Como Vender Sua Arte Sendo Um Introvertido.

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Post traduzido e editado do Huffington Post.

Artistas com frequencia precisam residir em duas personalidades para ter sucesso. Eles precisam se sentir confortáveis para passar um tempo em um espaço pessoal e introspectivo, mas eles também precisam estar dispostos a sair pelo mundo e promover sua arte. Eu estava curiosa sobre como artistas administram esses papéis opostos e as diferentes habilidades que vem junto com eles. Como pode o introvertido – falando cruamente – se tornar confortável sendo o vendedor sem se sentir inautêntico? Eu falei com o artista Michael de Feo para saber seu ponto de vista e seus conselhos.

Eu primeiramente conheci Michael no final de Janeiro de 2015. Foi um desses dias de inverno que não estava nem frio o bastante para neve, nem úmido o bastante para chuva. O céu tinha uma coloração acinzentada. Eu estava molhada e com frio e sem paciência. E então entrei no estúdio de Michael, e o dia mudou instantaneamente. Foi como se a primavera tivesse chegado mais cedo, e havia beleza no mundo mesmo que eu não pudesse enxergá-la lá fora.

Uma coisa que fica clara ao olhar o trabalho de Michael é que ele faz arte para si mesmo em primeiro lugar. “Alguns artistas pensam na sua audiência e até no que se pode vender, o que é algo horrível de fazer.  Eu sinceramente acredito que se eu focar naquilo que eu amo fazer as outras pessoas vão ver o mesmo também.” Ele acredita que uma das coisas mais destrutivas que um artista pode fazer é se preocupar com a reação das pessoas em relação ao seu trabalho enquanto este é feito. “Ser verdadeiro consigo mesmo e ser verdadeiro com o seu coração e não deixar que qualquer outra besteira entre no seu caminho. Vivemos num tempo em que temos tantas distrações e tantas coisas pedindo por nossa atenção, o que pode infelizmente arrastar o nosso trabalho para uma direção ou outra.” Em seu trabalho, Michael se dá um problema para resolver e então vê aonde vai. “Eu às vezes começo criando um problema que precisa ser resolvido. Eu me coloco em uma situação desconfortável e tenho que encontrar o meu próprio caminho na pintura.”

20 anos atrás, Michael começou a sua carreira como artista de rua. Uma das coisas únicas sobre arte das ruas é que o trabalho evolui enquanto a cidade se transforma. Existe um ciclo de vida com esse tipo de arte: é criada e, gradualmente, com o tempo, destruída, o que de uma bonita forma reflete o tempo de vida de uma flor. “Na verdade,” ele me diz, “a parte mais importante para mim é que o trabalho desaparece.”

Para Michael, existe uma diferença entre fazer arte para as ruas e fazer arte para uma galeria. Muitos artistas de rua gostam do nível de anonimato que artistas não têm num ambiente de galeria. Artistas de rua podem criar e compartilhar o seu trabalho com o público sem necessariamente ter o seu nome inserido nele. “O que é difícil é que sou uma pessoa privada. Quando faço arte para as ruas, eu posso colocar meu trabalho lá e sair correndo. Quando você tem uma exposição, o sentimento é excitante, mas também enervante.”

Mas quanto mais exposição Michael consegue, mais confortável ele fica com o cenário artístico. “Anos atrás, bem no comecinho da minha carreira, eu me senti mais confortável em mostrar e vender o meu trabalho fazendo-o com a maior freqüência que conseguia. Quanto mais eu expunha e discutia minha arte com outras pessoas, mais confiante eu ficava. Eu sempre senti orgulho do meu trabalho e isso facilitou as coisas.”

Michael sempre quis compartilhar o seu trabalho com uma audiência maior. “Eu descobri que sou constantemente forçado a aprender novas habilidades e entrar em experiências que me tirem da minha zona de conforto.” Ele acredita que para um artista se sentir confortável para partilhar seu trabalho com outros, eles primeiro precisam aprender a confiar em si mesmos e ter fé em seu próprio trabalho.

