[Linhas Invisíveis] Capítulo 2 – Tudo o Que Sei é Que Desde Ontem Tudo Mudou

Olympia, Washington.
31 de Dezembro de 1996

Ela era a última da fila.
Os portões fecharam-se atrás de si assim que cruzou a linha de entrada. Mesmo tendo saído de Seattle o mais cedo possível, havia chegado tarde o bastante para ficar no fim de uma fila que deveria ter, no mínimo, uns 40 metros.
O céu estava carregado de nuvens cinzentas que estavam prontas para derrubarem seus pingos gelados de chuva sobre a multidão excitada.
Entretanto, isso não importava. Era a primeira vez que seu escritor favorito fazia uma turnê pelo estado de Washington e não sabia se seria a última.
Alguns com certeza a criticariam por ter viajado tantas horas com sua pequena filha nos braços apenas para conseguir uma assinatura de alguém que nem se lembraria dela depois. Ela mesmo pensara mil vezes se deveria fazê-lo. No fim das contas, decidiu que jamais saberia se não tentasse.
E agora ali estava, esperando. Sua filha de cinco anos reclamava o tempo todo por estar em pé em um lugar desconhecido, mas não ligava. Anne já sacrificara muito em sua vida em nome da pequena Lois, merecia um momento de capricho.
As horas se passavam lentamente. A fã ansiosa checava seu relógio a cada dois minutos, sentido como se o tempo tivesse estagnado apenas para implicar com sua paciência.
Pelo que dizia o panfleto deixado à sua porta quase um mês atrás, o escritor só iria autografar os livros até às seis da tarde, por isso a recomendação era de que todos chegassem o mais cedo possível. O problema é que já eram cinco da tarde e deveria ter, pelo menos, umas cinquenta pessoas à sua frente.
Suas mãos suavam, suas pernas tremiam. Mesmo de longe, já podia ver um pedacinho de seu escritor favorito, que dava bastante atenção e tratava com muito carinho a qualquer fã que se aproximava. Tirava fotos, conversava um pouco e sorria com simpatia até a pessoa ir embora.
Faltava pouco, muito pouco. Anne estava cada vez mais perto e sabia que pela primeira vez iria conseguir realizar o sonho de dizer o quanto Paul Reed havia sido importante em sua vida.
Era agora, tinha que ser.
Ou talvez não.
Mesmo que ainda estivesse um pouco longe, Anne conseguiu ver um homem engravatado se aproximar e dizer algo no ouvido de Paul Reed. E não demorou nem dois minutos para que o escritor se levantasse e pedisse mil desculpas para o restante da fila, pois tinha um voo para pegar e precisava ir embora.
Enquanto ele saía, os assistentes distribuíam alguns marcadores de livros já autografados, mas isso não era o bastante para Anne. Nem um pouco.
Ela não tinha viajado em pleno dia trinta e um para dar com a porta na cara assim. Largou tudo para conversar pelo menos cinco minutinhos com seu ídolo. E entendia que foi avisado para que não se chegasse muito tarde, em função da corrida agenda de fim de ano, mas ela fez o que pôde! E não iria sair dali sem que realizasse seu sonho.
Arrastando a pequena filha, Anne foi falando com cada segurança do local, esperando encontrar alguma solução. A maioria usou de bastante antipatia para lidar com ela, como se fosse uma mulher desmiolada e infantil. Mas, por sorte, um deles pareceu compadecer-se de sua sofrida história.

— Eu lhe peço, senhora… – começou dizendo o homem de cabelos alourados, olhando de um lado para o outro, temendo que alguém estivesse escutando a conversa. – Não espalhe o que eu vou dizer para ninguém! Se souberem que deixei vazar a informação e um monte de fãs aparecerem para atrasá-lo, eu com certeza perderei meu emprego!
— Eu juro, eu prometo que só serei eu e que não tomarei muito tempo dele! – garantiu com a voz suplicante. – Mas, por favor, eu só preciso vê-lo, só preciso fazer com que meu esforço valha a pena!
— Tudo bem… – o segurança respirou fundo e acabou cedendo aos olhos castanhos desesperados. – Ele irá sair pelo estacionamento dois, numa van preta, em frente às docas. Por favor, seja discreta!
— Muito, muito obrigada! – Anne pulou no pescoço do homem e lhe deu um beijo estalado no rosto como agradecimento. – Eu prometo que nunca vou esquecer disso! Que Deus lhe abençoe e um ótimo Ano Novo pro senhor!
— Pra senhora também e espero que consiga realizar seu sonho!

Anne correu o mais rápido que pôde para o estacionamento dois, esperando chegar a tempo. Por sorte, assim que chegou ao local, viu tudo exatamente como o segurança indicou. Um grupo de pessoas movimentava-se pelo lugar, enquanto ela observava tudo de longe, atrás de um médio portão de ferro.
A van parecia esperar o último passageiro, que com certeza era ele.
Ela esperou apenas uns dez minutos até que o momento esperado aconteceu.
Uma porta se abriu e um homem, de estatura média e alguns fios de cabelos brancos já nascendo de suas têmporas, saiu pela porta segurando um menino pela mão, indo em direção à tal van.
O coração disparou instantaneamente no peito, como se tivesse corrido quilômetros de distância. Por um momento, Anne perdeu a fala. Seu sonho estava acontecendo, bem ali na sua frente, diante de seus olhos.
Não podia perder a fala agora! Por mais que estivesse tendo um ataque por dentro, tinha que ter alguma reação para concretizar esse sonho exatamente da forma que planejou. Não tinha vindo de tão longe para travar na hora H.
Era só respirar fundo e falar. Apenas isso.

