A Gravidade.

gravidade

 

Eu lutei contra a física durante toda a minha existência.
Não só na escola, naquelas provas intermináveis com fórmulas intragáveis. Lutei contra a física fora de uma folha de papel também.
Quando era criança, tentava me agarrar naquelas barras de exercícios que estão presentes em qualquer espaço recreativo. Lembro quando pegava impulso e pulava, agarrando com minhas pequenas mãos as barras de ferro pintadas de verde. Eu segurava com toda a força, firmemente, sentindo o milagre que era ter meus pés alguns centímetros acima do chão. Apenas ficava lá, querendo, desejando, ansiando continuar suspensa no ar.
Mas não durava muito.
Em três segundos ou menos, minhas mãos escorregavam. Eram incapazes de sustentar o peso de meu corpo por mais tempo. Então eu caía, sempre caía, e era incrivelmente frustrante. E tentava de novo, e de novo, e de novo, e de novo, até meus dedos ficarem vermelhos e a tinta da barra grudar em minhas mãos suadas.
Mas era tudo igual, era sempre o mesmo.
Eram apenas 3 segundos até a gravidade me vencer.
E caía.

Sempre quis voar.
Sempre tive medo de altura.
Sempre me vi pega nesse paralelo do querer e não poder, de desejar e não ter coragem de tentar.
Mesmo que voar seja incrível, o céu fantástico e o vento favorável, o sonho é impossível.
Para os seres humanos é impossível.
Não só pelo fato de não possuirmos asas como as águias que bailam sobre o azul celeste do firmamento, causando inveja aos nossos olhos de bípedes.
Mas pela gravidade. Sempre pela gravidade.
Ela está presente, a postos para destruir o meu sonho alado.
E, de novo, eu caio.
E de novo é irritantemente frustrante.

Os anos passaram.
Sou adulta agora.
O corpo mudou, o mundo mudou.
Mas o sonho de voar permanece.
E a gravidade também.
Ela estará sempre aqui, onipresente, esperando com ansiedade minha próxima tentativa de ficar por mais de 3 segundos com os pés fora do chão.
Não importa o quanto eu tente segurar nas barras de ferro, não importa o quão alto meus pés saltem de um lugar para outro, sua força invencível estará pronta para me derrubar.
Não importa no que acredite, o quanto sonhe, o quanto deseje, ela me puxará para baixo.

O avião não conta, o avião não é nada.
Não quero apenas me descolar, eu quero voar!
Quero sentir o vento batendo em meu rosto, quero olhar para baixo sem temer cair, quero estar suspensa junto ao azul celeste sem que nada e nem ninguém possa me impedir.
Quero voar pelo simples fato de estar no ar, sem que a gravidade use seus dedos pesados e cruéis para me trazer de volta ao chão.
Quero simplesmente estar lá!
Oh, Deus!
Quero simplesmente voar!

O sonho de Ícaro sempre fez parte de meus anseios oníricos.
Divididos por mais de 2 séculos, unidos pelo mesmo desejo.
Mas toda boa história possui o seu perverso vilão.
O de Ícaro foi o sol.
O meu é a gravidade.

Evelyn Marques
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2 comments / Add your comment below

  1. Ah, essa gravidade! Ainda bem que há outras maneiras de tentar voar (sem sair do chão) ou a impossibilidade seria devastadora. Amei o texto! ♥

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