– Olha lá, Júlio! Aquele ali não é o Almeida?
– Onde? – a mão enrugada largou a peça de xadrez para focar no dedo apontado do amigo. – Caramba, José, parece mesmo!
– Parece nada, é ele! O que será que faz aqui? Ele não tinha recebido alta?
– Ih, surtou de novo! Só pode!
– Ei, Almeida! – chamou e assoviou. – Vem pra cá!
Almeida lançou um olhar para a enfermeira num questionamento silencioso que foi respondido com um sinal positivo.
O velho aproximou-se da mesa e recebeu o abraço dos antigos amigos.
Perguntado sobre qual razão o havia trazido de volta ao hospício, ele respondeu:
– Fingi um acesso de loucura. – os amigos o olharam com surpresa. – Não foi difícil, toda a experiência neste lugar tornou tudo muito simples de ser feito.
– Mas o sonho de todo mundo aqui é retornar para a vida do outro lado do muro. O que te fez querer voltar? – perguntou José.
– Segurança. – Almeida sentou-se frente à mesa e mexeu uma das peças de xadrez, aplicando um impensado cheque-mate. – Vocês são felizes aqui e não sabem! Acreditem: o mundo lá fora está uma loucura!
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