Se isso é verdade – e eu realmente acho que é – significa que a força para partilhar o seu trabalho precisa vir de uma fonte interna, não de algo externo. O que quer dizer que qualquer um pode ter coragem de colocar o seu trabalho para o mundo uma vez que eles acreditem em si mesmo e em seu próprio trabalho. E uma vez que a força de uma pessoa é construída e fortificada, significa que rejeição, apesar de dolorosa, não deveria arruinar essa confiança.

Isso não quer dizer que fazer arte fica mais fácil. “Eu sempre estarei lutando – sempre será um desafio,” diz Michael. “Não é uma coisa fácil fazer arte, especialmente uma arte com a qual eu esteja satisfeito. Na maior parte do tempo eu estou insatisfeito com o que faço, o que acredito ser uma coisa boa porque se eu sempre estivesse satisfeito, esta seria uma péssima posição para se estar. Eu não cresceria como artista.”

Para saber mais sobre Michael e seu trabalho, visite seu site e o siga no instagram.

Resenha: Ninguém Escreve Ao Coronel

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Em toda a vida há uma espera. Seja uma pessoa ou um objeto, cada um de nós já perseguiu algo que parecia nunca chegar – e que, talvez, não tenha chegado mesmo.
Este é o tema central do livro “Ninguém Escreve Ao Coronel”, do escritor colombiano e vencedor do Nobel de Literatura do ano de 1982, Gabriel García Márquez.
Um coronel aposentado espera toda sexta-feira, há anos, pelo pagamento da aposentadoria. Mas, ao invés da carta, tudo o que recebe é uma frase irônica e desdenhosa do carteiro, que diz “ninguém escreve ao coronel”, quando chega outra vez de mãos vazias. A história se desenvolve e o leitor vai esperando também a tal carta e, quando ela não chega, vai desanimando junto com o personagem principal. García Márquez consegue criar uma relação profunda entre personagem-leitor, onde acabamos sendo um amigo invisível do coronel quando este vai até o cais esperar o carteiro e sentimos o ímpeto de dar-lhe um tapinha de consolação em suas costas quando a carta não vem.
Contudo, nem só de esperas conta o livro. Aliás, é apenas um tema em evidência que é seguido por duras críticas sociais e políticas, muito bem colocadas através de ironias e cenas até cômicas pelo autor.
García Márquez também aponta sutilmente para o talento que o povo latino-americano possui para rir da própria desgraça. Mesmo à beira da fome e do desespero, as conversas entre o coronel e sua mulher acerca da própria situação são capazes de arrancar algumas risadas do leitor.
Ninguém Escreve Ao Coronel é um livro curto e bastante crítico, além de ser uma ótima oportunidade para quem deseja ter um primeiro contato com o vasto mundo que é a literatura de Gabriel García Márquez.
O fim nos dá aquele gostinho de quero mais, principalmente para aqueles que se apegaram ao Coronel e à sua mulher como eu; mas nos deixa com a reflexão sobre por quê o cenário político e social latino-americano mudou muito pouco desde que o livro foi publicado em 1968  até os dias de hoje.
Infelizmente, sabemos que ainda existem muitos “coronéis” por aí que esperam algo que, no fundo, sabem que nunca vai chegar.

Título: Ninguém Escreve Ao Coronel
Autor: Gabriel García Márquez
Editora: Record
Páginas: 96

#62milliongirls – Deixem As Garotas Aprenderem.

Uma campanha iniciada pela primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, tem ganhado bastante destaque nas últimas semanas. “Let Girls Learn” (deixe as garotas aprenderem, em português) procura colaborar com a educação de meninas do mundo todo, principalmente dos países menos favorecidos, onde em torno de 62 milhões de garotas estão proibidas ou não têm direito à uma educação formal. Garotas que com 12 anos são obrigadas a se casar com homens de 40 anos, meninas de 9 anos que já cuidam da própria casa como adultas e outras que são obrigadas a abandonar a escola tão cedo para fugir dos problemas com as guerras civis de seus respectivos países, existem e o número desta triste estatística só faz aumentar. É uma realidade chocante para nós que vivemos em cidades grandes e em um país “laico” saber que isso está acontecendo, agora, em alguma parte do mundo. Mas está. E é uma situação gravíssima, pois as barreiras de fanáticos religiosos e ditadores são muito difíceis de atravessar. Mas não é impossível.
A campanha da primeira dama procura fornecer, além de recursos financeiros, um avanço maior da tecnologia nesses países. As pessoas podem ajudar com doações, se tornando voluntárias ou repassando esta mensagem, como eu e muitos artistas estão fazendo em suas redes sociais (como Chris Martin na foto abaixo).