— Senhor! – Anne finalmente tomou coragem gritou o máximo que pôde, esperando chamar sua atenção. Por sorte, o famoso escritor virou o rosto e a viu por detrás dos portões de ferro com um semblante desesperado na face. – Senhor, por favor! Eu viajei quatro horas de ônibus de Seattle até Olympia apenas para vê-lo! Eu sou uma enorme fã e precisava vir aqui dizer o quanto o senhor me ajudou com seus livros nos momentos difíceis da minha vida! – ela berrava cada palavra, sem importar-se com os olhares trocados pelos seguranças responsáveis pelo local, que provavelmente estariam taxando-a de louca no momento. – Desculpe se me comporto de forma um pouco exagerada, mas eu precisava que o senhor soubesse disso!

Um silêncio profundo irrompeu o local após os berros constrangedores.
Os seguranças se entreolharam mais uma vez, não sabendo se continuavam parados ou se deveria tomar alguma providência em relação àquilo.
Paul Reed olhava diretamente para a mulher, sem qualquer reação decifrável no rosto. Todos ao redor olharam para ele, esperando algum sinal. Tudo estava pronto para sua partida e ele ainda tinha compromissos a cumprir em Nova York antes da virada do ano.
Porém, contrariando todas as expectativas, o aclamado escritor e psicólogo apenas virou o rosto na direção do responsável e falou:

— Abram o portão e deixem-na entrar, por favor.
— Está louco? – seu agente colocou a cabeça para fora da van com cara de pouquíssimos amigos. – Temos que pegar o voo de volta para Nova York daqui a uma hora e já estamos muitíssimo atrasados! Você não pode atender mais ninguém.
— E quem disse isso? – desafiou sutilmente, com sua voz calma e educada. – A mulher viajou horas e ficou esperando até agora, além de ter uma linda menininha como acompanhante. – ele olhou rapidamente para garota e sorriu, mas ela ficou bastante tímida e escondeu-se atrás das pernas da mãe. – Não posso deixá-la ir para casa de mãos vazias.
— Você quem sabe! – retrucou o agente com certa rispidez. – Se não conseguirmos chegar em Nova York à tempo para a virada do ano, você terá de explicar a todos os responsáveis de seus compromissos a razão por haver atrasado!
— Não vejo problema algum nisso. – e virando-se novamente para o responsável pelo espaço, repetiu: – Abram o portão para a senhora, por favor.

Anne Morrison achou que iria ter um ataque do coração quando os portões se abriram.
Agora já não havia nada que a separasse de um dos seus maiores ídolos.
Como uma adolescente impulsiva, tudo o que conseguiu fazer foi correr em sua direção e dar-lhe um abraço carinhoso, demonstrando-lhe o quanto estava agradecida por tudo.

— Nunca pare de escrever, por favor. – disse entre lágrimas após conseguir soltá-lo. – Você salvou minha vida inúmeras vezes com suas palavras. Passei por muitos momentos difíceis e os conselhos do senhor me ajudaram a superar. Muito obrigada por tudo.
— Uau, eu… eu nem sei o que dizer! – Paul Reed ajeitou os óculos no rosto, segurando a emoção. Não esperava esse tipo de declaração, principalmente após o que havia passado nos últimos dois anos. No fim de tudo, ele não estava errado em retomar a carreira, mesmo que sua vida tivesse ido para o túmulo junto com a sua esposa. – Agradeço mesmo por todo o carinho e dedicação!
— Se não estiver pedindo demais… – Anne tirou o seu mais novo livro de dentro da bolsa, junto com uma caneta cheia de tinta. – O senhor poderia me dar um autógrafo? Eu quero guardar essa pequena recordação do nosso encontro para sempre.
— Claro, com todo o prazer! Farei até uma dedicatória, para compensar um pouco todo o sacrifício que a senhora teve de vir até aqui para me ver! Seu nome é…?
— Anne! Com dois enes, por favor. – a mulher sorriu, enquanto esperava Paul Reed assinar o seu livro.

