seus olhos não irão ficar cansados e seu cérebro irá agradecer por poder absorver grandiosas informações.
O livro é apenas um ensaio pequeno e por isso não entra em questões mais profundas, que devemos procurar futuramente para nos inteirarmos mais sobre o assunto. Mas é uma enriquecedora introdução, principalmente para aqueles que ainda possuem ideias tão tortas e desinformadas sobre o que é o feminismo.
O feminismo não é o contrário do machismo, não é pregar uma troca de papéis onde as mulheres devem mandar e controlar o mundo enquanto os homens apenas precisam obedecer. Feminismo é libertar-se da ideia de que somos um gênero mais fraco, menor e incapaz de fazer e realizar as mesmas coisas. É ouvir o outro lado, é se interessar e admirar as diferenças entre os sexos e respeitar-nos acima de tudo como iguais. Somos todos seres humanos e queremos um mundo melhor para nossos descendentes. Comecemos por dar o exemplo.
O livro físico não custa mais do que quinze reais e a cópia digital grátis pode ser encontrada na Amazon.
Leia o livro, absorva as palavras, reflita e então permita que este pequeno livro chegue às mãos do maior número de pessoas possível. Espalhar palavras e ideias que abram a cabeça das pessoas é nosso dever como individuo em uma sociedade. Se queremos mesmo um mundo melhor, façamos por onde.
Parafraseando Mário Quintana, livros são capazes de mudar pessoas e pessoas são capazes de mudar o mundo. Acredito que “Sejamos Todos Feministas” seja um destes livros.
Não Tenha Medo De Ler Clássicos.
Conheço muitas pessoas que nunca pegaram num livro considerado clássico simplesmente por medo. Costumam dizer: “mas é muito difícil!” ou “mas é muito chato”, sendo que o máximo de contato que tiveram com um clássico foi um resumão que pegaram na internet na época do ensino médio. E toda essa resistência que atravessa gerações acabou por criar um mito de que clássicos são bichos de sete cabeças sendo lidos apenas por intelectuais com óculos fundo de garrafa numa sala escura e poeirenta.
Eu não faço parte da corrente que acredita que os bestsellers deveriam ser erradicados da face da Terra. Pelo contrário, acho que eles são necessários também para a formação de novos leitores. Todo mundo precisa começar de algum lugar, aos poucos, passinhos de bebê, e os bestsellers geralmente são a opção mais buscada. Entretanto, penso que existe um problema quando você já é um leitor voraz há anos, mas continua apenas nos bestsellers, sem buscar algo novo. Creio que a maioria das pessoas não têm essa noção, mas os bestsellers possuem mais ou menos um mesmo padrão de histórias, de narrativas, de desenvolvimento de personagens. É como se você estivesse comendo macarrão há anos, apenas mudando de espaguete para miojo, de miojo para talharim, e assim sucessivamente.
A literatura é um universo, é infinita, e é necessário explorar todas as suas possibilidades. E é aí que entram os clássicos.
Percebo que a principal barreira que um leitor de bestseller encontra ao pegar em um clássico é a linguagem. Pode ser um choque a princípio sair da narração simples de um narrador que fala para o seu tempo, como se fosse um melhor amigo contando uma história, para algo melhor elaborado, fora de sua época, poético e muito bem pensado. Contudo, dentre os clássicos também existem níveis de dificuldade. Você não precisa começar por Machado de Assis ou Dostoievski. Jane Austen pode ser uma boa opção, principalmente para os românticos. Arthur Conan Doyle também é uma boa pedida para quem curte romances policiais. Ou seja, existe o clássico perfeito para cada um. Você apenas precisa perder o medo e encontrá-lo em alguma estante por aí.
