Era uma vez, o zero. O inútil, o esquerdo, o atrapalhado não multiplicável. O sozinho.
Então, o 1 chegou e lhe estendeu a mão. Fez promessas, o ergueu do chão e tirou da solidão. Em seguida, foi embora, sem qualquer explicação.
Veio o 2. Estendeu-lhe a mão. Fez promessas também. O zero acreditou. E foi tirado da solidão. Em seguida, o 2 foi embora, sem qualquer explicação.
Veio o 3. Estendeu-lhe a mão. Disse que ficaria. O ergueu do chão. Disse que o amava. O tirou da solidão. Em seguida, foi embora, sem qualquer explicação.
Depois, vieram o 4, o 5 e o 6 ; todos ao mesmo tempo. Todos erguendo-lhe a mão. Todos tirando-o da solidão. O zero os amou. Mas não acreditou dessa vez. Não mais.
Por que o 4, 5 e o 6 ficariam, quando o 1, 2 e o 3 não aguentaram? O que teria de diferente agora? O zero não mudou. Continuou o mesmo. A mesma mediocridade à esquerda, o mesmo número não multiplicável… O mesmo que atrapalha todas as equações longas.
Como se pode confiar em números quando eles não sabem lidar com as palavras? Quando não sabem manter uma promessa?
O tempo passou. Eles permaneceram. O zero se assustou. Não esperava. O zero, agora, “confiou”. E essa foi a pior parte. Porque o zero passou a se sentir em um campo minado, onde qualquer passo em falso culminaria em uma explosão. Onde qualquer passo em falso pudesse causar uma destruição.
Problemas acontecem em todos os relacionamentos. Mas o amor envolvido nestes sempre resolve tudo. Era o que o 4, o 5 e o 6 falavam. Era no que eles tentavam fazer o zero acreditar. Mas quando há mentiras antes, quando há um passado doloroso e traumatizante, a crença nos números é subtraída e os medos são somados. O amor não pode ser multiplicado e as confidências divididas. E o zero cai de novo. Ele volta para o seu lugar, na frente de todos os números, o que vem antes do primeiro, este, o mais brilhante de todos, ofuscando qualquer brilho que o zero possa ter.
O zero continua ali, sempre esquecido, sempre não-multiplicável e sempre complicado, sentindo que atrapalha todos os números perfeitos à sua frente.
O 4, o 5 e o 6 ainda estão presentes. Milagrosamente não foram embora. E o zero os ama cada dia mais. Parece que os números conseguem manter a palavra, no fim das contas.
Mas a pergunta que ainda perturba o pobre zero, dia após dia, é… Até quando?