A pouquíssimos metros dali, uma menininha de cabelos castanhos corria e brincava sem parar. Sua mãe estava tão ocupada realizando o seu maior sonho que nem prestava atenção na filha serelepe que ria e brincava consigo mesma.
Um menino emburrado, recostado sobre a van, a observava. De braços cruzados e sem paciência nenhuma para esperar seu pai cumprir mais um compromisso, Brandon Reed a olhava com um certo desdém. Ela parecia ter uma energia grande demais para alguém tranquilo como ele. No fundo, queria ser tão alegre quanto ela, mas a verdade era que não tinha tempo para isso. Não tinha tempo para brincar, gritar e fazer coisas de criança com tantas preocupações em sua cabeça. Era verdade que seu pai parecia bem melhor, comparado ao pesadelo dos últimos dois anos, mas não podia relaxar. Brandon tinha que estar sempre atento, pois um deslize seria o bastante para fazer seu pai voltar ao estado depressivo no qual se afundou após a morte de sua mãe.
Olhando rapidamente para a fã louca de seu pai, ele percebeu como esse encontro havia feito bem pra ele. Conhecia todos os tipos de sorriso de Paul Reed, os falsos e os verdadeiros. E era a primeira vez naquele dia que ele sorria verdadeiramente.
De repente, como se algo ou alguém a tivesse chamado, a menininha parou com as brincadeiras banais e olhou para ele. Era como se tivesse sido atraída por uma luz, uma luz que apenas ela conseguia ver. Uma luz que a deixava confortável, segura, como se perto dele não houvesse perigo. Como um barco perdido que procura pela luz de um farol, a pequena Lois olhou para o garoto, desejando ficar um pouco mais perto dele. O chamaria para brincar, perguntaria se podiam ser amigos. Ela era uma menininha solitária e encontrou nos olhos dele um reflexo de si mesma.
Dez metros dividiam os dois, mas ela o olhava fixamente, como se pudesse ver através de sua alma. Brandon pensou que ela era apenas uma criança muito esquisita, mas seu olhar o intimidou a ponto de forçá-lo a olhar para baixo, a fim de não precisar encará-la mais.
Porém, uma risadinha divertida e passos pesados correndo em sua direção o fizeram levantar a cabeça de novo. E levantou o olhar a tempo de vê-la tropeçar em uma pedra e cair com tudo no chão.
Quando a pequena menina abriu a boca e começou a chorar, Brandon sentiu um aperto no peito. Nada o angustiava mais do que ver alguém chorando, era como se pudesse sentir dentro de si a dor de quem sofria ao seu lado. Era algo mais forte, algo que parecia ter nascido com ele. Mexeu imediatamente suas pernas e foi ao encontro da menina, mesmo sem saber exatamente o quê fazer.

— Onde está doendo? – perguntou com ternura, ajoelhando-se ao seu lado, atraindo os olhos avermelhados e lacrimejantes da garotinha.
— Aqui… – disse com sua pequena voz inocente ao mesmo tempo que apontava para o cotovelo ralado. – Ta “duendu”muito.
— Minha mãe tinha um remédio mágico para passar esse tipo de dor. – comentou, enquanto pegava o cotovelo da menina com cuidado. – Ela dizia que era só assoprar com cuidado que a dor passava. Posso tentar?

A menina apenas assentiu, desejando que toda aquela ardência passasse logo.
Anne Morrison e Paul Reed vieram correndo na direção de ambos assim que Brandon começou a assoprar sobre a pequena ferida da menina.
O remédio mágico não era tão mágico assim, já que a ardência continuava, mas a pequena Lois não pôde evitar em abrir um enorme sorriso para o garoto que cuidava dela com tanta atenção. Queria agradecer-lhe e fez a menção de dar-lhe um beijo no rosto, mas sua mãe rapidamente a pegou no colo e a examinou de cima a baixo, como se ela tivesse sofrido um acidente terrível.

— Você está bem, minha filha? – perguntou Anne com certo desespero, enquanto procurava por mais feridas.
— Não foi nada, senhora, ela apenas tropeçou e, ao apoiar o cotovelo no chão, ralou um pouquinho a pele, mas nem saiu sangue, nem nada. – explicou Brandon, fazendo Anne arregalar os olhos.
— E quem é você?
— Meu filho. – explicou Paul com orgulho. – Um pouco inteligente demais para a sua idade e meio avesso às pessoas. Por isso não lhe apresentei, perdão.
— Avesso? – Anne sorriu de forma singela para o menino, agradecida por ter ajudado sua filha. – Ele não parece tão avesso em relação à Lois.
— Verdade. – Paul deu dois tapinhas no ombro do menino, um pouco surpreso pela sua atitude. – Depois da morte da mãe, Brandon pareceu se isolar das pessoas. E sempre dizia o quanto não gostava e não tinha paciência com crianças. Talvez sua filha seja uma exceção. – ele sorriu para a menina que agora enxugava as lágrimas restantes.
— Desculpe pela bagunça! – pediu Anne, sentindo-se um pouco constrangida. – Minha filha não para quieta, eu vivo tendo que correr atrás dela em todos os lugares. É um verdadeiro espírito livre, não gosta de ficar parada em um lugar só.
— Eu entendo, não se preocupe. – Paul tocou o rosto da menininha, que começou a rir para ele. – Mas não brigue com ela, é apenas uma criança. E uma criança muito especial.
— Como o senhor sabe? – perguntou, surpresa com a convicção em sua voz.
— Instinto. – ele deu de ombros, como se fosse a coisa mais natural do mundo. – Eu tenho um certo dom para entender as pessoas. E esse meu dom me diz que sua filha é apenas isso… especial.
— Ela é sim… – Anne deu um beijo cheio de carinho em sua filha, que a abraçou. – Ela é muito especial mesmo.
— Como é que é?! – a voz berrante saiu da van preta e vinha de seu agente irritadiço. – Paul, você já deu tudo o que sua fã queria, podemos ir agora?
— Tenho que ir, sinto muito. – lamentou-se para Anne.
— Claro, vá! Peço até perdão por ter atrapalhado o senhor! – Anne estendeu-lhe a mão e Paul a apertou com sinceridade. – Muito obrigada por toda a sua atenção. O senhor realmente merece todo o sucesso que conquistou.
— Eu que agradeço por tudo. – Paul pegou Brandon pela mão e sorriu mais uma vez para a mulher. – Feliz Ano Novo para a senhora!
— Para o senhor também, tudo de bom!