Talvez pela pressão das escolas de enfiarem clássicos complicados para alunos que mal pegaram num livro na vida inteira tenha ajudado na rejeição que a maioria das pessoas têm. Mas a partir do momento em que o preconceito é superado e você começa a se familiarizar com o estilo dos livros, você vê tudo na sua vida mudar. Clássicos não são clássicos à toa. Eles atravessaram séculos e atingem pessoas de culturas e gerações diferentes porque muitos mudaram a forma de pensar de uma sociedade, trouxeram reflexões importantes sobre assuntos polêmicos e tudo isso aliado à uma bela história e uma narração muito bem trabalhada e pensada. Clássicos são essenciais e toda pessoa apaixonada por livros deveria lê-los.
Por isso, não tenha medo de ler clássicos. Não é esse monstro que criaram para você na escola ou num grupo de amigos. Ache o seu gênero favorito, procure o livro que mais se destacou e marcou época nesse meio e vá em frente! Se você já é um leitor voraz, mesmo que seja de bestsellers, não vai encontrar toda essa dificuldade em provar um pouquinho do gosto de um clássico. É só questão de começar.
#62milliongirls – Deixem As Garotas Aprenderem.
Uma campanha iniciada pela primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, tem ganhado bastante destaque nas últimas semanas. “Let Girls Learn” (deixe as garotas aprenderem, em português) procura colaborar com a educação de meninas do mundo todo, principalmente dos países menos favorecidos, onde em torno de 62 milhões de garotas estão proibidas ou não têm direito à uma educação formal. Garotas que com 12 anos são obrigadas a se casar com homens de 40 anos, meninas de 9 anos que já cuidam da própria casa como adultas e outras que são obrigadas a abandonar a escola tão cedo para fugir dos problemas com as guerras civis de seus respectivos países, existem e o número desta triste estatística só faz aumentar. É uma realidade chocante para nós que vivemos em cidades grandes e em um país “laico” saber que isso está acontecendo, agora, em alguma parte do mundo. Mas está. E é uma situação gravíssima, pois as barreiras de fanáticos religiosos e ditadores são muito difíceis de atravessar. Mas não é impossível.
A campanha da primeira dama procura fornecer, além de recursos financeiros, um avanço maior da tecnologia nesses países. As pessoas podem ajudar com doações, se tornando voluntárias ou repassando esta mensagem, como eu e muitos artistas estão fazendo em suas redes sociais (como Chris Martin na foto abaixo).
O caminho para o desenvolvimento é a comunicação entre os povos e uma educação igualitária para todos os sexos. O abuso mental e físico dessas meninas precisa parar. E elas precisam saber dos próprios direitos. Elas precisam ter uma educação.
Na escola, eu aprendi a questionar e refletir sobre tudo o que me era passado. 62 milhões de garotas não têm essa chance.
Para conhecer mais sobre a campanha e saber o que mais pode fazer para ajudar, visite o site oficial: http://62milliongirls.com/
Prosa E Verso: O Fim Do Caderno Literário Do Jornal “O Globo”.
No último sábado, o caderno Prosa e Verso, do jornal carioca O Globo, foi encerrado de forma repentina e melancólica. O que era antes um espaço para divulgar e falar sobre Literatura, foi incorporado ao Segundo Caderno, uma outra seção do jornal, com uma “honrosa” folha frente e verso. O principal colunista do carinhosamente chamado Prosa, José Castello, anunciou sua despedida em seu blog do mesmo jornal, criticando severamente a decisão do fechamento de um espaço que podia não ser mais o popular – e, sejamos francos, a literatura não é o assunto mais popular em nenhum setor deste país -, mas que tinha seus leitores e aprendizes fiéis (leia o seu desabafo e despedida aqui).
Eu era uma dessas aprendizes. Assinava (e ainda assino, porém não sei por quanto tempo mais) O Globo aos fins de semana apenas para ler o caderno, que sempre me ajudou muito na evolução como escritora e como leitora também. Através do Prosa conheci diversos autores e pensadores, que mudaram a minha forma de escrever e pensar o mundo.
A cada sábado o caderno trazia um novo jeito de ver a política, a filosofia, a religião, o feminismo, os direitos das classes mais pobres e todos os assuntos realmente importantes, através de entrevistas inteligentes, matérias e resenhas muito bem trabalhadas, além de anunciar concursos e cursos no âmbito da psicologia, literatura e filosofia. Porém, a partir de agora, nada mais desse conteúdo riquíssimo voltará a ser o mesmo.