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O caminho para o desenvolvimento é a comunicação entre os povos e uma educação igualitária para todos os sexos. O abuso mental e físico dessas meninas precisa parar. E elas precisam saber dos próprios direitos. Elas precisam ter uma educação.
Na escola, eu aprendi a questionar e refletir sobre tudo o que me era passado. 62 milhões de garotas não têm essa chance.

Para conhecer mais sobre a campanha e saber o que mais pode fazer para ajudar, visite o site oficial: http://62milliongirls.com/

Escritor 33 – Manoel De Barros

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Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916  — Campo Grande, 13 de novembro de 2014) foi um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao pós-Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas europeias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros . Sua obra mais conhecida é o “Livro sobre Nada” de 1996.

Fonte: Wikipédia.

Principais Obras:

Gramática Expositiva do Chão (1966)
Livro Sobre Nada (1996)
Ensaios Fotográficos (2000)

Opinião Pessoal: Manoel De Barros transformou para sempre a minha forma de entender a poesia. Quando peguei pela primeira vez um livro seu ainda tinha na mente aquele estigma de que poesia era apenas estrutura e rima, como costumamos a aprender na escola. Ao me encontrar com o “Face Imóvel” pela primeira vez – meu primeiro contato com o poeta – me assustei um pouco com aqueles versos quebrados e com pouca rima. Tive dificuldades para entender a principio tamanha desconstrução, não só da linguagem, como também em relação à ideia pobre que tinha da poesia. Desistiria, talvez, de Manoel, se não tivesse pagado bastante caro no box que contém toda a sua obra. Mas resolvi insistir, principalmente porque – apesar de não entender muita coisa quanto à poesia como técnica – senti uma identificação com o amor pelas coisas simples, pela vida do campo e os animais que o poeta costuma escrever em todos os seus versos. E ainda bem que o fiz! Livro após livro fui entendendo um pouco mais da mente do poeta, de como funcionava a poesia e sobre como ela não possui limites: a poesia vai até onde sua imaginação deseja que ela chegue.
Foi a partir de “Livro Sobre Nada” que caí para sempre no mundo mágico de Manoel. Um mundo onde gravetos valem ouro, uma lagarta é tida como musa inspiradora, e caracóis, lixo, coisas que pessoas jogam fora ou desprezam são semelhantes a um tesouro. Um mundo onde a poesia significa o mesmo que a vida, em que uma não pode viver sem a outra.
Manoel de Barros é simples e marcante. Mesmo aparentando não querer dizer nada, acaba dizendo tudo, com aquele jeitinho quase infantil que só ele sabe imprimir em seus versos. Um professor que sempre nos ensinará muito mesmo não estando mais entre nós. Só os gênios são capazes de fazer isso.

Prosa E Verso: O Fim Do Caderno Literário Do Jornal “O Globo”.