Paul e Brandon foram andando até a van, enquanto Anne seguiu parada, querendo aproveitar os últimos da imagem de seu ídolo.
Entretanto, antes de entrar na van, o menino deu uma pequena olhada para trás, desejando ver a menina pela última vez. E sorriu quando ela acenou para ele com toda a efusividade de uma criança de cinco anos.
A porta da van fechou-se abruptamente e Anne sentiu um aperto no coração. Quando a van preta finalmente tomou seu destino, ela se deu conta de que aquele era verdadeiramente o fim.

— Vamos voltar para casa, minha filha. Acabou.

E com mais um beijo no rosto de Lois, ela foi em direção à saída, pronta para tomar o caminho de volta para casa.
Anne Morrison pensava que esse era o fim. Que um ponto final havia sido posto nessa curta e bonita narrativa. Em seu coração havia um sentimento agridoce por saber que esse momento não aconteceria outra vez. Pelo menos era assim que seu raciocínio lógico pensava.
A questão é que o Universo não trabalha com a lógica linear dos seres humanos e essa não seria, nem de longe, a última vez que veria Paul Reed na sua frente. Apesar de terem vidas completamente distintas e morarem em extremos do país, a linha invisível que unia Anne Morrison a Paul Reed havia ficado ainda mais forte a partir deste encontro.
O que parecia o fim, na verdade era apenas o começo.
Mas ela só irá descobrir a grande surpresa que o destino lhe reserva daqui a dezesseis anos…

[Linhas Invisíveis] Capítulo 1 – Um Único Fio Dourado Me Uniu a Você

Seattle, Washington. 1993.

A pequena garota abriu seus olhos no meio da noite.
Tudo era escuro e assustador. Ela não tinha idade suficiente para discernir emoções, ainda não sabia colocar em palavras toda essa avalanche de sensações que circulavam por sua corrente sanguínea. Mal sabia balbuciar palavras, mal sabia quem era ou o quê era a vida.
Mas sabia o que era isso que mais tarde ela aprenderia chamar de medo.
A pequena garota saltou da cama, chorando ainda com a chupeta na boca e foi em busca de um abrigo, um abraço, um corpo para o qual voltar. Usou toda a força que tinha para abrir a porta que estava apenas encostada e gritou o mais alto que pode.
Pedia por ajuda, pedia por carinho, pedia por amor.
Mas ninguém ouvia. Ninguém veio ao seu socorro.
Porque os gritos que vinham debaixo das escadas pareciam ser maiores que os seus. Não entendia o que estava acontecendo, só sabia que a dor em seu peito só aumentava quanto mais eles gritavam, quanto mais vidros eram estilhaçados e o medo dominava o seu pequeno corpo de criança.
A menina gritava gritava e gritava.
Mas os adultos lá embaixo gritavam mais ainda.
Se ela soubesse falar direito, se ela soubesse organizar palavras no pensamento, diria “por favor, me ajudem! Por favor, eu estou aqui! Por favor, me amem! Eu preciso de vocês!”
Mas não conseguia expressar nada disso. Precisava que a ensinassem. Precisava que prestassem atenção nela. Precisava que a pegassem no colo e dissessem que tudo ia ficar bem. Que ela estava protegida e que era amada.
Só que ninguém apareceu.
Mesmo depois que uma porta foi batida e um grito de desespero foi ouvido lá embaixo, ninguém veio.
A pequena menina chorou chorou chorou até cansar.
Ela ficou sentada no corredor, olhando para o nada, esperando que alguém aparecesse e limpasse suas lágrimas.
Mas ninguém veio.

**

Cidade de Nova York, Nova York. 1993.

O pequeno garoto abriu seus olhos no meio da noite. Tudo era escuro e assustador.
Em sua mente, ele ainda podia ouvir o barulho do freio, do vidro, do choque na sua lateral direita e todo o seu mundo girar e girar num estrondo até tudo acabar no mais completo silêncio.
Já tinha idade o suficiente para saber o que era o medo, a dor, a perda.
Já tinha idade o suficiente para saber o que era a morte.
O pequeno garoto não sabia como parar a tremedeira que assomou seu corpo. Levantou-se da cama num salto e foi em busca do único amor que ainda restava, do único corpo que ainda podia chamar de abrigo.
Andou pelo longo corredor até chegar ao quarto de seu pai e bateu na porta.
“Pai?”, chamou, com a voz trêmula e desesperada. “Pai, eu tive um pesadelo.”
Ele esperou um, dois, três minutos.
Nada.
“Pai?”, tentou mais uma vez, mal conseguindo falar com sua voz embargada. “Por favor, pai, eu preciso de você”.
Mas o menino não obteve qualquer resposta.
Desistindo de encontrar o abraço que tanto precisava, o menino voltou ainda com o corpo trêmulo para o quarto. Acendeu as luzes e se enfiou debaixo do edredom, sem saber como fazer toda a tremedeira passar.
Ele chorava baixinho, chorava para si, sabendo que ninguém viria ao seu resgate, sabendo que na vida real não existiam super-heróis e que ninguém poderia salvá-lo da tragédia de sua própria vida.
De alguma forma, ele tinha que conseguir sozinho.
De alguma forma, ele tinha apenas que respirar e esperar passar.
Porque tinha que passar.
Uma hora tinha que passar.
Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que não iria morrer, pois Deus não faria isso com seu pai. Deus não tiraria outra pessoa de sua vida assim, em tão pouco tempo, não depois de tudo.
(Será?)
O pequeno garoto abraçou o próprio corpo e fez uma prece para o invisível, implorando para continuar vivo, implorando para conseguir controlar esse corpo que ainda lhe parecia tão estranho, para conseguir sobreviver às lembranças que nunca mais iriam sair de sua memória.
Com o passar das horas, acabou adormecendo.
Sonhou que o super-homem entrava pela janela do quarto do seu pai, o segurava no colo, colocava a mão sobre o seu peito e então, magicamente, a figura magra e apática de seu pai se transformava num homem forte e cheio de brilho no olhar outra vez. Ele sorria e abraçava o herói, agradecendo por ter salvado sua vida.
E foi isso. Apenas uma imagem, apenas um sonho que mudaria para sempre não apenas a vida dos dois homens daquela casa, mas também a vida de todos que futuramente iriam cruzar seu caminho.
Quando o pequeno garoto abriu seus olhos no início daquela manhã de outono, ele já sabia exatamente o que precisava fazer.