Uma folha frente e verso num dos jornais mais populares do país para falar de literatura de um jeito crítico e como forma de evolução de pensamento não é o bastante. Uma folha frente e verso para formar leitores num país onde se lê em média de 1 a 2 livros por ano, não é o bastante. E o fechamento do caderno só demonstra o quanto os livros e a literatura no Brasil estão cada vez mais sendo desprezados e apequenados. É uma vergonha. Mais uma pra coleção da nossa estimada pátria.
Quem não tem amor ou não entende da importância do assunto pode pensar que num momento de crise como a qual estamos vivendo é muito mais importante falar sobre Dilma, sobre Operação Lava-Jato, Cunha, ou o declínio cada vez mais vertiginoso da economia, mas a literatura e a educação deveriam ter tanta importância quanto. Uma olhada na História mundial basta para saber que a identidade e o valor de uma nação não é feita somente de política e economia, mas sim de sua cultura e de suas criações que devem crescer e propagar-se continuamente. E a nossa anda cada dia mais desprezada.
Que o fechamento do caderno Prosa e Verso seja apenas um incentivo para que nós – leitores, escritores, amantes da literatura etc. – continuemos lutando para que nossa cultura e literatura não se perca. Que mesmo através de simples blogs e sites como este aqui a nossa parte seja feita, por menor que seja, para continuar divulgando e espalhando por todos os cantos, não só a literatura em si, como também o seu enorme valor em um país que ainda não entendeu o livro e o pensamento crítico como forma de evolução primordial para uma sociedade.
Se as letras e o pensamento crítico desaparecerem do nosso cotidiano, o que será de todos nós?
Eu não quero nem imaginar a resposta.
“O Poema”, por Ivan Junqueira.
Retirado do caderno Prosa e Verso do jornal O Globo
Não sou eu que escrevo o meu poema:
ele é que se escreve e que se pensa
como um polvo a distender-se, lento
no fundo das águas, entre anêmonas
que nos abismos do mar despencam.
Ele é que se escreve com a pena
da memória, do amor, do tormento,
de tudo o que aos poucos se relembra:
um rosto, uma paisagem, a intensa
pulsação da luz manhã adentro.
Ele se escreve vindo do centro
de si mesmo, sempre se contendo.
É medido, estrito, minudente
música sem clave ou instrumentos
que se escuta entre o som e o silêncio
As palavras com que em vão o invento
não são mais que ociosos ornamentos,
e nenhuma gala lhe acrescentam.
Seja belo ou, ao invés, horrendo,
a ele é que cabe todo o engenho,
não a mim, que apenas o contemplo
como um sonho que se sustenta
sobre o nada, quando o mito e a lenda
eram as vísceras de que o poema
se servia para ir-se escrevendo.
Ivan Junqueira foi jornalista, poeta, tradutor e crítico literário brasileiro. Morreu no dia 3 de jullho de 2014, aos 79 anos.
A Voz de Virginia Woolf.
“Palavras não existem em dicionários. Elas existem em nossas mentes.”
– Virginia Woolf
Virginia Wolf foi uma das mais importantes escritoras inglesas. Foi uma grande influente do modernismo inglês e hoje considerada como símbolo feminista (leia um pouco mais sobre sua história aqui). Virginia possuía uma narrativa brilhante e um jeito de lidar com as palavras que poucas vezes antes vi em qualquer escritor. Mais do que apenas contar uma história, ela entendia as letras e sabia manuseá-las como ninguém.
Este vídeo é o único registro da voz de Virginia Wolf, gravado para a rádio BBC em 1937, quatro anos antes de sua morte. Nele, Virginia lê um trecho de seu ensaio intitulado “The Death of the Moth and Other Essays”. A gravação, obviamente, é toda em inglês, mas creio que até aqueles não familiarizados com a língua inglesa podem desfrutar de tal relíquia e dar uma voz ao rosto sempre estampado na maioria das edições de seus livros.