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No último sábado, o caderno Prosa e Verso, do jornal carioca O Globo, foi encerrado de forma repentina e melancólica. O que era antes um espaço para divulgar e falar sobre Literatura, foi incorporado ao Segundo Caderno, uma outra seção do jornal, com uma “honrosa” folha frente e verso. O principal colunista do carinhosamente chamado Prosa, José Castello, anunciou sua despedida em seu blog do mesmo jornal, criticando severamente a decisão do fechamento de um espaço que podia não ser mais o popular – e, sejamos francos, a literatura não é o assunto mais popular em nenhum setor deste país -, mas que tinha seus leitores e aprendizes fiéis (leia o seu desabafo e despedida aqui).
Eu era uma dessas aprendizes. Assinava (e ainda assino, porém não sei por quanto tempo mais) O Globo aos fins de semana apenas para ler o caderno, que sempre me ajudou muito na evolução como escritora e como leitora também. Através do Prosa conheci diversos autores e pensadores, que mudaram a minha forma de escrever e pensar o mundo.
A cada sábado o caderno trazia um novo jeito de ver a política, a filosofia, a religião, o feminismo, os direitos das classes mais pobres e todos os assuntos realmente importantes, através de entrevistas inteligentes, matérias e resenhas muito bem trabalhadas, além de anunciar concursos e cursos no âmbito da psicologia, literatura e filosofia. Porém, a partir de agora, nada mais desse conteúdo riquíssimo voltará a ser o mesmo.
Uma folha frente e verso num dos jornais mais populares do país para falar de literatura de um jeito crítico e como forma de evolução de pensamento não é o bastante. Uma folha frente e verso para formar leitores num país onde se lê em média de 1 a 2 livros por ano, não é o bastante. E o fechamento do caderno só demonstra o quanto os livros e a literatura no Brasil estão cada vez mais sendo desprezados e apequenados. É uma vergonha. Mais uma pra coleção da nossa estimada pátria.
Quem não tem amor ou não entende da importância do assunto pode pensar que num momento de crise como a qual estamos vivendo é muito mais importante falar sobre Dilma, sobre Operação Lava-Jato, Cunha, ou o declínio cada vez mais vertiginoso da economia, mas a literatura e a educação deveriam ter tanta importância quanto. Uma olhada na História mundial basta para saber que a identidade e o valor de uma nação não é feita somente de política e economia, mas sim de sua cultura e de suas criações que devem crescer e propagar-se continuamente. E a nossa anda cada dia mais desprezada.
Que o fechamento do caderno Prosa e Verso seja apenas um incentivo para que nós – leitores, escritores, amantes da literatura etc. – continuemos lutando para que nossa cultura e literatura não se perca. Que mesmo através de simples blogs e sites como este aqui a nossa parte seja feita, por menor que seja, para continuar divulgando e espalhando por todos os cantos, não só a literatura em si, como também o seu enorme valor em um país que ainda não entendeu o livro e o pensamento crítico como forma de evolução primordial para uma sociedade.
Se as letras e o pensamento crítico desaparecerem do nosso cotidiano, o que será de todos nós?
Eu não quero nem imaginar a resposta.

3 Poemas De Mário Quintana, Do Livro “Antologia Poética”.

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O poema

Uma formiguinha atravessa, em diagonal, a página ainda em branco. Mas ele, aquela noite, não escreveu nada. Para quê? Se por ali já haviam passado o frêmito e o mistério da vida…

Uma simples elegia

Caminhozinho por onde eu ia andando
E de repente te sumiste,
– o que seria que te aconteceu?
Eu sei… o tempo… as ervas más… a vida…
Não, não foi a morte que acabou contigo:
Foi a vida.
Ah, nunca a vida fez uma história mais triste
Que a de um caminho que se perdeu…

História quase mágica

O Idiota da Aldeia gostava de coisas brilhantes.
Mal nos respondia: éramos apenas gentes…
Mas uma noite o surpreendi falando longamente a um trinco de porta

Redondo, luzente de luar.
Só vos digo,
Ao que me parece,
Que o brilho do metal ora abrandava, ora fulgia mais,
Como se por instantes ouvisse e depois respondesse.
Só vos digo que, nestes ocultos assuntos, nada se pode dizer…

12 Inspiradores Provérbios De Países Pelo Mundo Que São Uma Verdadeira Lição De Vida!

Provérbios são ditos populares que traduzem a visão sobre a vida de um determinado país ou de uma determinada cultura. São sabidos na ponta da língua de um grupo social e muitos são usados como mantras no dia a dia ao redor do mundo. O interessante é que geralmente ficamos presos às nossas próprias filosofias e nos esquecemos quanto conhecimentos, quantos olhares, quantas formas de se viver e de se enxergar o Universo existem por aí.
Os 12 provérbios abaixo apresentam ensinamentos interessantíssimos de vários países ao redor deste imenso planeta. É pra anotar num caderninho e refletir sobre eles.