Instapost 004 – Hi, Barbie!

Fui essa semana ao cinema ver o filme que está dando o que falar e, sinceramente, foi muito melhor do que eu esperava!
Não sou uma fã de comédias, geralmente não é um gênero que me agrada muito, mas fiquei curiosa para ver o que a Greta iria fazer com esse enredo em mãos. E o resultado foi uma sátira inteligentíssima, sensível e nostálgica que retrata perfeitamente o que é ser uma mulher num mundo governado por homens que juram saber o que é melhor para nós (inclusive, acho que toda essa gritaria masculina em torno do filme é tudo macho com o ego ferido que se identificou com a babaquice dos Kens e não conseguiram suportar a mediocridade refletida na tela. Só isso explica).
Margot Robbie parece ter nascido para fazer esse papel, não apenas por sua figura belíssima, muito semelhante às clássicas Barbies, mas pela interpretação segura e na medida correta, conseguindo equilibrar com igual brilhantismo a comédia com o drama. Sinceramente, não consigo imaginar outra atriz na atual geração que pudesse ter feito igual ou melhor do que ela.
Uma das cenas mais bonitas do filme, que vi pouca gente comentando, é quando a Barbie, após uma crise de choro por se encontrar num mundo real que está muito longe de ser perfeito, se depara com uma senhorinha simpática sentada no banco ao seu lado, olha para ela e diz: “você é linda”, ao que a senhora responde: “eu sei”. Essa cena me fez refletir que muitas vezes nós somos capazes de enxergar a beleza em outras pessoas, mas raramente a enxergamos em nós mesmos.
A interpretação de Ryan Gosling como Ken também me pareceu impecável, principalmente porque costumo acompanhar o trabalho do ator e eu adoro como ele consegue fazer personagens completamente diferentes e passar uma verdade ao espectador que poucos atores da geração dele conseguem. Se já era uma admiradora antes desse filme, agora já estou indo providenciar minha carteirinha do fã-clube.
Li algumas críticas sobre o filme onde foi dito que a obra de Greta Gerwig não traz nenhuma novidade ou não aprofunda as questões sobre o patriarcado, mas acho que em nenhum momento a roteirista e diretora teve essa intenção. Nem todo filme vai (ou deve!) revelar todas as respostas às grandes questões da humanidade. Para mim, o que me agrada em uma produção, seja essa de qualquer gênero, é sua capacidade de se conectar com o espectador, de tocar alguém de uma forma que aquela obra nunca mais saia da memória e do coração de quem a viu. E foi exatamente isso que eu senti vendo Barbie, um filme marcante, necessário e que nos deixa com aquele gostinho de quero mais.

Resenha: Select Poems of Emily Dickinson.

“My life closed twice before its close;
It yet remains to see
If immortality unveil
A third event to me,

So huge, so hopless to conceive,
As these that twice befell.
Parting is all we know of heaven,
And all we need of hell.”

“Selected Poems of Emily Dickinson” foi o único livro que consegui ler no mês de junho (a vida anda corrida demais se concentrar parece cada vez mais difícil…) e foi uma leitura ao mesmo tempo enriquecedora e desafiadora.
A poesia de Emily Dickinson se torna ainda mais especial quando você conhece um pouco da história da poetisa e consegue enxergar perfeitamente o caráter dela em sua obra. No geral, eu não gosto de poesia muito arquitetada, como se tivesse sido feita para impressionar mais do que para tocar o leitor. Poesia para mim tem um sentido muito maior, é quase como um caminho de cura quando tudo dói aqui dentro. Poesia não tem que ser pensada, tem que ser sentida profundamente, tem que ser um espelho onde outros vão se olhar e encontrar o próprio reflexo. E é exatamente isso o que sinto quando leio a poesia de Emily, eu consigo ver um pouco de mim nela, eu consigo enxergar um pouco da minha própria vida em suas palavras, mesmo que estejamos separadas por mais de um século de distância.
Foi a primeira vez que me arrisquei em ler Emily Dickinson no idioma original em inglês e essa foi a parte mais desafiadora. Confesso que penei bastante para entender o sentido de alguns poemas em função do inglês antigo e a forma com que Emily emprega as palavras na estrutura dos versos. Creio que consegui compreender 80% dos poemas dessa coletânea, então vou considerar isso uma vitória.
Para aqueles que não conhecem a obra de Emily, recomendo que procurem saber mais sobre sua biografia, pois acho essencial para ter uma visão mais abrangente de sua obra. Para mim, ela é uma das maiores poetisas da história e a forma como descreve o mundo em versos é uma inspiração para mim como escritora.
Ressalto também a edição belíssima da Barnes&Noble que fez um trabalho de encher os olhos na produção do livro e tornou a minha experiência de leitura ainda mais bonita. Um bom livro + um belo trabalho gráfico é o sonho de qualquer leitor e essa edição é extremamente satisfatória, tanto do ponto de vista literário, quanto estético.