Se você não entendeu alguma parte do vídeo, leia a transcrição do texto completo aqui!
A Essência Do Livro.
Escrito por Karine Pansa, Presidenta da Câmara Brasileira do Livro. Texto publicado no jornal O Dia.
No transcurso dos 50 anos do golpe militar de 1964, é fundamental reafirmar os valores da democracia e dos direitos individuais e coletivos. Importante relembrar que a reconquista da liberdade resultou na mobilização cívica e ordeira da população brasileira, marcadamente na Campanha das Diretas Já!, em 1984, cujo 30º aniversário devemos comemorar com alegria e a certeza de que se tratou de um dos mais importantes movimentos políticos de nossa história.
Para os empresários e profissionais que atuam no mercado editorial, a democracia, sintetizada na liberdade de expressão, é a principal essência do trabalho. Livros, sejam na sua forma tradicional e imortal de papel, ou nos contemporâneos leitores eletrônicos, incluem-se entre as principais mídias do conhecimento. Trata-se de algo que informa, ensina, amplia a cultura, diverte, propicia análises da realidade e contribui para que as pessoas tenham visão de mundo mais crítica, consciente e engajada.
Nada disso é possível sem plena liberdade de expressão. Calar o livro, assim como a imprensa, de maneira como ocorreu no Brasil e em tantas outras ditaduras, é um dos maiores atentados à civilização e ao direito inato do ser humano de aprender, saber, informar-se e desenvolver juízo de valores sobre os seus espaços e seu ambiente social, econômico e político. Assim, na lembrança dos 50 anos do golpe que ceifou todos esses direitos dos brasileiros, é pertinente ressaltar a liberdade de expressão como essência do livro e prerrogativa inalienável de todos os que trabalham para que a leitura seja um dos vetores do desenvolvimento.
A Câmara Brasileira do Livro vem trabalhando muito para ampliar o acesso da população à leitura. Nesse sentido, realiza a Bienal Internacional do Livro em São Paulo. Também apoia feiras pelo país e, em todas as frentes, estimula e promove o hábito de ler, como ocorre com o Prêmio Jabuti, o mais importante do setor editorial brasileiro, que coloca o livro nacional num elevado patamar de visibilidade perante a opinião pública.
Reiteramos a crença de que o livro, livre como pensamento humano, contribuirá cada vez mais para que os brasileiros consolidem uma nação economicamente desenvolvida, socialmente justa, ambiental e politicamente correta, pluralista, tolerante e avançada no exercício e no equilíbrio entre direitos e deveres. Por isso, reverenciamos a democracia, a maior conquista de nossa sociedade!
Por Que Nosso Futuro Depende de Bibliotecas, de Leitura e de Sonhar Acordado.
Neil Gaiman é um escritor inglês de bastante sucesso. Seus livros são vendidos ao redor do mundo e algumas de suas obras já se tornaram filmes. Ele já até foi homenageado pelo site como “Escritor da Semana”.
Uma das características de Neil Gaiman é o seu incansável incentivo à literatura. Gaiman roda ao mundo para palestrar sobre tudo que envolve letras e leitura. Escreve artigos, discursa em formaturas de universitários e até dá aulas de escrita criativa em uma faculdade nos Estados Unidos. Como todo amante da palavra, Neil Gaiman sabe o quanto um livro, o quanto a educação faz toda e completa diferença na vida de um ser humano e de seus país.
Em uma palestra à Reading Agency, um projeto britânico independente de caridade que ajuda crianças e adolescentes carentes no incentivo à leitura, Neil Gaiman fala sobre a importância das bibliotecas, conta um pouco sobre como o seu amor para com os livros se iniciou e faz um discurso brilhante sobre a importância do incentivo à leitura, principalmente em relação às crianças.
É um texto grande e a tradução não foi feita por mim ( a belíssima tradução foi feita pela Dora Steimer, do blog Index-a-Dora).
