Rui Nogar, pseudônimo de Francisco Barreto, nasceu em 1932, em Maputo, e publicou poemas em jornais como “O Brado Africano” e “Itinerário”, sendo Silêncio Escancarado a primeira publicação em livro. Desde 1964, Rui Nogar ela militante da Frelimo e foi preso pela PIDE.
A obra Silêncio Escancarado foi publicada no ano 1982, pelo Instituto Nacional do Livro e do Disco (INLD), e resultou da reunião de diversos poemas do autor, muitos deles escritos no tempo em que esteve preso. Rui Nogar, juntamente com Noêmia de Souza e José Caveirinha, entre outros, foi um dos autores mais ouvidos durante os primeiros e agitados anos após a independência de Moçambique.
Rui Nogar morreu em Lisboa, em 1994.
Principais Obras:
O Silêncio Escancarado (1982)
Opinião Pessoal:
A maioria dos poemas da obra Silêncio Escancarado transmite experiências e ideias do autor, muitas delas relacionadas ao período em que esteve detido, e é por meio das palavras que ele tece críticas em relação ao sistema colonial, à repressão, à exploração dos recursos naturais e dos seres humanos, dentre outros aspectos. Além disso, Rui Nogar afirma a necessidade de lutar em prol da transformação da sociedade, defendendo a ideia de que a solução para os problemas da África estava na própria África, que a mudança do contexto de Moçambique dependia de cada um dos moçambicanos, uma vez que possuíam a capacidade de alimentar a revolução.
O poema “O Retrato” (que pode ser lido abaixo) nos permite fazer uma alusão à luta contra o domínio colonial. Segundo o eu-lírico, os poetas já não são somente poetas, mas, sim, guerrilheiros, cujas emboscadas são os poemas, que são o meio de ataque e também o meio de libertação. Hoje, no tempo do poema, os poetas – que são mais do que poetas – em Moçambique, buscam a liberdade e se libertam nas palavras “percutidas” com as quais tecem seus poemas.
Nota-se o envolvimento ideológico e político de Rui Nogar e também o laço com a literatura, uma vez que manifesta-se na obra a preocupação com o fazer poético. Assim, infere-se que o autor dá voz ao que outrora fora silenciado e escancara os anos em que seu povo viveu sob o domínio colonial por meio de sua arma: a poesia.
RETRATO
mais do que poetas
hoje
somos sim guerrilheiros
com poemas emboscados
por entre a selva de sentimentos
em que nos vamos libertando
em cada palavra percutida
hoje
nós
em moçambique
Bárbara Gusmão
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