Título: Selected Poemas Of Emily Dickinson
Autor: Emily Dickinson
Editora: Barnes&Noble
Número de Páginas: 116

Instapost 003 – Em Branco

Foto autoral ©

Costumo dizer que o pior pavor do escritor é uma página em branco. Por mais que a gente já tenha uma determinada ideia na cabeça, as cenas, os personagens, tudo planejado, quando abrimos um caderno ou algum documento no computador, bate aquele medo de não saber qual a melhor maneira de começar. E às vezes esse medo é tão grande que, mesmo sabendo o que é preciso escrever, a gente fecha tudo e decide que talvez seja melhor começar no dia seguinte, quando as circunstâncias estiverem mais propícias ou estivermos mais inspirados. Só que o dia seguinte vem, a página em branco segue ali, o medo bate de novo e o ciclo se repete. Quando percebemos, passou uma semana e a página segue lá, lisinha, intocada, sem nenhuma história gravada nela, sem nenhum roteiro básico sequer. O quanto acabamos perdendo por medo de perder, não é verdade?
Olhando para uma página em branco essa semana, foi inevitável fazer uma comparação com a vida “real”. Para mim, nossas vidas são como livros onde todos os dias escrevemos a nossa história e essa história será o legado que deixaremos por aqui quando chegar o momento de partirmos. Só que às vezes – mais vezes do que gostaríamos – o caderno número X de nossa trajetória se acaba e então precisamos pegar um novo e recomeçar tudo desde o início. Na maioria das vezes essa não é uma escolha nossa, a gente não queria que aquele caderno acabasse, tudo estava tão perfeito, tão completo, tão bem escrito! Mas a última folha sempre vem e somos obrigados pela vida a começar uma nova história, em um novo caderno, mesmo que não tenhamos ideia de como iniciar a primeira frase. Para os ansiosos como eu, isso é um verdadeiro inferno, olhar para um caderno cheio de folhas em branco, sem saber como preencher aquilo tudo, temendo aonde aquela nova ideia vai dar, como vai ser, e se eu odiar tudo e querer queimar o caderno já na metade, e se eu amar tanto que vou ter que enfrentar o fim algum dia, e se ficar ruim demais e me causar vergonha, e se ficar bom demais e eu precisar deixar ir de novo, e se e se e se?
No meio de tantos questionamentos, em pânico, todos os dias eu fecho o caderno da minha própria vida, achando que é melhor começar de novo no dia seguinte, quando eu estiver menos ansiosa, quando o ambiente estiver mais propício, quando estiver com menos medo, quando tudo estiver perfeito para começar. Só que o ambiente nunca está propício e eu nunca estou menos ansiosa, o que acaba virando um círculo vicioso de frustração e ansiedade, enquanto a página em branco da vida segue lá parada, esperando um ato de coragem para finalmente começar a ser escrita. Foi então que pensei: “Talvez seja só começar. Não precisa ser perfeito, não precisa ser a frase ideal, não precisa me dar orgulho no primeiro parágrafo, só precisa ser alguma coisa. Qualquer coisa. Para uma história começar, é preciso de uma primeira linha. Para a vida andar, é preciso um primeiro passo.”
As melhores histórias que eu criei, aquelas que eu tenho o maior orgulho, comecei sem ter ideia de onde estava indo. Ou talvez fizesse sim alguma ideia, mas com o passar do tempo, tudo acabou mudando e terminou melhor do que eu poderia imaginar. A Need, por exemplo, quando eu criei ela lá em 2000 e bolinha, era pra ser só uma novela de 60 páginas. E acabou virando um romance de mais de 600 páginas, um romance que quando eu tinha 18 anos eu jamais pensei ser capaz de escrever. Eu só comecei a escrever e pronto. E acabou sendo uma das melhores coisas que eu já fiz na vida.
Como sempre, escrevo esses pensamentos aqui para mim, para me lembrar de que às vezes as coisas são mais simples do que minha mente ansiosa e paranóica me faz crer, mas compartilho esses pensamentos doidos também pois, quem sabe, assim como eu, alguém esteja apenas precisando dar um primeiro passo para começar uma nova história.
A folha em branco é muito, muito assustadora, mas sem uma primeira frase, nenhuma história começa. Sem o primeiro passo, nenhuma trajetória recomeça. Então, comecemos.
Quem sabe esta nova história não será a melhor história que escreveremos em nossas vidas?