São palavras para incentivar, não só àqueles que estão se iniciando no mundo literário, mas também a nós, que participamos deste mundo e temos a obrigação de divulgarmos cada vez mais essa parte tão rica e imprescindível de nossa educação.
Todos nós – adultos e crianças, escritores e leitores – temos a obrigação de sonhar acordado. Temos a obrigação de imaginar. É fácil fingir que ninguém pode mudar coisa alguma, que estamos num mundo no qual a sociedade é enorme e que o indivíduo é menos que nada: um átomo numa parede, um grão de arroz num arrozal. Mas a verdade é que indivíduos mudam o seu próprio mundo de novo e de novo, indivíduos fazem o futuro e eles fazem isso porque imaginam que as coisas podem ser diferentes.
Olhe à sua volta: eu falo sério. Pare por um momento e olhe em volta da sala em que você está. Eu vou dizer algo tão óbvio que a tendência é que seja esquecido. É isto: que tudo o que você vê, incluindo as paredes, foi, em algum momento, imaginado. Alguém decidiu que era mais fácil sentar numa cadeira do que no chão e imaginou a cadeira. Alguém tinha que imaginar uma forma que eu pudesse falar com vocês em Londres agora mesmo sem que todos ficássemos tomando uma chuva. Este quarto e as coisas nele, e todas as outras coisas nesse prédio, esta cidade, existem porque, de novo e de novo e de novo as pessoas imaginaram coisas.
Temos a obrigação de fazer com que as coisas sejam belas. Não de deixar o mundo mais feio do que já encontramos, não de esvaziar os oceanos, não de deixar nossos problemas para a próxima geração. Temos a obrigação de limpar tudo o que sujamos, e não deixar nossas crianças com um mundo que nós desarrumamos, vilipendiamos e aleijamos de forma míope.
Temos a obrigação de dizer aos nossos políticos o que queremos, votar contra políticos ou quaisquer partidos que não compreendem o valor da leitura na criação de cidadãos decentes, que não querem agir para preservar e proteger o conhecimento e encorajar a alfabetização. Esta não é uma questão de partidos políticos. Esta é uma questão de humanidade em comum.
Uma vez perguntaram a Albert Einstein como ele poderia tornar nossas crianças inteligentes. A resposta dele foi simples e sábia. “Se você quer que crianças sejam inteligentes”, ele disse, “leiam contos de fadas para elas. Se você quer que elas sejam mais inteligentes, leia mais contos de fadas para elas”. Ele entendeu o valor da leitura e da imaginação. Eu espero que possamos dar às nossas crianças um mundo no qual elas possam ler, e que leiam para elas, e imaginar e compreender.”
Ler É Fundamental.
Ler é fundamental.
Fundamental para qualquer ser humano que deseje ser pensante, atuante, firme em suas convicções e opiniões.
Vivemos em um país de analfabetos. Não só aqueles que não sabem ler e escrever o nome. Mas de analfabetos funcionais, que lêem e não sabe o que estão lendo. De analfabetos intelectuais, que pode até saber o que estão lendo, mas de uma forma mastigada, uma leitura simples, mecânica, que sabe apenas as instruções para jogar na loteria. E ninguém se importa. O governo não se importa. Claro, por que o governo iria se importar quando é muito mais fácil governar um país onde os cidadãos apenas sabem assinar o nome num documento qualquer e se satisfazem com uma esmola mensal de bolsa família e derivados?
As notícias se multiplicam nos jornais sobre pessoas enganadas, ludibriadas, sem instrução, sem cultura. Escolas em regiões extremas do país, onde crianças sentam no chão para conseguirem aprender qualquer coisa e o teto de sua “escola” não é nada mais do que paus usados como sustentação e palha por cima.
Ler é fundamental. Educação também.
E nós, privilegiados com todas as oportunidades, não temos desculpas para não fazê-lo.