1. A vida é uma ponte. Atravesse-a, mas não construa casas sobre ela. (Índia)

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2. Não empurre o rio. Ele irá seguir o seu próprio fluxo. (Polônia)

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3. Não há vergonha em não saber; a vergonha se encontra em não descobrir (Rússia)

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4. A Adversidade traz conhecimento e o conhecimento traz sabedoria. (País de Gales)

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5. A alegria dividida é uma dupla alegria; a dor dividida é metade de uma dor. (Suécia)

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6. A caneta é mais poderosa do que uma espada (Inglaterra)

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7. Quando o sol se levanta, levanta para todos (Cuba)

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8. Uma mente fechada e um livro fechado são o mesmo: um pedaço de madeira

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9. Até mesmo uma pequena estrela brilha no escuro. (Dinamarca)

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10. Uma coisa bela nunca é perfeita (Egito)

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11. Eles tentaram nos enterrar. Eles não sabiam que éramos sementes. (México)

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12. A risada é uma linguagem que todo mundo entende. (Chade)

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Para ver o post original em inglês, clique aqui!

3 Poemas De Manoel De Barros, Do Livro “Ensaios Fotográficos”.

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O Vento.

Queria transformar o vento.
Dar ao vento uma forma concreta e apta a foto.
Eu precisava pelo menos de enxergar uma parte física do vento: uma costela, o olho..
Mas a forma do vento me fugia que nem as formas de uma voz.
Quando se disse que o vento empurrava a canoa do índio para o barranco
Imaginei um vento pintado de urucum a empurrar a canoa do índio para o barranco.
Mas essa imagem me pareceu imprecisa ainda.
Estava quase a desistir quando me lembrei do menino montado no cavalo do vento – que lera em Shakespeare.
Imaginei as crinas soltas do vento a disparar pelos prados e com o menino.
Fotografei aquele vento de crinas soltas.

O Punhal

Eu vi uma cigarra atravessada pelo sol – como se um punhal atravessasse o corpo.
Um menino foi, chegou perto da cigarra, e disse que ela nem gemia.
Verifiquei com os meus olhos que o punhal estava atolado no corpo da cigarra
E que ela nem gemia!
Fotografei essa metáfora.
Ao fundo da foto aparece o punhal em brasa.

A Doença

Nunca morei longe do meu país.
Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança minha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha o dedão do pé do fim do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e os seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios
de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente portava no olho
E que meu pai chamava exílio.

O Cachorro E O Prego.

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Uma pequena história retirada do livro “A Arte de Pedir”, de Amanda Palmer.

“Um camponês está sentado na varanda de casa, à toa.
Um amigo aparece para cumprimentá-lo e ouve um som medonho, um ganido agudo e prolongado, vindo de dentro de casa.

– Que som pavoroso é esse? – pergunta o amigo.
– É o meu cachorro. – responde o camponês. – Está sentado num prego.
– Mas por que ele não levanta e sai dali? – quer saber o amigo.

O camponês pensa e então diz:

– Ainda não dói o suficiente.”

3 Poemas de Paulo Leminski, Do Livro “Toda Poesia”.

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O livro “Toda Poesia”, do escritor curitibano Paulo Leminski, ficou durante várias semanas no topo da lista de best-sellers no Brasil. Algo raro para a nossa poesia, que geralmente não é lida pela grande massa. Mas a mensagem direta e as palavras ágeis de Leminski permitem que o leitor imediatamente se identifique com o seu modo de ver o mundo.
É definitivamente um dos meus livros de poemas favoritos.
Aqui separo 3  deles. Não digo que esses são os melhores poemas do livro, porque quando se trata de Leminski é impossível falar de “alguns melhores”. Mas escolhi esses três, pois foram o que mais falaram a mim como leitora, como pessoa, e como escritora também.
São eles:

1.    Razão de Ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter porquê?

2.    olinda wischral

pessoas deviam poder evaporar
quando quisessem
não deixar por aí
lembranças pedaços carcaças
gotas de sangue caveiras esqueletos
e esses apertos no coração
que não me deixam mentir

3. 

por mais que eu ande
nada em mim imagina
o que é que menina
tão pequena esta fazendo
numa cidade tão grande