Laila e a Primavera

É dito que a primavera vem vindo e Laila sai correndo pela grama.
Pequena moça de cabelos cacheados, loiros, até a cintura, Laila sorri para o vento fresco trajando um vestido branco, tão branco quanto os lírios que idolatra.
É dito que a primavera vem vindo e Laila acredita. Não tem noção de muita coisa, mas reconhece quando a brisa toca a sua pele de forma diferente, quando o ar gélido já não lhe oprime os pulmões e quando a esperança torna a brilhar em seus olhos castanhos.
“É primavera!” – grita a menina com a voz jovem de seus dezoito anos de idade. – “É primavera, olhem! A felicidade está voltando!”
Laila é seguida por suas cuidadoras, por moças dez anos mais velhas que ela e que sempre estão ao seu lado. Até hoje não sabe, não entende por que estão ali, por que cismam em lhe seguir, mas não importa, não importa nem um pouco!
“É primavera!”, segue gritando, enquanto rodopia com as borboletas multicoloridas ao seu redor.
É dito que a primavera vem vindo e que ele está voltando!
Laila senta-se sobre a grama, descansa de seus rodopios e olha o delicado relógio em seu pulso. Falta muito para o meio-dia e ela nem sabe ao certo porque está esperando o meio-dia. Ele não disse hora, não precisou muita coisa, só fez promessas, disse que pediria ao seu pai sua mão em casamento, como toda dama de boa família merecia, e Laila acreditava que pontualmente ali ele estaria.
É verdade, ele viria, com seu terno marrom, o cabelo engomado, com um porte de lorde inglês, coluna ereta e voz grave. Laila nunca havia visto um lorde inglês, raramente saía de casa depois de seus quinze anos completos, mas imaginava que ele parecesse um.
É dito que a primavera vem vindo e Laila gargalha de felicidade junto ao canto dos pássaros que vieram cantar com a menina uma canção de alegria e amor. Primavera significa muitas coisas, significa botões dando flor, o fim de um inverno gelado, o renascimento do sol por detrás da colina, o regresso dele, o pedido de casamento e seu final feliz!
É dito que a primavera vem vindo e ali estava ele, finalmente!
“Olhem, olhem, ele voltou!” – berrava a menina aos saltos, apontando para a imagem que via atrás dos portões de ferro que protegiam o terreno da enorme propriedade de seu pai. – “Ali está, não estão vendo? Ali vem ele, meu amor, meu amor voltou!”. Não era ainda meio-dia, pensou Laila, nem sabia que horas eram, não tinha noção das coisas, nunca teve e isso nunca importou.
A felicidade fez flores brotarem em seu peito, flores brancas, lírios, os mais belos lírios que os olhos de Laila haviam visto!
“Vamos, abram os portões! Abram os portões, ele chegou! Ele chegou!”
A menina continuava a rir com os pássaros, a rodopiar com as borboletas e a colher lírios de seu peito. Ele lhe sorria por detrás do portão e acenava, estava ali e era chegado o momento! Pediria a sua mão e Laila, a pequena e sonhadora Laila, teria seu tão esperado final feliz!


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É dito que a primavera vem vindo, mas ela não chega, ela nunca chega para o mundo fora de Laila.
Suas cuidadoras se entreolham, tristes, esperando que o pico de euforia acabe, que um dia esse pesadelo termine, em algum momento dos anos, em algum espaço do tempo, como que por um milagre.
Suas cuidadoras esperam, como sempre esperam todos os dias, há três anos, o despertar do sonho, esperam os lírios destroçados caírem do peito de Laila para então se levantarem, colherem suas pétalas e regressarem com a menina catatônica à casa, num ciclo que não termina e não tem previsão de terminar.
Laila sonha e sorri, canta e se declara para o vento, apenas para o vento, que passa e passa invisível do outro lado do portão.

Pássaro Azul – Ebook Grátis

“Você não tem ideia de quanto tempo te esperei” – Cidade do Vento 

“Pássaro Azul” traz um copilado de contos que tratam da magia do primeiro amor, as dificuldades diárias de um relacionamento, dos laços que unem duas pessoas destinadas a se encontrarem e também sobre os sonhos que nos impulsionam a caminhar até encontrar a nossa própria Cidade do Vento. 

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InstaPost 002 – Tempo

Tenho pensado muito sobre o tempo esses dias. Sobre como o mundo em geral parece estar andando em uma velocidade impossível de alcançar, enquanto eu fico aqui meio que assustada, olhando ao redor e tentando entender onde me encaixo nessa pressa toda. Acho que as redes sociais potencializaram esse passar urgente do tempo, onde todo dia precisamos postar, trazer conteúdo, produzir e criar como se fossemos robôs prontos para executar essa tarefa a qualquer momento e sem ter o direito de errar ou não fazer direito, porque, além da pressa, é preciso ser perfeito também dentro de toda essa velocidade. Não sei pra vocês, mas pra mim isso é impossível.
Durante muito tempo eu fui dessas que fazia tudo na empolgação, jogava qualquer coisa na internet achando que era uma ótima ideia e acabava desistindo e largando o projeto porque enjoava ou ele não tinha a recepção que eu esperava. Agora eu quero ir devagar, eu quero entender qual a minha posição aqui nesse lugar, o que eu de fato quero entregar para as pessoas. Tempo é mesmo dinheiro, mas acima de tudo eu quero produzir algo que tenha significado. Um dia as minhas palavras fizeram a diferença na vida das pessoas e eu entendi, naquele momento, que tinha encontrado minha missão de vida. Quero poder sentir isso de novo.
Costumo brincar que sou como o coelhinho branco de Alice No País das Maravilhas, pois sinto que estou sempre atrasada. Tudo o que a maioria das pessoas fez enquanto jovem eu consegui fazer apenas tarde demais, pois na minha juventude eu estava apenas tentando me manter viva. E ainda que se manter viva seja algo muito importante (rs) eu às vezes penso que isso me atrasou para muitas outras coisas. E assim vejo minha vida até hoje: todos estão correndo, enquanto ainda engatinho. Mas esse é o meu tempo de fazer as coisas. Esse é o meu tempo de olhar ao redor e entender o que eu quero de verdade para mim.