Eu já encontrei pessoas que nunca leram um livro na vida e acham isso sensacional. Afinal, a lei da sociedade atual diz que ler é coisa de “nerd”, coisa de gente que usa óculos maior do que a cara e é careta. Por algum motivo, as pessoas ainda acham bonito ser burro ou ignorante. Ou os dois. Do contrário, bibliotecas não estariam abandonadas e academias lotadas. Conheço pessoas que não pegam um jornal pela manhã, a não ser para ler a parte de fofocas, e acham que já fazem o bastante. E isso é muito, muito triste.
Nós nunca vamos sair do lugar se isso não for mudado. Nosso país sempre será o subdesenvolvido e de “terceiro mundo” se esse quadro não mudar, não importa o jeitinho brasileiro que se dê para escapar de uma crise mundial ou o quanto o nome da nação esteja sendo citado lá fora graças a uma Copa do Mundo. Nós nunca conseguiremos lutar verdadeiramente por nossos direitos enquanto não quisermos ter acesso a uma informação de qualidade. Nós nunca seremos alguma coisa enquanto continuarmos a ser conhecidos como o país que não lê.
Ler é fundamental.
Já foi comprovado por inúmeras pesquisas que os países que lêem mais são os mais desenvolvidos. Não é o dinheiro, os avanços tecnológicos e a política os responsáveis pelo desenvolvimento de uma nação. É a educação. Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, França, Espanha, Austrália… Esses e outros países considerados de “primeiro mundo” e “desenvolvidos” têm um sistema educacional bastante firme, bastante incentivador. São nações que, mesmo com seus problemas internos, que até o melhor dos países possui, faz uma grande aposta na educação de suas crianças com vários projetos de incentivo à leitura, incentivo a pensar por si mesmos, a imaginar. Cientistas, físicos, químicos, literatos, revolucionários saem em profusão desses países citados e eu garanto que não é mera coincidência. Eles foram treinados para isso, eles foram convidados a pensar por si mesmos, a ver de uma forma mais clara e é tudo graças à educação.
Nosso sistema educacional é uma piada. Uma piada de muito mal gosto, por sinal. Os jovens estão cada vez mais agressivos, professores cada vez mais abandonam seus ofícios e decidem seguir outra carreira, pois os ambientes em uma sala de aula estão insustentáveis. Professores estão cada vez mais cansados de um sistema padronizado e pobre de ensino, do qual são obrigados a aplicar graças a uma pauta que nem mesma foi feita por educadores. Como conseqüência, as aulas ficam chatas, pouco dinâmicas, o que é um sacrilégio para a mente agitada e ansiosa por novidades de um adolescente. Logo, ler é associado a uma aula chata e sem sentido. Poesia é coisa para idiotas românticos. E tudo o que tem a ver com assuntos intelectuais se torna repulsivo.
O intuito dessa nova seção é divulgar mais assuntos literários através da internet. Vejo tantas coisas em jornais e revistas que não são sequer citados, vídeos interessantíssimos, didáticos, que ninguém divulga, ninguém fala sobre. Quero mostrar aqui que a literatura pode ser divertida, interessante, instigante. É através dela que temos ideias, onde a criatividade se desenvolve, onde você passa a ver o mundo sob vários ângulos, sob os olhos de um escritor e pode formar a sua própria opinião.
Sei que não conseguirei mudar o país, o Brasil inteiro não vai passar a ler mais por causa dessa seção. Mas se o que aqui for postado interessar ao menos uma pessoa que não costuma ler ou tem “trauma” de literatura e português graças a um professor entediado e desinteressado em uma escola, então eu terei feito o meu trabalho.
Então, vamos falar de Literatura, vamos falar de bibliotecas, de escritores, de livros que mudaram a vida das pessoas. Vamos falar de textos, de curiosidades, vamos ler, vamos nos informar, vamos ser seres pensantes, seres com opiniões, seres educados e fazer isso e muito mais por aqueles que não têm oportunidades, graças a um governo corrupto e desinteressado, de uma educação decente.
Não importa se é um livro de ficção ou apenas notícias diárias em um jornal, vamos simplesmente ler, formar uma opinião, engajar-nos em nossas ideias.
Vamos ler hoje, amanhã e sempre.
Porque ler é fundamental.