Quando a gente passa dos 30 é preciso calar as vozes das pessoas que dizem a todo o momento o que você precisa fazer, pra onde precisa ir, qual o melhor caminho tomar. Essa resposta só existe dentro da gente mesmo. E ainda que muita gente que conheço parece ter a vida encaminhada depois dos 30 e isso me deixe um pouco apreensiva e culpada por ainda estar tropeçando tanto, sinto que agora é agora de decidir o que quero pra mim. Fazer escolhas baseada na minha intuição e encontrar as respostas em meu próprio silêncio. Afinal, a vida é minha. Só eu posso vivê-la por mim.

Esse texto poderia estar indo para o meu diário pessoal, mas compartilho aqui pois sempre tenho aquele pingo de esperança de que alguém pode ler, se identificar e, quem sabe, ajudar de alguma forma. Sei que é difícil parar hoje em dia para ler um texto desse tamanho, mas eu nunca soube fazer diferente, quem me conhece sabe. E sinceramente, nem quero ser diferente. Então sigo aqui, produzindo conteúdo para vocês a passos de tartaruga e esperando que, por mais que seja aos pouquinhos, bem aos pouquinhos, minha arte importe (hello Peyton Sawyer). Porque é melhor fazer algo bom bem lentamente do que fazer qualquer coisa correndo e se arrepender depois. A Need, por exemplo, levou 10 anos para ficar pronta, mas eu tenho muito, muito orgulho dela. Se tivesse terminado antes, com pressa, ela não seria nem metade do que é.

Para quem tomou um tempo pra ler esse texto aqui, muito obrigada, eu sei o quanto isso é raro nos dias de hoje! Espero que para você, que gosta do que eu escrevo, mesmo que seja esse textão improvisado e melodramático, minhas palavras tenham ressoado de alguma forma. Sigo aqui tentando entregar o meu melhor ainda que bem, beeem devagar… ❤️

InstaPost 001 – Palavras

Foto autoral ©

Tenho medo quando as palavras somem. Quando o papel prontamente fica em branco, sei que algo está errado. Quando as palavras somem eu me perco, finjo uma outra identidade, finjo que estou bem sem isso, que estou bem fingindo ser quem não sou.
Uma vez me disseram que eu tenho mãos de fada, que eu tenho o poder de colocar cores no mundo quando escrevo e revelo todo o universo que há aqui dentro. Quando as palavras somem, tudo fica preto e branco. Então silencio, me retraio, me escondo do mundo, difícil explicar o que está acontecendo quando nem você sabe o que está acontecendo de verdade.
Quando as palavras somem eu desapareço junto com elas. Os amigos perguntam o que aconteceu, os parentes desconfiam que é indolência de alguém que não se importa muito com nada (imagina se eles soubessem que estou assim porque me importo tanto tanto com tudo!) e eu me retraio e escondo mais ainda, porque não há o que explicar, porque não quero explicar. Essa semana me disseram que eu não preciso aguentar todo esse peso sozinha, mas até pra pedir ajuda é necessário usar palavras. E quando elas somem, como a gente pede? Eu não sei. Acho que nunca aprendi direito a fazer isso. Talvez porque eu sei que as palavras sempre voltam, elas sempre aparecem para me resgatar de mim mesma. Nenhum silêncio é eterno, ainda mais os meus silêncios, que fazem muito mais barulho do que as palavras. Então eu só sento, espero, tento me fazer surda aos julgamentos do mundo (mas eles doem, ah, como doem!) e aguardo o retorno do comichão na mão, as vozes (boas) na cabeça, o ritmo da poesia, as falas dos personagens, o enredo de um mundo que só eu sei contar. E quando a folha em branco volta a ser desenhada pelas minhas letras, respiro fundo e sorrio, sabendo que acabou, que posso voltar a caminhar, que posso me olhar no espelho e tornar a me comunicar. Quando as palavras voltam, eu também volto pra mim. E desejo, me ajoelho e faço uma oração, do fundo do meu tão sensível coração, que eu nunca, nunca mais desapareça junto com elas.

Need – Ebook

Precisar. Precisar do quê? Precisar de quem? Precisar dito em inglês se torna mais do que uma necessidade. É uma súplica. É uma palavra que se autoexplica, que soa como um pedido angustiado. Palavra que é quase um pranto, a dor de querer ter e não poder. Need.
Algumas pessoas precisam de muitas coisas para encontrar satisfação. Outras contentam-se com pouco. Mas quem poderá mensurar o que é muito ou o que é pouco? Quem poderá achar uma resposta?

Brandon prometeu dar à Lois tudo o que ela precisasse. Ele só não esperava que a garota fosse pedir a única coisa que ele não poderia entregar: seu coração.

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